Formação de gestores escolares

Formação de gestores escolares

A importância da formação de gestores escolares no Brasil

Será preciso que o ecossistema de instituições formadoras aprimore seus programas em conteúdo e formato, olhando para as demandas, necessidades e lacunas dos profissionais da educação. Aí está uma importante estratégia para a melhoria da gestão no contexto do próximo Plano Nacional de Educação

17/02/2025

 

Opiniao 1702 -  (crédito: Caio Gomez)
Opiniao 1702 - (crédito: Caio Gomez)

 

Caio Callegari, Mestre em administração pública e governo pela Fundação Getulio Vargas e coordenador de Inovação em Políticas do Instituto Unibanco.

Imagine que você é uma professora com 47 anos de idade, mais próxima da aposentadoria do que de seu início de carreira. De um dia para o outro, ao passar a uma posição de liderança onde você atua, 70% da sua jornada de trabalho muda em termos do que é preciso fazer cotidianamente.  

Mas você não teve oportunidade de formação, ao longo da carreira, para a nova função em que atuará, a menos que tenha pago — e caro — uma especialização em uma instituição privada; sua formação de graduação também não lhe preparou para isso. O que fazer, por onde começar seu novo trabalho? 

Esse é o retrato médio dos diretores de escolas públicas no Brasil, de acordo com estudo recentemente lançado pelo Instituto Unibanco. Essa é sem dúvida uma das profissões mais importantes para o desenvolvimento da sociedade brasileira, dado o alto impacto de um bom diretor na trajetória escolar e aprendizagem das crianças e jovens. Contudo, menos de 20% desses profissionais têm formação em gestão escolar com carga horária minimamente adequada. Na maior parte do país, gestores escolares assumem seus papéis sem apoio à altura e sem formação apropriada.

De acordo com as pesquisas internacionais conduzidas pela Wallace Foundation e pelo Learning Policy Institute, a preparação de diretores em programas de desenvolvimento profissional de alta qualidade está associada a práticas de gestão mais eficazes, a uma retenção mais forte dos professores nas escolas e a melhores resultados de aprendizagem dos estudantes. Mas o que é alta qualidade na formação?

Em pesquisa de base para a organização dos cursos autoinstrucionais "Gestão Escolar na Prática", a Fundação Getulio Vargas e o Instituto Unibanco identificaram que as formações atualmente disponíveis para lideranças escolares são vistas como pontuais e desconectadas da realidade, demasiadamente teóricas e sem considerar as demandas efetivas dos gestores. O que os gestores indicam como "formações de qualidade" é o exato oposto:  oportunidades de formação reflexiva focada na prática, com desenvolvimento das competências mais desafiadoras, como a gestão dos recursos financeiros na escola e o engajamento da comunidade escolar, ou para lidar com temas emergentes como saúde mental e convivência nas escolas. 

Não apenas o conteúdo é pouco atrativo aos gestores escolares atualmente, mas o formato também: faltam estudos de caso e exemplos práticos de aplicação no dia a dia, e são escassas as formações gratuitas que sejam aderentes (em carga horária e modelo de acesso) à longa e dinâmica jornada de trabalho, que varia em termos de intensidade ao longo do dia e do ano letivo. Essa percepção de baixa aderência ao contexto prático dos diretores é corroborada pelos estudos dos pesquisadores Nigel Brooke e Wagner Rezende, que identificam características que levam a baixas taxas de conclusão nas formações de gestores escolares.

Estamos falando, portanto, de um problema de qualidade da oferta formativa para um público com atribuições de liderança tão amplas quanto desafiadoras: administrativo-financeiras, político-institucionais, pessoal-relacionais e pedagógicas. Será preciso que o ecossistema de instituições formadoras aprimore seus programas em conteúdo e formato, olhando para as demandas, necessidades e lacunas dos profissionais da educação. Aí está uma importante estratégia para a melhoria da gestão no contexto do próximo Plano Nacional de Educação

É verdade que esse cenário vem mudando desde 2021. Com a entrada em cena do Novo Fundeb, aprovado pelo Congresso Nacional, cada vez mais redes públicas de ensino têm passado os gestores escolares por critérios técnicos e menos por critérios exclusivamente políticos — e passaram a incluir formações como condição para acesso à função. 

Nesse sentido, as inovações em curso no setor público, no setor privado e no terceiro setor, devem ser tomadas como objeto de avaliação, estudo e inspiração ao longo dos próximos anos, para alcançarmos um patamar mais elevado de desenvolvimento profissional dos gestores escolares.

FONTE:

https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao 




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