Geração Z trabalha presencial
Cerca de 50% dos jovens da geração Z no Brasil trabalham na modalidade presencial, diz estudo
Quanto aos “millennials”, aqueles que nasceram entre 1983 e 1994, 59% estão em trabalhos presenciais. Levantamento da consultoria Deloitte indica quais são as preocupações desses profissionais e o que eles buscam no mercado de trabalho
O trabalho presencial segue sendo a modalidade predominante entre os jovens no Brasil. Apesar de terem aumentado as oportunidades nos formatos remoto e híbrido, os profissionais nessas vagas ainda são minoria. É o que mostra um levantamento global da consultoria Deloitte que traz um panorama sobre escolhas dos jovens no âmbito profissional, englobando a geração Z – os que nasceram entre 1995 e 2004 – e os chamados millennials – aqueles que nasceram entre 1983 e 1994.
A 13ª edição do relatório Gen Z and Millennial Survey 2024 é resultado de entrevistas com 14.468 pessoas da geração Z e 8.373 millennials em todo o mundo. No Brasil, foram ouvidas 800 pessoas, sendo 500 da geração Z. A pesquisa foi conduzida de novembro de 2023 a março de 2024. Modalidade de trabalho, decisões de carreira e trajetória acadêmica, comportamento de consumo e saúde mental são os principais tópicos abordados.
Conforme o estudo, somente 15% dos jovens da geração Z e 11% dos millennials estão em trabalhos remotos. Em relação ao híbrido, estão nessa modalidade 35% dos entrevistados da geração Z e 30% dos millennials. O presencial continua sendo o formato mais forte, com 51% dos jovens da geração Z e 59% dos millennials em vagas presenciais.
De acordo com a consultora de carreira do PUCRS Carreiras e doutora em Psicologia, Thaline Moreira, isso pode ter relação com o período de isolamento social na pandemia, especialmente para a geração Z.
— Muitos jovens passaram boa parte dos últimos anos em atividades remotas, o que pode gerar ansiedade social. Para estes, o home office é um ambiente mais seguro, e pode haver dificuldade no retorno ao presencial. Já os que fizeram todo o Ensino Médio nesse período podem estar sentindo falta do presencial, de ter contato com pessoas. Tem esses dois lados — explica a especialista, que é vice-presidente da Associação Brasileira de Orientação Profissional e de Carreira.
Quanto aos millennials, nos últimos anos, muitos encontraram no trabalho remoto ou híbrido uma forma de conciliar a atividade profissional com tarefas domésticas. Mas a tendência é que a busca por trabalho presencial volte a crescer, segundo Thaline.
O que atrai os jovens no mercado
Estudos têm apontado as preocupações da geração Z em relação à questões políticas e climáticas. O relatório da Deloitte demonstra que esses jovens exercem pressão nas organizações a respeito da proteção do meio ambiente: 60% dos profissionais jovens brasileiros dizem pressionar as empresas para que adotem medidas para contribuir no combate aos efeitos das mudanças climáticas.
Entre as principais preocupações apontadas estão mudanças climáticas, custo de vida, discriminação, desemprego, saúde mental e segurança pessoal por conta da violência. Para a maior parte dos respondentes da geração Z (32%), os efeitos da crise climática representam o principal receio. Para o líder de People & Purpose da Deloitte, Marcos Olliver, isso demonstra uma mudança cultural e exige transformações nas empresas:
— As companhias que não levarem a sério a sustentabilidade ambiental correm o risco de perder tanto talentos quanto clientes. Ao adotar práticas sustentáveis, as organizações contribuem para a mitigação das mudanças climáticas e fortalecem sua reputação e posição no mercado.
Saúde mental também figura como uma das aflições dos trabalhadores. Cerca de 48% dos entrevistados da geração Z e 40% dos millennials responderam que se sentem estressados ou ansiosos o tempo inteiro, ou boa parte do tempo. Segundo Thaline, esses jovens já vêm provocando mudanças no mercado de trabalho, reforçando a importância de haver suporte psicológico e emocional nas organizações.
