Homeschooling. Quem perde?

Homeschooling. Quem perde?

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Homeschooling. Quem perde?

 

Greice Franco

Já faz algum tempo que estudo essa proposta de “modalidade” pelo fato de eu ser da área da Pedagogia.

Até agora não consegui nenhuma fundamentação teórica e científica que possa dar base para essa proposta, mas principalmente não consegui basear o homeschooling em nenhuma teoria séria de tratativa pertinente ao desenvolvimento da criança. O que deveria ser o cerne da questão discutida. Incorre então na cadência acadêmica da modalidade Homeschooling.

Digo isso, as teorias pedagógicas mais bem aceitas, de forma científica, falam da necessidade do Outro como agente do desenvolvimento de uma criança/sujeito.

Uma criança na pré-escola, ou até mesmo no ensino fundamental, não precisa somente de uma pessoa “com ensino superior” como é colocado nessa aberração bolsonarista.

Mais do que isso: é comprovado cientificamente que uma criança se desenvolve com maior eficácia quando está entre seus pares. Ou seja, necessita de outras crianças da sua faixa etária convivendo e realizando trocas juntos. Do Outro.

Necessita de seus pares, de adultos e de diversidade. O fato de uma criança não ir para escola e, teoricamente, ter um adulto com ensino superior em casa, não garante absolutamente nada quando falamos em desenvolvimento integral.

Pois, a escola não é feita somente por uma professora com ensino superior, obviamente é a figura dos saberes científicos adequados para a sua ação pedagógica, claro.

Porém, existe muito mais.

Cita-se também: estrutura física que pode ser contribuinte para o progresso ou regresso do desenvolvimento de uma criança.

A escola é feita de sujeitos: colegas, amigos, funcionários, familiares e comunidade.

O que significa que todos são sujeitos, portanto, absolutamente tudo é pedagógico dentro de uma escola. Desde o ato de colocar o pé dentro dela, até o ato de aprender a pegar um lápis para escrever.

A criança adquire a fala através da escuta, por meio da socialização. Algo que qualquer leigo pôde perceber com a pandemia: a grande massa de crianças com atraso em seu desenvolvimento cognitivo, social e intelectual.

A criança necessita do lúdico, do faz de conta, da fantasia e imaginação. Algo que é encontrado puramente em outras crianças.

Não existe detentor do saber que transfere conhecimento para um sujeito, como se fosse para uma folha em branco que vamos adicionando rabiscos que gostamos. Todas as crianças, adolescentes, jovens e adultos, são seres ativos. Não existe tabula rasa. Por isso, todos desenvolvem seus processos de ensino-aprendizagem em contato com o coletivo, interagindo com o Meio e o Meio interagindo com o sujeito.

Assim é a História do mundo. Não é diferente no aspecto da educação.

Portanto, se o Meio e o Outro são importantes, elucida alguns pontos:

Se uma criança não é estimulada fisicamente, em seu ambiente, o qual pode ser um ambiente pobre, possivelmente terá dificuldades sensório-motoras, de noção espacial e geográfica, de tempo, atenção…

Impedindo que essa criança, por exemplo, se torne um futuro atleta ou que até mesmo possa ter dificuldade em se localizar dentro de um prédio, numa rua, em um bairro. Pode fazer com que essa criança ou sujeito adulto tenha dificuldades no trânsito ou no manejo de maquinários. Prejudica até mesmo sua capacidade lógica.

Se uma criança tem pouco ou não teve estímulos sociais (relacionamentos diversos), possivelmente encontrará dificuldades emocionais, afetivas, sociais e cognitivas. Poucas habilidades sociais prejudicam o sujeito em todas as esferas. Baixo poder aquisitivo de aprendizagens novas, vocabulário restrito, dificuldades nos relacionamentos interpessoais, pouco autoconhecimento, falta de inteligência emocional e social, déficit em linguagens artísticas, por exemplo. Pouca ou nenhuma capacidade de interpretação de sentenças básicas ou complexas. Criatividade baixa. Déficit cognitivo. Problemas comportamentais em um mundo desafiador e cada vez mais diverso.

Se uma criança assimila de forma equivocada algum saber essencial para sua vida, terá consequências na vida toda por uma assimilação incorreta que pode dificultar a resolução de problemas simples diários. Fazendo uma explicação rápida e vulgar: quando uma criança “aprende” errado o processo mental necessário para realizar um cálculo de adição/subtração/multiplicação, encontrará dificuldades em se apropriar de conhecimentos da matemática avançada.

Agora, imagine: se a educação é tão desafiadora até para professores que têm formação na área, imagine para um pai ou mãe que mistura autoridades, percepções e conhecimentos… inadequados.

Enfim, eu poderia ficar aqui escrevendo um livro sobre o problema do homeschooling.

O principal, notório despreparo aos conhecimentos necessários para se tratar de Educação, é que Bolsonaro e sua turma desconhecem algo básico da Pedagogia: uma criança não pode ser vista somente por aquilo que ela poderá ser, como uma miniatura de adultos, mas são sujeitos que já estão SENDO no mundo. Deixar uma criança fora da escola é um dos maiores crimes que se poderia cometer.

O que me indago ainda mais é: como ficarão as crianças com deficiência do público da inclusão?

Elas serão prejudicadas, porque são as que mais necessitam de estímulos e incentivos para progresso de suas habilidades e competências, bem como para qualidade de suas vidas. A escola é um agente socializador de vida. Sem a socialização voltaremos ao nível zero de progresso cultural, educacional e social.

Excluir crianças com a desculpa de ‘liberdade’ é antidemocrático e vai contra a preconização brasileira de Escola Para Todos.

 

Sobre a autora
Pedagoga com pós-graduação em Psicopedagogia e experiência profissional na área da inclusão de crianças com deficiência.


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http://pensaraeducacao.com.br/pensaraeducacaoempauta/homeschooling-quem-perde/ 




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