Especialistas defendem ChatGPT
ChatGPT deve ser tratado como aliado nas escolas e universidades, defendem especialistas
Pesquisadores entendem que a tecnologia não pode ser considerada uma inimiga em sala de aula
01/02/2023 - VINICIUS COIMBRA
Tecnologia de inteligência artificial interage por conversas escritas com usuário.
Ascannio / stock.adobe.com
O ChatGPT, uma nova tecnologia de inteligência artificial (IA) que ganhou destaque nas últimas semanas, é uma ferramenta capaz de elaborar textos e imagens em poucos segundos por qualquer pessoa, de forma gratuita. A facilidade na criação de conteúdos tem preocupado escolas e universidades. Em algumas instituições de ensino dos Estados Unidos e Europa, o acesso ao site chegou a ser bloqueado devido ao temor de estudantes copiarem o material produzido pela inteligência artificial para utilizá-lo em provas ou trabalhos.
Especialistas ouvidos por GZH contrapõem a ideia de proibir o uso em sala de aula: é preciso usá-la de forma correta, como uma ferramenta do processo educacional. O temor de escolas ocorre pelo modo como a plataforma funciona. Um usuário do ChatGPT, pode pedir resposta para as mais variadas questões.
Se uma pessoa, por exemplo, questionar ao robô por que o céu é azul, recebe uma resposta como: “A luz do sol é composta de diferentes cores, e o ar dispersa essas cores diferentes, permitindo que apenas o azul se reflita de volta para nós.” Se a pergunta é repetida, uma versão diferente é recebiba pelo: “O céu é azul porque a luz do Sol é absorvida pelo ar e, quando ela é refletida de volta, as partes vermelhas e alaranjadas são absorvidas mais facilmente do que o azul. Assim, somente o azul é refletido para nós, dando a cor característica azul-claro”.
O ChatGPT também tem outras ferramentas: tradução de idiomas, gerador de nome de produto, criação de imagens (é possível pedir para que o aplicativo crie uma imagem de um astronauta em cima de um cavalo, por exemplo).
A tecnologia é capaz de elencar pontos mais importantes para o estudo de um determinado assunto, escrever textos sobre um tópico em formato de redação ou mesmo um poema inspirado no estilo de algum autor conhecido. Esses são alguns dos exemplos de aplicações que podem ser feitas por qualquer pessoa que dedique alguns minutos para compreender o funcionamento do site, inclusive estudantes.
O que dizem especialistas sobre o ChatGPT
Eduardo Müller, coordenador do curso de Jogos Digitais da Universidade Feevale, diz que a integração inteligência artificial e sala de aula não pode ser desfeita: isso já tem ocorrido com as ferramentas disponíveis hoje, que são similares ao ChatGPT, como é exemplo do próprio Google.
— Temos que aceitar que é a realidade e entender que isso vai mudar completamente os parâmetros criativos, para fazer um texto, uma imagem, qualquer coisa — resume.
O professor cita um episódio que envolveu o uso de inteligência artificial na elaboração de um trabalho. Um de seus alunos apresentou o material para avaliação de uma disciplina, mas, por conhecer o estudante, desconfiou da autoria.
Na impossibilidade de provar o uso da inteligência artificial, Müller mudou a estratégia: pediu para o estudante explicar o processo que levou ao resultado do trabalho. O aluno, por fim, admitiu ter usado inteligência artificial na tarefa. Portanto, no lugar de entender a tecnologia como uma inimiga, o professor diz optar por tratá-la como um aliado do processo criativo.
— Proibir seria mais fácil, mas isso não adianta: o aluno usaria, faria de uma forma que eu não enxergasse. Não vou proibir meu aluno de usar uma IA se ele utilizá-la como uma ferramenta, algo que construa alternativas, faça enxergar mais longe, encontrar soluções e referências que ele não encontraria tão fácil na internet — opina.
Por isso, ao professor, será cada vez mais indispensável conhecer o aluno: como ele escreve, pensa, se desenvolve nas atividades da disciplina, acrescenta o docente da Feevale:
— É fácil perceber que o texto é de inteligência artificial se o professor conhecer o aluno. Por isso, é importante avaliar o processo, o esforço, e não os resultados.
Elena Maria Mallmann, professora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), pesquisa sobre tecnologias na educação. Ela se posiciona contrária à restrição no acesso ao ChatGPT feita nas escolas dos Estados Unidos e Europa: diz entender que afastar alunos de meios que podem contribuir com o ensino é contraditório ao momento observado no mundo.
— Estamos vivendo tempos em que os currículos e as políticas públicas educacionais incentivam a formação para o pensamento computacional, a robótica educacional. Portanto, proibir qualquer ferramenta está na contramão de uma educação e acesso ao conhecimento como direito universal de todos — pontua.
Como funciona o ChatGPT?
