Fundeb na reta final
Fundeb na reta final
Luiz Araújo
Semana que vem começaremos a viver momentos definidores sobre o que vai ser a política de fundos nas próximas décadas. O Fundeb termina sua validade no dia 31 de dezembro deste ano e o Congresso vai correr contra o tempo, precisando finalizar as votações de preferência no primeiro semestre, posto que este ano temos eleições municipais e o quórum fica prejudicado até final de outubro.
A deputada Professora Dorinha apresentou finalmente seu relatório. Como toda lei, o Fundeb sofre pressão de lados contraditórios e que apontam caminhos distintos para tão importante política pública. Algumas características precisam ser enumeradas para melhor compreensão do processo que assistiremos nos próximos meses.
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Pela primeira vez o Executivo tem tido baixo protagonismo. Não veio dele nenhuma proposta e as intervenções tem sido mais pela negativa (buscando evitar despesas) do que de coordenação da complexa relação federativa envolvida. Isso é fruto do governo que foi eleito e do ministro que foi nomeado.
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Esse fenômeno se soma a outro, este mais perigoso. O protagonismo das políticas sociais migrou para o Ministério da economia. De matriz ultraliberal, o ministro Paulo Guedes se sustenta e dá sustentação ao governo, radicalizando cada vez mais o desmonte do Estado Brasileiro. Se dependesse dele não haveria mais vinculação constitucional para saúde e educação, muito menos um fundo que é uma subvinculação. Exemplo disso é a PEC 188 de 2019, redigida pelo ministério e assim por duas dezenas de senadores, que propõe desfazer os avanços que tivemos em termos federativos (mesmo que insuficientes e frágeis).
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Ganha peso nesse cenário o presidente da Câmara Rodrigo Maia, dirigindo uma bancada denominada de Centrão. Essa bancada, excluída do núcleo do governo, vivendo de negociações a cada votação, apesar de deixar o governo com uma instabilidade e conflito com o legislativo em vários momentos, tem alta concordância com a pauta econômica do governo. Ou seja, temos uma maioria no parlamento alinhada com o sistema financeiro, mas que de vez em quando faz algum contraponto com o governo.
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A relatora tentou no seu texto entrar para a história como alguém que foi sensível aos clamores populares e fez um relatório que absorveu parte das reivindicações dos setores progressistas. Mas, na sua última versão, iniciou um já esperado (pelo menos para quem conhece como funciona o parlamento) recuo de posições importantes, especialmente a que mais incomoda o ministério da economia: quanto de novos recursos serão comprometidos com o processo.
Do relatório podemos dizer que o debate legislativo vai se concentrar nos seguintes pontos:
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De quanto será a complementação da União? A relatora recuou da proposta de elevação de 10% para 40%, apresentou 20% parcelado. O governo aceita 15%. Ao recuar o texto perde a oportunidade de ser mais impactando na redução das desigualdades educacionais, fenômeno que todos dizem querer enfrentar (menos o Paulo Guedes, que como bom neoliberal acredita que desigualdade é boa).
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De onde sairá o dinheiro para cobrir a elevação, mesmo que parcelada, da complementação? Aqui tem um recuo muito perigoso da relatora. Ao permitir que se use os recursos do salário-educação, mesmo dizendo que os programas federais estariam garantidos, o texto diminui o impacto financeiro usando recursos já existentes e que são fundamentais para dar acesso a bens que milhões de brasileiros não terão de forma igual caso dependam apenas dos seus municípios.
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Colocou um bode na sala. Havia sido costurado um desenho de distribuição dos recursos que aumentada a abrangência de municípios atingidos pela complementação, alcançando estados não cobertos anteriormente pelo Fundeb atual e fazendo justiça com municípios pobres e localizados em estados menos pobres. A relatora aceitou a pressão do lobby empresarial (Todos pela Educação) e destinou parte dos novos recursos para estados e municípios que “alcançarem evolução significativa dos indicadores de atendimento e melhoria da aprendizagem com redução das desigualdades”. A maioria dos estudos mostra que esse formato aumentará a desigualdade.
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Constitucionalizou o Custo Aluno-Qualidade, de forma explícita, o que representa um avanço. Mas, infelizmente, o CAQi não se tornou a matriz distributiva do novo fundo, agora permanente. Continuaremos financiando não pelo que precisamos e sim pelo que temos disponível no momento.
Devemos estar atentos e mobilizados. Precisamos pressionar por mais recursos, melhor distribuídos e que cheguem mais rapidamente. E para não permitir que programas importantes para nossas crianças e jovens sejam desmontados.
Postado por Luiz Araújo
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