Indígenas lançam livros didáticos
Professores de quatro povos indígenas lançam livros didáticos bilíngues
Professores dos povos Jamamadi, Apurinã, Jarawara e Paumari, no Amazonas, produziram quatro livros em português e suas respectivas línguas. A publicação é considerada mais um ato de resistência a ataques aos indígenas
Reprodução/Youtube
Intitulado Saberes Indígenas na Escola, os livros lançados no final de abril visam favorecer o desenvolvimento e a compreensão das produções orais e escritas nos processos de letramento e numeramento, definida no processo formativo do programa Saberes Indígenas na Escola do Ifam para professores indígenas.
Segundo o diretor do Ifam campus Lábrea, Marcelo Rodrigues, é uma oportunidade ímpar para os educadores trabalharem em sala de aula o cotidiano da vida dos estudantes indígenas nas aldeias, considerando as atividades que são pautadas no cotidiano da identidade desses alunos, como pesca, caça e desmatamento. E para os alunos indígenas, o fato de os livros serem bilíngues ajuda a preservar da extinção a língua materna desses povos.
Saber e resistência indígena
“O fato de o livro estar na língua dos povos torna-se de relevância imensurável, por não permitir que essa língua materna se extinga. Observa-se que, gradativamente, a língua está sendo menos presente em alguns povos, uma vez que os jovens não a utilizam com frequência. Mesmo com a morte dos mais velhos, no livro ficará o registro dessa escrita e de sua cultura, propiciando a eles a oportunidade de manter vivo esse saber indígena”, disse Rodrigues, ressaltando que pode ser instrutivo inclusive para os professores que lecionam em escolas de outras etnias ou até mesmo em escolas não indígenas.
Missionário do Cimi equipe Lábrea, Daniel Lima lembrou que a educação brasileira e os povos indígenas são atacados sistematicamente pelo governo de Jair Bolsonaro, “que pretende levar a cabo aquele projeto de integração que iniciou na década de 70, no auge da ditadura”. “Esse processo de integração volta com muita força neste atual governo e tem como objetivo principal a desconstitucionalização e a deslegitimação dos direitos dos povos indígenas”, disse, indicando que os livros bilíngues configuram uma ação de resistência a esse plano político.
“Lançar essas obras nas línguas Apurinã, Jamamadi, Jarawara e Paumari, nesse contexto tão sombrio e tão desesperançoso, é um sinal de resistência diante de tantos ataques aos povos indígenas, às suas culturas, às suas línguas e à educação indígena que constitucionalmente lhes é garantido o direito de que ela seja diferenciada.”
Livros bilingues enriquecem a formação docente e mantêm viva a língua ameaçada.
Foto: Marcelli Damasceno