As respostas do ChatGPT são captadas de banco de dados próprio, compiladas e entregues ao usuário. OpenAI, empresa que desenvolveu a tecnologia, adverte que o software "ocasionalmente gerar informações incorretas ou enganosas" por conta de o histórico de dados da plataforma estar limitado a 2021. Somado a isso, não é indicada a fonte da informação e é difícil detectar se é ou não uma cópia caso o conteúdo seja utilizado por um aluno em um trabalho na escola ou universidade.
Ainda que possa ser aplicado para esse fim, segundo a professora da UFSM, a existência da tecnologia não deve motivar a escola e os responsáveis à adoção de mecanismos de vigilância, como os softwares de identificação de plágio, por exemplo:
— Ao invés disso, (é necessário) preocupar-se com uma educação voltada para a cultura digital enquanto formação cidadã, de acordo com os princípios da liberdade e da democracia para que a criatividade seja a base do desenvolvimento de soluções e não a cópia delas.
Para Eduardo Pellanda, professor e pesquisador da Escola de Comunicação, Artes e Design da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), o debate da proibição do ChatGTP é limitado por não considerar os benefícios que a tecnologia pode contribuir no aprendizado do aluno:
— Há várias questões interessantes de IA nas escolas e universidades, com possibilidade de novas perguntas, entender se as respostas têm sentido, colocar elementos e discussões. Há tantos usos diferentes, que são estimulantes para a intelectualidade, do que simplesmente uma discussão de plágio, cópia.
E como, na prática, alunos e professores poderiam utilizar o ChatGTP? Pellanda diz que o conteúdo de sala de aula pode receber apoio da capacidade de agregar dados da plataforma, algo que um docente, por melhor profissional que seja, é incapaz de fazer frente ao poder computacional do meio digital.
— Em uma aula sobre um fato específico, podemos perguntar (ao site) se existiram outros parecidos na História. A ferramenta tem um banco de dados enorme e uma relação interessante entre fatos e conexões semânticas, que podem ajudar a expandir conteúdos que não são óbvios em sala de aula — exemplifica Pellanda.
Passo a passo para conversar com o ChatGPT
- Acesse o site chat.openai.com/chat
- Toque em sign up para criar uma conta
- Clique em Create an OpenAI account
- Informe e-mail, senha e confirme a criação da conta
- Toque em Try it no topo da tela
- Inicie a conversa com o ChatGPT pedindo-o para conversar em português
- Durante o período de teste, pode haver instabilidade devido ao número alto de acessos
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Perguntamos ao ChatGPT: como a inteligência artificial muda o ensino?
Tecnologia reconhece que sua introdução pode aumentar casos de plágio, mas destaca que prevenção da prática depende da educação dos estudantes sobre o tema
Inteligência artificial desenvolvida pela empresa OpenAI foi lançada em novembro de 2022.
Lionel BONAVENTURE / AFP
Lançado em novembro, o ChatGPT, uma inteligência artificial de geração de texto (GPT-3) em uma interface de uso simples (um chat, como o próprio nome diz), desenvolvida pela empresa OpenAI, deu o que falar e mostrou seu poder: "foi aprovada" no exame final do Master in Business Administration (MBA) da Universidade de Wharton, no Exame de Ordem (MBE) e também no Exame de Licenciamento Médico dos Estados Unidos (USMLE).
Na área educação, nos Estados Unidos, chegou no "meio" do semestre letivo e já causou um certo frenesi, com instituições banindo o uso dele. No Brasil, chegou quando o semestre se encerrava, mas, agora, professores já estudam a plataforma e, com base nisso, pensam os planos de ensino e as avaliações com a presença desse "novo aluno".
O Estadão resolveu questionar o que o próprio ChatGPT "pensa" sobre seus impactos na educação. Ele reconhece que sua introdução pode aumentar casos de plágio, mas destaca que "a prevenção da prática 'depende da educação dos estudantes sobre a importância da integridade acadêmica e da autoria original", e frisa que embora prime pela objetividade, suas respostas podem refletir "vieses" e "desigualdades" das fontes do banco de dados dele.
A interface web ainda está completamente em inglês, mas o robozinho entende e dá respostas em um português bastante razoável, fora alguns deslizes ortográficos.
Confira as perguntas feitas ao ChatGPT:
Quais são os benefícios e os riscos do ChatGPT na educação?
Benefícios:
1. Acessibilidade: permite que alunos tenham acesso a informações e recursos educacionais 24/7.
2. Personalização: pode adaptar suas respostas às necessidades individuais dos estudantes.
3. Conveniência: os estudantes podem fazer perguntas e receber respostas rapidamente, sem ter que esperar por um professor ou tutor.
Riscos:
1. Precisão: dependendo do treinamento, o modelo pode não fornecer informações precisas ou atualizadas.
2. Limitado à programação: não pode considerar nuances ou contextos complexos.
3. Falta de ensino humano: não pode fornecer feedback individualizado, orientação ou incentivo.
O ChatGPT pode aumentar o plágio em trabalhos escolares?
Sim, há um risco de aumento do plágio se os estudantes usarem o ChatGPT para copiar respostas ou informações diretamente em seus trabalhos escolares. É importante que os educadores ensinem aos estudantes a importância da citação e da integridade acadêmica, independentemente do uso da tecnologia.