Para o grupo, o trabalho precisa ter propósito para que haja bem-estar e satisfação no exercício profissional. No total, 91% dos respondentes da geração Z e 92% dos millennials acreditam que é fundamental que a carreira tenha um propósito.
Dificuldade de acesso ao ensino
O acesso ao Ensino Superior ainda é um desafio para jovens brasileiros. Dos respondentes, 32% da geração Z e 23% da "geração do milênio" afirmam que não fizeram curso Superior. Para boa parte, a dificuldade financeira é a principal barreira.
Circunstâncias pessoas ou familiares, a busca por carreiras que não exigem graduação, planos de empreender e o desejo de mais flexibilidade para aprender são outros fatores citados.
FONTE:
Choque geracional: entenda o impacto do ingresso da geração Z no mercado de trabalho
Empresas precisam lidar com a convivência entre colaboradores de diferentes idades e experiências
Com o ingresso da geração Z no mercado de trabalho, as empresas precisam lidar com uma série de novos paradigmas e processos. Esse grupo de jovens, que representa boa parte dos usuários do TikTok, está trazendo novos questionamentos sobre o mundo do trabalho nas redes sociais, gerando debates entre recrutadores e especialistas de Recursos Humanos (RH).
No início do ano, viralizou uma “trend” inédita: jovens começaram a gravar o momento da demissão, levantando reflexões sobre os motivos dos desligamentos. O movimento começou nos Estados Unidos, e alguns usuários brasileiros da rede fizeram o mesmo. Outra questão que tem gerado discussão é a participação dos pais em processos seletivos dos filhos.
Estudo mostrou que, nos Estados Unidos, jovens têm levado seus familiares para participar das seleções. O levantamento da Intelligent, publicado em dezembro, apontou que um em cada cinco empregadores consultados alegou ter um jovem recém-formado que trouxe um dos pais para uma entrevista de emprego. Ou seja, cerca de 20% dos 800 entrevistados.
Embora esses movimentos não sejam generalizados, eles estão alimentando os debates sobre choque geracional nas empresas. Conforme o professor de Gestão Estratégica de Pessoas, da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da FGV, Marco Túlio Zanini, temos gerações muito diferentes convivendo ao mesmo tempo no ambiente de trabalho, pela primeira vez no Brasil e no mundo.
— Temos uma diferença geracional muito grande. Essas diferenças estão muito ligadas às experiências que essas gerações tiveram, ou seja, às transformações econômicas e culturais. Temos a geração baby boomer, acima dos 55 anos, a geração X, acima dos 45, a geração Y, representada por aqueles que têm cerca de 30 anos ou mais (millennials), e a geração Z. Isso traz uma série de impactos no mercado de trabalho — explica.
Para a gerente de Pessoas e Cultura do Centro de Integração Empresa - Escola (CIEE-RS), Andréa Armellini, com a entrada dessa geração no mercado, as empresas precisam de adaptações para garantir a boa convivência entre os colaboradores e, ao mesmo tempo, não perder talentos:
— Antes, existiam gerações convivendo, mas não havia tanta diferença entre as vivências de uma geração para outra. O que realmente muda são as transformações aceleradas. Por isso, as empresas precisam se abrir à inclusão desses jovens. É desafiador para as lideranças lidar com tantas gerações ao mesmo tempo. Mas é preciso ter capacidade de comunicação, entender as expectativas de cada grupo e trazer clareza sobre o que empresa a espera, isso ajuda muito.
Mudanças comportamentais
Para a estudante Luiza Razzera, 19 anos, que faz Psicologia na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), autonomia é algo importante em termos de carreira, inclusive nos processos seletivos. A jovem de Farroupilha está no segundo semestre do curso de graduação e já está em busca de um estágio. Ela conta que quer um trabalho presencial, justamente pela possibilidade de conviver com pessoas diferentes.
— Acho que a gente tem que ser independente, buscar trabalho é uma etapa fundamental da vida adulta. Temos que amadurecer e superar esses desafios, por mais que seja difícil. Eu prefiro trabalho presencial, é o que estou buscando no momento. Acho que faz bem sair de casa, conviver com outras pessoas, isso faz parte da experiência profissional — afirma. Ela teve a primeira experiência de trabalho aos 17 anos, atendendo em uma loja, e conta que isso a motivou a querer trabalhar com pessoas.
