Fascismo turbinado pelas tecnologias

Fascismo turbinado pelas tecnologias

“Fascismo de hoje é turbinado pelas tecnologias digitais”, diz Marcia Tiburi

Em entrevista ao “Fórum Onze e Meia”, a professora de Filosofia, que atualmente mora na França, falou sobre a censura imposta a ela pelo Instagram: “Não seremos banidos do mundo digital”

Por Lucas Vasques   4 jan 2022 



Foto: Reprodução/YouTube Fórum
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A filósofa e professora Marcia Tiburi, atualmente morando na França, declarou que estuda o fascismo há anos e que, inclusive, seus últimos quatro livros abordam o tema e seus desdobramentos no Brasil. Em entrevista ao Fórum Onze e Meia, nesta terça-feira (4), ela afirmou que o “fascismo hoje é turbinado pelas tecnologias digitais”.

Marcia analisou a censura imposta a ela pelo Instagram, quando daria início, no primeiro dia do ano, ao ciclo de debates, cujo tema seria justamente Jair Bolsonaro e o fascismo.

“Não recebi nenhuma explicação do Instagram. Imagino que talvez seja porque, durante o mês de dezembro, passei a denunciar e bloquear muitos ataques pesados, ameaças violentas e ofensas que tenho recebido nas redes sociais. Na hora em que começaria a live surgiu uma mensagem dizendo que eu teria ‘ferido as regras da comunidade’ e que estaria proibida de fazer lives”, explicou.

Depois do que ela chamou de “castigo escolar”, Marcia gravou uma série de vídeos, tentando resumir os conteúdos que seriam apresentados na live, como “ato de resistência, pois tentaram calar minha boca”.

Ela acredita que os ataques e ameaças são apenas o começo do que ela e outros intelectuais podem sofrer em 2022, por ser um ano eleitoral.

“Esses sujeitos precisam de alvos. Por isso, professores de filosofia que se expõem nesse nível sofrem esse tipo de assédio. Acredito que mais professores deveriam deixar de se esconder, inclusive de extrema esquerda, que são canalhas covardes e intelectuais ornamentais. Esses não recebem a pancadaria que recebo”, afirmou.

Marcia apontou, ainda, que é preciso ocupar o espaço público para responder à guerra cultural promovida pelo fascismo. “O Bolsonaro e o Olavo de Carvalho são bons nisso. Eles ficaram ‘bostificando’ a mentalidade de muitos brasileiros”.

“Não pretendo me candidatar”, afirma a filósofa

Em relação à política partidária, a filósofa declarou que não pretende se candidatar a nenhum cargo público. Ela disputou o governo do Rio de Janeiro em 2018.

“Naquele momento, o virtual candidato do PT era o ex-ministro Celso Amorim, mas ele acabou desistindo. Eu só fui candidata porque o PSOL não quis o apoio do PT”, lembrou.

Ela classificou como ótima a candidatura do deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ) ao governo do Rio, nas eleições de 2022. “Agora que ele saiu do PSOL, que é um partido pequeno e que usou táticas bizarras em 2018. A política partidária é bizarra e assustadora”, acrescentou Marcia.

“Bolsonaro não existiria sem o Jean Wyllys”, destaca Marcia

Ela ressaltou, também, que outro motivo que a leva não se candidatar é o fato de que os personagens ligados à extrema direita se aproveitam da exposição de pessoas de esquerda.

“Esses canalhas vivem tentando me usar. O Bolsonaro não existiria sem o Jean Wyllys”, exemplificou. “Tenho mais vocação para ajudar, principalmente apoiando mulheres feministas, do que para me candidatar”, resumiu.

Esses ataques e ameaças fizeram com que muitos professores deixassem o Brasil. Marcia, autoexilada na França, onde dá aulas, relembrou os casos do ex-deputado Jean Wyllys e da antropóloga Debora Diniz, que hoje moram no exterior.

“Fomos banidos fisicamente do país. Esses ataques nas redes querem nosso banimento digital. Por isso, é cada vez mais importante nossa luta na internet, até mais importante do que nas trincheiras físicas. Não seremos banidos do mundo digital”, completou Marcia.

Assista à entrevista completa:

Instagram suspende uso do perfil da filósofa Marcia Tiburi, crítica do governo Bolsonaro

No último sábado, de acordo com a acadêmica, uma live da qual participaria já havia sido censurada pela rede. Ela conta que os ataques de seguidores fanáticos do presidente têm aumentado nas últimas semanas

Por Henrique Rodrigues  4 jan 2022 

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A filósofa Marcia Tiburi, uma das mais notórias críticas do governo de Jair Bolsonaro no meio acadêmico brasileiro, informou na tarde desta terça-feira (4) que seu perfil no Instagram foi totalmente bloqueado, sem que qualquer atividade que viole as regras da plataforma tenha sido cometida. A professora diz ainda que uma live da qual participaria no último sábado (1°), cujo tema era “Precisamos falar sobre Bolsonaro”, teria sido censurada pela rede social antes mesmo de começar.

“Antes desse bloqueio, sábado fui fazer uma live em um ciclo que se chama “Precisamos falar sobre Bolsonaro” e fui impedida de fazer. Alegaram que eu havia ferido as regras da comunidade. Venho sofrendo muitos ataques por lá, tenho denunciado muito e bloqueado muita gente. As mesmas hordas que me atacam devem estar me denunciando também. Esses exércitos de milícias midiáticas não param, são muitos robôs e eles agem sem parar, e eu critico muito o governo, todo mundo sabe disso”, explicou a oposicionista.

Após esse impedimento, Marcia conta que passou por outros problemas com a rede social antes de ser impedida de publicar em seu perfil e de ter todas as ações limitadas pela gestão da plataforma.

“Fui postar um vídeo de um filme brasileiro que estreou na França antes de estrear no Brasil, escrevi e na hora de postar apareceu essa mensagem (Tente mais tarde. Nós limitamos certas atividades para proteger a comunidade)”, relatou.

Ainda de acordo com a professora universitária, na tarde desta terça-feira (4), ao tentar realizar qualquer tipo de ação em sua conta oficial, percebeu que estava absolutamente impedida pelos administradores do serviço digital.

“O que incomoda são os dois pesos e duas medidas dessas redes, que fazem propaganda da democracia, mas na verdade, apoiam a extrema-direita, que transmite conteúdo violento e não é cerceada. Mas há também as regras para o Brasil que não são as mesmas para o resto do mundo. Então, há quem desconfie de que haja um “estado cloacal” em funcionamento nessas plataformas”, acusa a filósofa gaúcha.

O que diz o Instagram

A reportagem da Fórum entrou em contato com a assessoria de imprensa do Instagram e assim que a resposta sobre o caso alegado por Marcia Tiburi chegar à redação será incluído na matéria.

 

https://revistaforum.com.br/brasil/instagram-suspende-uso-do-perfil-marcia-tiburi-bolsonaro/?fbclid=IwAR2hP07sTNQIFQgJg3E_WF7dbB_8gEHUEOe7nOt7U9wNMJ1UpGNpWWwSwiw# 




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