Como identificar um plágio utilizando o ChatGPT?
1. Verificação de fontes: comparar as respostas do ChatGPT com fontes confiáveis para verificar sua precisão e originalidade.
2. Análise de escrita: comparar a escrita dos estudantes com as respostas do ChatGPT para identificar semelhanças significativas.
3. Ferramentas anti-plágio: usar ferramentas de software de anti-plágio para verificar se as respostas dos estudantes correspondem a respostas conhecidas do ChatGPT.
Observe que essas medidas são meramente preventivas e que a prevenção eficaz do plágio ainda depende da educação dos estudantes sobre a importância da integridade acadêmica e da autoria original.
Como usar o ChatGPT como um aliado no processo de ensino-aprendizagem?
1. Como recurso complementar: usar o ChatGPT como uma fonte adicional de informações e recursos para complementar o ensino dos professores.
2. Para estimular a pesquisa: incentivar os estudantes a formular perguntas e explorar diferentes perspectivas com o ChatGPT.
3. Para melhorar a compreensão: usar o ChatGPT como uma ferramenta para clarificar dúvidas e conceitos, ajudando os estudantes a compreender melhor o material.
4. Como ferramenta de autoavaliação: os estudantes podem testar seu conhecimento perguntando ao ChatGPT questões relacionadas ao material que estão estudando.
Observe que o uso do ChatGPT como aliado no processo de ensino-aprendizagem deve ser supervisionado e orientado por educadores, que devem certificar-se de que o modelo está fornecendo informações precisas e apropriadas.Por que os alunos não devem recorrer ao plágio em seus trabalhos acadêmicos?
O plágio é inapropriado porque:
1. Viola a integridade acadêmica: os trabalhos escolares devem refletir o conhecimento e a compreensão dos alunos, não de outras fontes.
2. Rouba a autoria: o plágio impede que os alunos recebam o crédito pelo trabalho que realizaram.
3. Não incentiva o aprendizado: o plágio não incentiva o desenvolvimento de habilidades críticas e independentes de pensamento.
4. Pode resultar em sanções: dependendo da escola ou da instituição, o plágio pode resultar em sanções graves, como a reprovação em uma atividade ou curso.
Em vez de recorrer ao plágio, os alunos devem se esforçar para desenvolver habilidades de pesquisa e escrita, citar fontes apropriadamente e produzir trabalhos escolares originais e significativos.
Como referenciar conteúdos fornecidos pelo ChatGPT em meus trabalhos acadêmicos?
Recomenda-se citar as informações fornecidas pelo ChatGPT como uma fonte de informação da Internet. Algumas sugestões incluem:
1. Autor: OpenAI
2. Título do Site: OpenAI
3. Data de acesso: data em que você obteve as informações do ChatGPT
4. URL: https://openai.com/
Exemplo de formatação em estilo MLA:
OpenAI. OpenAI, https://openai.com/. Acessado em data de acesso.
Cada escola ou instituição pode ter suas próprias exigências de formatação, então é importante verificar as diretrizes específicas da sua instituição antes de citar fontes da Internet.
O ChatGPT contem viés humano em suas respostas?
Sim, o ChatGPT foi treinado com base em grandes quantidades de texto da Internet e outras fontes, e, como resultado, pode refletir vieses e desigualdades presentes nessas fontes. Por exemplo, pode haver uma representação inadequada de grupos minoritários ou desigualdades de gênero em suas respostas. É importante levar isso em consideração e verificar com fontes confiáveis para garantir a precisão e a objetividade das informações fornecidas pelo ChatGPT. Além disso, a OpenAI está trabalhando para minimizar os vieses em suas tecnologias de IA.
Como identificar que uma resposta do ChatGPT tem alguma imprecisão?
Algumas dicas para identificar a precisão de uma resposta do ChatGPT incluem:
1. Verificar fontes confiáveis: consulte fontes de informação confiáveis, como livros, artigos de periódicos e sites governamentais, para verificar a precisão das informações fornecidas pelo ChatGPT.
2. Considerar o contexto: o ChatGPT pode ter dificuldade em compreender o contexto preciso de uma pergunta e pode fornecer informações imprecisas ou desatualizadas.
3. Analisar a linguagem: as respostas do ChatGPT são geradas automaticamente e podem conter erros de gramática, ortografia e sintaxe.
4. Questionar afirmações extremas ou surpreendentes: as respostas do ChatGPT podem incluir afirmações extremas ou surpreendentes que requerem verificação adicional.
Em geral, é importante ter um senso crítico e verificar as informações fornecidas pelo ChatGPT antes de usá-las em trabalhos escolares ou em outras situações importantes.
O ChatGPT pode substituir um professor no futuro?
Não. O ChatGPT é apenas uma ferramenta tecnológica e não pode substituir completamente a interação humana, a empatia e a habilidade de ensinar de um professor. Ele pode ser uma ajuda complementar, mas não pode substituir a importância do ensino humano.