Já para Eduarda Velloso, 19 anos, que estuda Biomedicina na UniRitter e ainda não teve experiência profissional, é desafiador fazer entrevistas de emprego. A jovem está começando a buscar oportunidades no mercado, e está no primeiro semestre do curso.
Saí do Ensino Médio sem me sentir preparada para enfrentar processos seletivos, a gente fica nervoso por saber que estamos sendo avaliados.
EDUARDA VELLOSO - Estudante de Biomedicina
— É tudo muito novo para mim, eu nunca tive contato com o mercado de trabalho. Então, fico nervosa, muitas vezes a gente fica perdido. Eu costumo olhar vídeos no YouTube com dicas para saber o que explorar nas entrevistas. Saí do Ensino Médio sem me sentir preparada para enfrentar processos seletivos, a gente fica nervoso por saber que estamos sendo avaliados. Mas, com o tempo, vou aprendendo — conta.
Para Luana Rambo, orientadora na Unisinos Carreiras, percebe-se que os jovens de hoje são mais seletivos em relação às oportunidades que buscam, e mais antenados às informações e características das vagas.
— Vemos que os estudantes estão mais criteriosos em relação às vagas. Se antes uma oportunidade de estágio era algo extremamente disputado, hoje temos mais candidaturas em vagas com características específicas, e outras que não têm mais tanta procura como já teve. Por exemplo, a remuneração é importante, mas eles também valorizam o formato de trabalho, priorizando vagas mais flexíveis, que permitem trabalho híbrido. Mas é claro que cada nicho tem suas particularidades — diz a psicóloga.
Orientações para os jovens e as empresas
Segundo Luana, é normal que os mais jovens fiquem nervosos com esse momento de interação, ainda mais quando a entrevista é presencial, por conta das relações, que muitas vezes são mediadas por telas. Nesse sentido, a pandemia também pode ter trazido impactos.
— Esses jovens viveram a pandemia em uma fase de transição, da saída da adolescência para a vida adulta. Então, não tiveram o mesmo percurso que as demais gerações. Muitos terminaram o Ensino Médio a distância, por exemplo. Somado a isso, temos as características dessa geração, que já não costuma usar o telefone, fazer ligações, por exemplo. O atendimento cara a cara é diferente — explica.
Esses jovens viveram a pandemia em uma fase de transição, da saída da adolescência para a vida adulta. Então, não tiveram o mesmo percurso que as demais gerações. Muitos terminaram o Ensino Médio a distância, por exemplo. Somado a isso, temos as características dessa geração.
LUANA RAMBO- Psicóloga
No entanto, não é recomendável que os jovens levem familiares para participar de processos seletivos, por exemplo. Conforme Andrea Armellini, várias famílias costumam ligar para o CIEE-RS, querendo acompanhar o andamento dos processos seletivos, auxiliar os filhos e acompanhá-los nas entrevistas. Boa parte do público atendido pela instituição faz parte da geração Z. Segundo a gerente, o ideal é que os jovens possam ter autonomia nas experiências:
— Quando eles chegam para uma entrevista, aquele momento também é educativo, é um momento de desenvolvimento. Vai chegar um momento em que os pais não vão estar junto. Quanto antes os jovens puderem se expor a situações que talvez sejam desconfortáveis, isso faz com que eles desenvolvam mais habilidades, até chegar o momento de irem na empresa para a entrevista final. Buscamos sempre explicar isso aos pais também — afirma.
Por outro lado, os especialistas destacam que as empresas precisam entender as necessidades dos jovens e fazer um esforço para integrar essa geração à força de trabalho.
— Temos que ter cuidado para não satirizar e nem menosprezar os jovens. Não há falta de experiência, mas eles viveram experiências diferentes. Essas gerações estão trazendo competências que vêm para agregar, que serão importantes para o futuro, competências que muitas pessoas de gerações anteriores não têm. As organizações precisam ter esse cuidado para melhorar as relações, até para reter esse novo perfil de pessoas — explica o professor Marco Túlio Zanini.
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