Impressões sobre Novo Ensino Médio
Pesquisa qualitativa traz impressões de professores sobre Novo Ensino Médio
Ensino Médio Análises e contextos
Pesquisa qualitativa realizada pelo Movimento pela Base em parceria com a consultoria especializada Conhecimento Social – Estratégia e Gestão questionou professores das cinco regiões do país sobre suas percepções acerca do Novo Ensino Médio. De acordo com o levantamento, a proposta para essa etapa é avaliada positivamente pelos professores, pois suas características apontam para uma “modernização” do ensino e para o atendimento a determinadas demandas da comunidade escolar.
Há, porém, um olhar crítico em relação às dificuldades de implementação das mudanças, sobretudo quando ligadas à deficiência de infraestrutura das escolas, à ausência de recursos financeiros e de materiais adequados, bem como à falta de apoios e de orientações por parte das secretarias e das escolas.
A pesquisa envolveu nove educadores, sendo que todos atuam em redes estaduais de ensino entre a 1ª e a 3ª série do Ensino Médio. Embora tenha-se optado pela pluralidade de vozes no grupo de participantes, cabe ressaltar que se trata de uma pesquisa qualitativa com número limitado de participantes por região e unidade da federação. Sendo assim, ainda que os resultados ofereçam ricas contribuições sobre o tema, não é possível inferir quaisquer características regionais marcantes.
Ao todo, a pesquisa abordou oito temas. São eles: o nível de conhecimento dos professores sobre o novo ensino médio; os aspectos positivos e negativos da reforma; o processo de implementação; o apoio das secretarias de educação; as práticas em sala de aula; a formação dos professores; os materiais didáticos; as avaliações; e a disposição dos professores para a implementação.
Acesse aqui o relatório completo da pesquisa!
Conheça os principais resultados
Conhecimento sobre o Novo Ensino Médio
Segundo a pesquisa, houve uma dificuldade inicial dos professores em se informar sobre as mudanças indicadas para essa etapa de ensino. Nesse sentido, os entrevistados demonstraram ter conhecimento sobre os principais detalhes do novo modelo, mas dizem ter conseguido as informações necessárias por iniciativa própria e não por orientações da gestão escolar ou da secretaria de educação.
Os entrevistados também demonstram grande entusiasmo com a proposta e dizem que houve bastante expectativa sobre como as mudanças ocorreriam, acompanhada de sensação de surpresa e de apreensão, sobretudo por não haver uma comunicação formal.
Principais fontes de informação sobre o Novo Ensino Médio
“Eu acho a ideia muito boa! Tem a questão do protagonismo do aluno, da escolha das matérias… Tem as novas áreas de conhecimento… Mas, o que eu vi na prática mesmo acontecendo até agora mais efetivo é o aumento da carga horária, que antes não existia.”
Aspectos positivos do Novo Ensino Médio
“Acho que os pontos positivos são o protagonismo e a nossa possibilidade de expor as nossas disciplinas de várias formas, de ofertas de oficinas… São partes da Lei da Reforma que, a meu ver, são bonitas.”
Aspectos negativos do Novo Ensino Médio
Os pontos negativos ressaltados na pesquisa são direcionados, principalmente, à prática do novo modelo tendo em vista a fase de implementação e não necessariamente a um equívoco ou crítica ao conceito.
A dificuldade de implementação, a falta de apoio formal das secretarias e o aumento da carga horária são os pontos que mais chamam a atenção negativa, o que tem levantado resistências. Nesse sentido, os entrevistados apontam a ausência de divulgação sobre o conceito e a sua implementação, uma vez que não há uma sistematização do processo ou documento formal ou um cronograma para guiar todos os envolvidos (diretoria, coordenação, docência, estudantes e famílias). Também questionam a ausência de professores para suprir a ampliação da demanda.
Principais aspectos negativos
Aumento da carga horária;
Falta de padronização do modelo aplicado nas diferentes escolas, inclusive da mesma rede, e nas diferentes redes de ensino;
Ausência de incentivos para a capacitação de professores para lecionar nas novas disciplinas.
“Cada município tem que ter, pelo menos, uma escola com cada área do conhecimento fazendo parte do itinerário formativo. Nos municípios que só têm uma escola do ensino médio, a escola vai oferecer duas disciplinas – que tem que ser pelo menos duas –, com duas áreas em cada disciplina, aí as quatro áreas do conhecimento vão ser abarcadas em duas disciplinas, em várias escolas. Então, a escolha do aluno já cai um pouco por terra, porque vai ser pela conveniência e não pela escolha do aluno.”
Prática em sala de aula com o Novo Ensino Médio
A pesquisa mostra que ainda é cedo para avaliar a efetividade do Novo Ensino Médio. Mas, segundo os entrevistados, até o momento não se nota uma diferença ou mudança no aprendizado ou no envolvimento dos alunos diante da implementação.
A falta de recursos para as aulas de tecnologia foi apontada como uma dificuldade para as práticas, assim como as relações de alunos que ainda não se acostumaram com o aumento da carga horária e a ausência de materiais didáticos adequados.
“Nós temos uma disciplina do Novo Ensino Médio que é chamada intervenção comunitária. Ela é voltada para dúvidas de português e matemática. Porém, muitos professores são de outras áreas. Eu sou de geografia e dou uma aula de integração comunitária. E eu acabo puxando para a minha realidade. Mas é errado, porque o objetivo é fazer a recomposição da aprendizagem de português e matemática, devido à pandemia.”
Formação de professores e materiais didáticos
Na formação de professores reside um dos principais problemas destacados pela pesquisa. Dentre os entrevistados, nenhum declarou ter recebido formações direcionadas para o Novo Ensino Médio, o que recai sobre uma dificuldade do corpo docente em ministrar aulas com conteúdos ou formatos para os quais não estão preparados.
Os entrevistados dizem ainda sentir falta de uma formação sobre os preceitos da iniciativa do Novo Ensino Médio, como também cursos que preparem os professores para os novos componentes, sejam eles ligados aos novos itinerários formativos ou a conteúdos mais específicos (Mundo do Trabalho, por exemplo).
O material didático é outra barreira apontada pelos participantes. Enquanto algumas escolas receberam livros adequados ao Novo Ensino Médio, outras não possuem esse tipo de material disponível. Alguns entrevistados indicam que foram ofertadas apostilas, mas seu conteúdo nem sempre é seguido ou é adequado para a realidade da escola e dos alunos. Contudo, é necessário ressaltar que a pesquisa conta com uma amostra pequena e que não se pode inferir características comparativas ou regionais a partir de seus dados.
“O Novo Ensino Médio tem muita fragilidade por conta da formação dos professores. Professores sem formação adequada dando aula, ministrando disciplinas que eles nem sabem para onde vão; nem conseguem nomear as disciplinas com os seus devidos nomes.”
Disposição dos professores para a implementação do Novo Ensino Médio
Em detrimento de todas as críticas e dificuldades apontadas ao longo da pesquisa qualitativa, os professores afirmam estar dispostos a implementar o Novo Ensino Médio. Nesse caso, ressaltam a necessidade de melhor formação para o professor, mais recursos tecnológicos disponíveis, materiais didáticos sempre à mão e de qualidade, entre outros investimentos.
Motivos para implementar o Novo Ensino Médio