Escuta das adolescências nas escolas
MEC lança relatório sobre escuta das adolescências nas escolas
Pesquisa realizada em 21 mil escolas em todo o país traz dados inéditos sobre as percepções dos estudantes em relação à estrutura atual de ensino e sobre práticas que podem fortalecer a vida escolar

O Ministério da Educação lançou nesta terça-feira (9/9), em Brasília, o Relatório Nacional da Semana da Escuta das Adolescências nas Escolas. O documento reúne dados de 2,3 milhões de estudantes do 6º ao 9º anos do ensino fundamental sobre suas percepções com relação à aprendizagem, ao clima, à convivência, à inovação e à participação no ambiente escolar, além da estrutura atual de ensino e das práticas que podem fortalecer a conexão da escola com a vida cotidiana, a valorização das relações humanas e a inspiração para o futuro da educação.
A pesquisa revela que os adolescentes brasileiros veem a escola como acolhedora, mas só 31% dos mais velhos sentem liberdade para se expressar. Outros dados significativos mostram que 67% dos estudantes de 6º e 7º anos afirmam que a escola apoia seu desenvolvimento intelectual e pessoal, enquanto 28% consideram a contribuição parcial e 4% discordam. Entre os alunos de 8º e 9º anos, a percepção é menos positiva, com 59% concordando, 33% avaliando como “mais ou menos” e 8% discordando.
No quesito “acolhimento e pertencimento”, 66% dos mais jovens sentem-se acolhidos pela escola, contra 27% que veem a experiência como parcial e 7% que discordam. Já entre os mais velhos, apenas 54% sentem-se amparados; 33% consideram “mais ou menos” e 13% discordam. Essa percepção é reforçada por dados adicionais: 75% dos estudantes de 6º e 7º anos confiam em, pelo menos, um adulto na escola, mas apenas 58% sentem-se verdadeiramente acolhidos por esses adultos. Entre os de 8º e 9º anos, o percentual de acolhimento cai para 45%.
Outras dimensões apontam ainda que 48% dos jovens priorizam disciplinas tradicionais e 31% valorizam o bem-estar. Os dados revelam que 48% dos estudantes mais novos e 38% dos mais velhos consideram que as disciplinas tradicionais ajudariam em seu desenvolvimento para a vida. O estudo evidencia, também, as diferenças significativas entre estudantes em relação às formas de aprender que mais favorecem o seu desenvolvimento. A interação além da escola é a mais valorizada, sobretudo, entre os mais velhos: 45% dos alunos de 8º e 9º anos destacaram visitas, passeios e trabalhos externos, contra 39% dos de 6º e 7º anos; já a interação com a comunidade aparece com 13% em ambos os grupos. As trocas e os debates se sobressaem entre os mais novos, com 35% optando por trabalhos em grupo e 30% por rodas de conversa, enquanto, nos anos finais, esses índices caem para 30% e 20%, respectivamente.
O que a escola representa para estudantes(foto: Divulgação/Itaú Social)
A iniciativa do Ministério da Educação (MEC), em parceria com Itaú Social, Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e com a União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), busca entender, sob a perspectiva dos estudantes entre o 6° e o 9° anos do ensino fundamental, o que seria a escola ideal para os jovens. Segundo Patrícia Mota Guedes, superintendente do Itaú Social, a pesquisa revela que “adolescentes querem uma escola acolhedora e envolvente, que verdadeiramente reconheça toda a potência desta fase do desenvolvimento humano.”, afirma Mota.
Telespectadores da apresentação em Brasília(foto: Divulgação/Maysa Correa)
A Escuta
Para realizar a pesquisa, foram utilizadas ferramentas adequadas a crianças da faixa etária correspondente à idade escolar durante os anos finais do ensino fundamental, a exemplo de questionários, que continham 13 perguntas, e dinâmicas coletivas. Esses instrumentos abordaram aspectos como perfil dos estudantes, a compreensão deles a respeito da escola atual, conteúdos para desenvolvimento pessoal, atividades essenciais para o futuro, formas de aprendizagem, convivência, participação e atividades extracurriculares.
A pesquisa contou com o engajamento de mais de 2,3 milhões de estudantes ao redor do país, o que representa 24% dos quase 10 milhões que estão matriculados nessa fase final do ensino básico e público, segundo o censo escolar de 2023. Os resultados enfatizam que as múltiplas experiências vividas na adolescência no Brasil não se enquadram em um único modelo de escola, portanto, a política do Programa Escola das Adolescências, iniciativa do MEC, visa criar condições para aumentar o pertencimento de adolescentes nas práticas escolares, ao dar visibilidade para as expectativas e percepções de estudantes em relação à escola.
No período de escuta, 4,4 mil dos cerca de 5,6 mil municípios do país tiveram adesão à iniciativa, o que demonstra o caráter democrático dessa mobilização, que tem potencial de promover avanços na redução das desigualdades intraescolares. A maior proporção de participação na escuta ocorreu na região Nordeste, com 30% de engajamento entre estudantes. Em seguida, aparecem as regiões Centro-Oeste, Sul e Norte, com taxas de participações de 28%, 26% e 24%, respectivamente.
Distribuição da participação de estudantes na Semana da Escuta das Adolescências
nas Escolas por região do Brasil(foto: Divulgação Itaú Social)
Durante a transmissão do Ministério da Educação realizada nesta terça-feira (09/09), no Seminário Nacional dos Anos Finais, João Robson (17), estudante do Espírito Santo, revela um pouco acerca de sua trajetória nessa fase escolar. Ele pontua a dificuldade nos anos de ensino fundamental, no qual, aos 14 anos, estava iniciando o 6° ano, atrasado em relação aos colegas. Segundo o estudante: “Não é nossa escolha ficar atrasado na escola”. Com isso, ele conclui a importância de programas que elevem a autoestima dos jovens no período estudantil e escutem as verdadeiras necessidades de cada um.
Divulgação da pesquisa
Ao longo da transmissão, também falou a representante adjunta da UNICEF no Brasil, Layla Saad, que afirmou o compromisso da instituição em “promover trajetórias felizes e engajadoras nos anos finais do ensino fundamental e garantir o direito à aprendizagem.”
Para alcançar o expressivo número de respostas de estudantes e adesão das instituições na iniciativa, o conjunto responsável pela semana da escuta utilizou diversas estratégias de comunicação e divulgação do projeto. Foram realizadas, por exemplo, oficinas de escuta com estudantes e docentes dos anos finais do ensino fundamental. O que foi essencial para assegurar que as atividades, a linguagem e as perguntas propostas fossem pertinentes e atendessem às diversas necessidades dos adolescentes.
Também foram criados materiais informativos sobre a mobilização, que apresentaram o cronograma e detalharam as estratégias adotadas. Entre os conteúdos, peças para redes sociais, cartazes e apresentações de slides cumpriram o objetivo de circulação do programa, além de guias de mobilização específicos para redes e para escolas, juntamente com materiais de apoio para auxiliar as equipes no processo de escuta.
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