IDEB revela de fato a aprendizagem?

IDEB revela de fato a aprendizagem?




‘É um equívoco achar que IDEB revela de fato a aprendizagem dos(as) estudantes’ diz sindicalista

Para a professora de geografia, mestra em educação e presidenta da APP-Sindicato, Walkíria Olegário Mazeto, é um equívoco fazer esta afirmação porque a aprendizagem é um processo educacional complexo e não dá para ser avaliado em provas prontas e de massa.

As escolas públicas do Paraná alcançaram a nota 4,6, ultrapassando Goiás e Espírito Santo. O índice subiu 0,2 pontos em relação ao Ideb 2019, divulgado em 2020, quando o Paraná estava em 3º, com 4,4. Além disso, foi a maior escalada no ensino médio entre todos os estados brasileiros na história recente. O Paraná alcançou o 7º lugar em 2017, subiu para 3º dois anos depois e agora está em primeiro lugar. A média nacional das redes estaduais, no ensino médio, ficou em 3,9.

Walkiria disse que não é questão de comemorar estes resultados, que de certa forma, reflete o esforço dos professores(as). Mas para além disso, é necessário entender o que se leva em conta no indicador do Ideb, quando se avalia a aprendizagem.

“Os processos educacionais são mais complexos do que uma prova do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) ou índices de aprovação possam medir. Assim, predomina uma lógica que ir bem no Ideb é sinal de maior aprendizagem”, afirmou Walkíria. Ela explica que para chegar nesta conclusão é preciso compreender o Ideb, que é medido pelas notas do Saeb e as taxas de aprovação, e entender o que o estado tem feito para chegar nestes resultados.

O Paraná tem investido na Prova Paraná, que é uma avaliação trimestral e uma forma de treinamento para as provas do Saeb, e a escola funciona orientada para a obtenção dos resultados nas provas, com sistema de gratificação para diretores e escolas. Além disso, há programas escolares para garantir a maior aprovação dos estudantes e um rígido controle das faltas e da evasão escolar.

“Os(as) estudantes são treinados(as) a obterem os resultados nas provas de larga escala a partir da prova Paraná. Esta lógica de aprendizagem se move no sentido de adequar o aluno às estratégias que serão solicitadas nestas provas. Essa compreensão limítrofe da aprendizagem não produz sujeitos criativos, críticos e autônomos. Esta política de resultados organiza a aprendizagem segundo essa lógica: o resultado é mais importante que o processo de aprendizagem em si”, criticou Walkíria.

A professora lembra também que é bom situar que o ano de 2021 foi atípico por conta da Covid-19 e que o Conselho Nacional de Educação (CNE) orientou pela aprovação dos(as) estudantes. “Isso se refletiu na alta taxa de aprovação dos(as) estudantes do Ensino Fundamental II e Médio superiores às taxas de anos anteriores e isso também muda os efeitos deste índice”, ressalta.

Pressão pelo resultado e um modelo desastroso

O governo do Estado pressionou os(as) profissionais da educação para a obtenção de resultados. Além disso, usou plataformas que retiram a autonomia pedagógica do(a) professor(a) e pedagogo(a).

Segundo nota da APP, há quatro anos só se fala em Ideb no Paraná. “Os estudantes têm sido exaustivamente treinados com conteúdos específicos da Prova Brasil e o trabalho dos(as) professores(as) têm sido direcionado para obter resultados positivos em testes padronizados. A pressão e a cobrança, bem como as políticas implementadas para atender aos critérios do Saeb, têm cobrado a fatura na saúde dos(as) nossos(as) trabalhadores(as)”, diz trecho do documento publicado no site da entidade.

Walkíria disse que uma boa parte destes(as) profissionais acabam se conformando com essa lógica. A desvalorização do salário e principalmente da carreira, esvaziada de suas funções pedagógicas, acaba adoecendo e desmotivando trabalhadores da educação. “Infelizmente é assim que governos de direita operam no Brasil. O problema é que, da mesma forma que o Paraná olhou para fora, para os estados melhores ranqueados que ele no IDEB estavam fazendo na educação, e os copiou, outros estados vão olhar para o Paraná e copiar o projeto educacional que está sendo implantado aqui. Será um desastre para a educação pública brasileira”, finalizou a presidenta da APP.




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