Guerra híbrida contra as escolas

Guerra híbrida contra as escolas

Uma guerra híbrida contra as escolas 

Por Rodrigo Perla Martins / Publicado em 19 de maio de 2023

 

Guerra Híbrida: “A partir de redes sociais sem controle, o ambiente virtual se transforma em um território violento para indivíduos em formação e terreno fértil para todas as formas de violências reais ou imaginárias, com reflexos diretos nas escolas e na comunidade escolar”
Foto: Mikhail Nilov/Pexels

 

O Brasil vive um momento de extrema violência contra a escola. Para além dos problemas dessa natureza no ambiente escolar, está em curso uma Guerra Híbrida.

O conceito de Guerra Híbrida compreende a disseminação de informações falsas em múltiplas frentes, incluindo a mídia, a política, a economia, a cultura – que tem como objetivo influenciar e manipular a opinião pública por meio desse processo de propaganda falsa que gera uma insegurança simbólica e física.

E essa guerra está em franco processo contra a Escola.

Esse conflito de informações visa a promover a dúvida e a discórdia, levando até mesmo a um processo de crises artificiais no ambiente escolar. Esse é um dos principais problemas reais e políticos que afetam as escolas na atualidade e que levam a uma crise de segurança e de violência.

Importante registrar que essa guerra é contra a Escola como um todo, não diferenciando se é particular ou pública e independente do segmento escolar.

No caso específico, os exemplos de ameaças e mesmo de violência real acontecem principalmente nos segmentos de sexto ano do ensino fundamental ao ensino médio da educação básica.

E isso tem gerado uma gigantesca ameaça à paz que deve reinar no ambiente escolar e em toda comunidade escolar.

A partir do crescimento e abrangências das plataformas sociais, coletivos extremistas e negacionistas impulsionam a violência e ataques contra pessoas e espaços escolares em determinadas épocas do ano.

Em 2023, de maneira muito simbólica, voltaram a ocorrer casos isolados de extrema gravidade.

Mesmo assim, os boatos de um massivo ataque no dia 20 de abril mobilizaram autoridades de segurança do país inteiro por mais segurança nas escolas. De maneira objetiva, as fake news são determinantes para esse processo de insegurança no ambiente escolar.

A partir de redes sociais sem controle, o ambiente virtual se transforma em um território violento para indivíduos em formação e terreno fértil para todas as formas de violências reais ou imaginárias, com reflexos diretos nas escolas e na comunidade escolar como um todo.

As diferenças tendem a diminuir nesse ambiente pela sua ideia republicana de acolher a todos. O culto à ciência e à vida prevalecem sobre a escuridão da ignorância e da morte.

Militarização

Desde seus primórdios, a escola prima por ser um ambiente acolhedor, de paz, de alteridade, de construção mútua do ser humano que vive em sociedade de maneira ordeira e pacífica.

No entanto, ao longo de quatro anos do último governo, em que o culto à morte e à violência e a apologia às armas prevaleceram sobre a vida e a ciência, o mundo da educação sofreu os piores ataques, possivelmente devido ao seu papel civilizatório.

Um exemplo concreto foi o lobby pela militarização de escolas. Concebida nesses últimos anos como a resolução de todos problemas de segurança no ambiente escolar, as escolas cívico-militares não passam de um projeto do governo passado que não entrega o que promete e não institui o que se imagina.

Ocorreu ao longo desse processo uma confusão deliberada entre esse conceito de escola militarizada e os tradicionais colégios militares vinculados ao Ministério da Defesa que existem em quase todas capitais do país e se destacam pela qualidade da educação ofertada, professores bem pagos e estrutura de excelência. Precisamos registar isso escola cívico-militar e colégio militar são instituições totalmente diferentes.

Para além da propalada escola cívico-militar imposta pelo ex-presidente Bolsonaro, também houve um combate sem trégua ao princípio da autonomia da escola e do professor no ambiente educacional.

Essa desconstrução pode ser sentida nos dias atuais, em que a violência em todas as suas formas ronda o ambiente escolar.

De alguma forma, esse tipo de ameaça às escolas – que em muitos casos se concretizaram em atos de extrema violência – reforça também o lobby difuso e até mesmo com conivência de organizações civis que reclamam pela adoção do ensino doméstico, ou seja, da supressão da escola como presencial como se conhece.

Trata-se do conceito de homeschooling, que não leva em conta a complexidade do processo de ensino-aprendizagem nem a extrema desigualdade social existente entre escolas públicas e privadas no Brasil.

Com tudo isso, a Guerra Híbrida empreendida contra a Escola não pode vencer a vida, o conhecimento e a convivência pacífica do espaço educacional.

A crise de segurança não pode se instalar dentro das escolas de maneira permanente e contínua.

Parece que um bom antídoto à desinformação, a mentira e a violência propaladas por grupos políticos interessados em desestabilização de ambientes relativamente consolidados e com grande serviço prestado à sociedade é manter o cotidiano e a normalidade do ambiente escolar.

Por último, cabe registrar que um engajamento da comunidade escolar como um todo para combater qualquer tipo de violência nas e contra as escolas ainda se faz necessário, especialmente, em virtude dos interesses colocados em disputa no espaço escolar.

Rodrigo Perla Martins é Doutor em História, professor da Universidade Feevale e diretor do Sinpro/RS.

 

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