Fake news supera informação real
Fake news supera informação real, diz pesquisa
Acirramento de disputa entre Lula e Bolsonaro faz com que posts com notícias falsas superem alcance de textos informativos
Os conteúdos com maior circulação nas redes sociais confirmam a escalada na guerra travada no segundo turno das eleições presidenciais, ao ponto de fake news terem ultrapassado o alcance de postagens sem desinformação.
Levantamento elaborado pelo jornal O Globo mostra que, no grupo dos 10 conteúdos mais virais nas redes sociais Facebook e Instagram, seis são mentiras que chegaram a 9,8 milhões de interações, contra 7,6 milhões dos quatro posts relacionados à eleição.
Em uma análise de 80 publicações, a capacidade de disseminação das notícias falsas também mostra sua força: posts com mentiras chegaram a registrar 868 mil interações, contra 965 mil de informações verdadeiras.
Embora se diga que as fake news tem origem nos dois lados da disputa, os principais disseminadores de notícias falsas são os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), uma vez que 14 publicações no ranking tem como origem o perfil do presidente.
https://jornalggn.com.br/noticia/fake-news-supera-informacao-real-diz-pesquisa/
Eleições sofrem o impacto da realidade paralela criada pelo bolsonarismo
Professor e pesquisador João Cezar de Castro Rocha fala sobre as mazelas da extrema-direita
O ensaísta e professor titular de literatura comparada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), João Cezar de Castro Rocha, explica o esquema de engajamento da desinformação política adotado pela extrema-direita e seus impactos no pleito presidencial no Brasil.
“A finalidade da eterna guerra cultural da extrema-direita é aumentar a presença nas redes sociais, com conteúdo abjeto, absurdo, pois essa presença pode se materializar em votos, capturando o campo dos indecisos. Quando isso acontece de forma vertiginosa? Na véspera das eleições“, explicou o autor de “Guerra cultural e retórica do ódio” (Editora Caminhos), à reportagem do Estado de Minas.
Segundo o professor, o “Brasil é um laboratório mundial de criação metódica de realidade paralela” que assiste à consolidação das imposições da extrema-direita brasileira para a instauração de um “Estado totalitário e fundamentalista, do ponto de vista religioso”.
“O que a extrema-direita tem feito no plano da política é a despolitização do debate público para avançar o projeto político totalitário – de eliminação completa do adversário ou do outro que resiste – em algumas circunstâncias, mesmo teocrático”, explicou.
O professor ressaltou que os conservadores nacionais compartilham das mesmas estratégias de seus aliados da extrema-direita no mundo: “ uso das plataformas de mídias digitais para a produção da dissonância cognitiva coletiva, um Brasil paralelo, que fratura a espinha dorsal dos valores verdadeiramente cristãos e democráticos” escreveu a jornalista Bertha Maakaroun.
“A extrema-direita está à frente em relação ao campo progressista no que se refere à compreensão profunda da forma própria do mecanismo do universo digital“, pontuou Rocha.
A partir das ferramentas digitais a extrema-direita cria uma dissonância cognitiva coletiva, “uma temível máquina eleitoral pela transferência para a política da alta intensidade de engajamento das redes sociais. É um engajamento em torno da desinformação e de teorias conspiratórias“.
“A inédita criação da dissonância cognitiva coletiva deliberada, por meio de um conteúdo coordenado, estrategicamente produzido para desinformar e fazer circular teorias conspiratórias e fake news. O universo digital e as redes sociais possibilitaram isso e não é casual o fato de que o principal instrumento de divulgação da extrema-direita bolsonarista sejam as redes sociais e plataformas digitais”, destacou o professor.
“Hoje, no Brasil, contamos com dezenas de milhões de brasileiros e brasileiras que estão vivendo na ilusão, estão realmente convencidos de todo conteúdo dessa usina de desinformação”, completou.