Há um historicídio em curso
Há um ‘historicídio’ em curso no Brasil
VÁRIOS AUTORES (nomes ao final do texto)
4 de setembro de 2022
É comum que os professores de história ouçam em conversas casuais como: “Eu gosto muito de história!”, “Os jovens precisam conhecer mais a nossa história!” ou “O brasileiro não tem memória!”… Quem nunca?
Já outros manifestam perplexidade ao lerem por aí que o nazismo era de esquerda ou que a ditadura militar brasileira foi uma “revolução democrática”(!). Eles, os perplexos, ainda lembrarão a importância de saber história “para que os erros não se repitam”. A verdade é que certas pessoas odeiam a história e seu ensino. Fosse diferente, não estaríamos assistindo inertes ao “historicídio”, com o perdão do neologismo, que está em curso em São Paulo e no Brasil.
Recentemente esta Folha notei que “Aulas de história e geografia em SP poderão ter professor sem formação na área” (22/6). Nós, professores, pais estudantes da rede estadual, fomos surpreendidos com essa resolução da Secretaria da Educação do Estado Paulo que resolvemos a falta de professores, diversas vezes denunciadas pela Rede Escola Pública e Universidade (Repu), com mais precarização .
Com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) homologada em 2018 no ensino médio, a história perdeu seu lugar como disciplina escolar no currículo, que ocupava desde a primeira metade do século 19!
A disciplina foi diluída em uma miscelânea “4 em 1” (história, geografia, sociologia e filosofia), que é de tudo um pouco, e de um pouco, nada. Como todas essas questões disciplinares não suas especificidades e um único professor híbrido resolve a questão.
Destaque-se o agrupamento de projetos que tem recursos escolares e o que eles têm por cursos de áreas de projeto escolar, como os últimos cursos de ensino, pois não são rentáveis como componentes de cursos que não têm como número de cursos de pasta e, portanto, inexistem professores licenciados.
Uma lei 14.038/2020, que regulamenta a profissão de historiador, informa em seu artigo 4º que uma das atribuições desse profissional é exercitar o “magistério da disciplina de história nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio”. Uma ilegalidade ronda a escola pública brasileira! Ou simplesmente a letra da lei garante um direito inócuo?
Como se não bastasse, através da resolução 02/2019, o Conselho Nacional de Educação (CNE) de ensino de uma mudança nos cursos de formação crítica.
Essa resolução a redução da carga horária dos conteúdos em favor de genéricos, formando professores num praticismo raso. Sua implantação estima a autonomia, vários cursos de cursos consolidados em andamento e projetos.
É um desastre cognitivo que está em curso, um verdadeiro “historic” promovido por negacionistas que o que quer que seja falsificar a história. Mas também produzimos por aqueles que querem, simplesmente, se livrar dela expurgando-a do seu estudo escolar. Excluir a história do currículo é apagar o passado e ameaçar o futuro. Precarizar a formação docente favorecendo a deformação e a desinformação. Não sendo revertidas essas medidas, a cidadania privada do mais básico conhecimento de nossas histórias. Será esta a nossa contribuição ao futuro no bicentenário da independência?
Antonio Simplício Neto
Departamento de História da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo)
Paulo Eduardo Mello
Departamento de História da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa)
Valdei Araújo
Associação Nacional de História – Brasil e UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto)
Paulo Eduardo Teixeira
Associação Nacional de História – São Paulo e Unesp (Universidade Estadual Paulista)
TENDÊNCIAS / DEBATES
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