Fraude da Internet patrocinada
A fraude da Internet patrocinada: governo paga R$ 121 por usuário em plano de um aplicativo só
“Funcionou precariamente nos primeiros dias, depois piorou a ponto de não conseguir passar um e-mail para a escola, vindo a desaparecer totalmente. Tanto professores como alunos estão com a mesma dificuldade, tendo que se socorrer de uma conexão particular”.
Ana Hahn, da EEEF Vila Cruzeiro do Sul, de Porto Alegre, até tentou utilizar a Internet propagandeada pelo governo, mas após semanas enfrentando diversos problemas, desistiu e contratou outro serviço para realizar suas atividades.
O governo Leite (PSDB) prometeu acesso à Internet ainda em maio. Demorou mais de um trimestre para liberar o sinal, não forneceu qualquer auxílio neste meio tempo e, agora, paga caro com dinheiro do contribuinte por um serviço que só acessa a plataforma Google Classroom, quando funciona.
O sinal foi liberado no dia 21 de agosto, através de contrato milionário com as operadoras TIM, Claro, Vivo e Oi. Um mês depois, somente 8% dos estudantes e educadores(as) da rede utilizaram o serviço. Trata-se de um ótimo negócio para as operadoras – e para a Google – e péssimo para a comunidade escolar.
Com 70 mil conexões e um investimento de R$ 8,5 milhões, é o mesmo que pagar R$ 121 por usuário em um plano de internet extremamente limitado, que só acessa um aplicativo. Para fins comparativos, há planos de R$ 99 comercializados pelas mesmas operadoras que oferecerem conexão por fibra, ilimitada e com velocidade de 200 Mega.
Para além da má aplicação de dinheiro público, a limitação do sinal também ignora a autonomia docente para organizar as aulas, que não incluem a utilização de recursos como vídeos no Youtube e redes sociais.
Deise Belmonte de Lima, mãe de um aluno do 8° ano da EEEF Onofre Pires, de Porto Alegre, conta que seu filho tentou utilizar o pacote de dados oferecido pelo governo, mas até o momento não conseguiu realizar as atividades publicadas pelos professores.
“Não abre a página para meus filhos fazerem as atividades. Moramos de aluguel, então fica difícil ter dinheiro para acessar a Internet e os dados móveis não duram o suficiente para fazer todas as atividades”.
Com 56 meses de salários atrasados e seis anos de congelamento, as dificuldades financeiras também são a norma para educadores(as). A professora Ana, que apresentamos no início da matéria, conta:
“Está bem difícil essa situação toda, estamos gastando mais e estão exigindo o que muitas vezes não temos condições de adquirir com o salário que ganhamos e da forma como chega até nós”.
Para a diretora da escola Onofre Pires, Bruna Ruiz dos Santos, as adversidades não se resumem à conexão ou às restrições de acesso. O cadastro para poder receber a internet já dificulta o alcance.
“Os problemas vêm desde o cadastro no app Escola RS Estudante. Para acessar, tem que utilizar o login cidadão, mas tem pais que quando vão cadastrar aparece que já são cadastrados e aí não sabem a senha. Não querem trocar porque não sabem no que vai interferir, e a gente também não sabe, nós não recebemos formação sobre isso”.
Além de desconhecer a realidade e as necessidades da comunidade escolar, o governo Leite (PSDB) faz a escolha deliberada de não oferecer condições adequadas de trabalho remoto, pressionando estudantes e professores(as) a voltarem às aulas presenciais.
Imagem destaque: Álvaro Henrique / Agência Brasil