Investimento milionário no South Summit
Governo do Estado e Prefeitura investem mais de R$ 27 milhões no South Summit
Levantamento do Sul21 mostra que Governo do RS é o responsável por 86% do dinheiro público investido no evento
11/04/2025 SUL21
Fabio Canatta
Quem ouve os organizadores responsáveis pelo South Summit Brazil (SSB) comemorarem que, pelo quarto ano consecutivo, o evento “escolheu” Porto Alegre para realizar a edição brasileira talvez não saiba que essa “escolha” tem um preço. O Governo do Estado do Rio Grande do Sul pagou 756 mil euros, mais de R$ 5 milhões, à empresa espanhola detentora dos direitos mundiais da marca, a Spain Startup and Investors Services S.L para que, em 2025, mais uma vez, o SSB acontecesse aqui.
Mas este está longe de ser o maior e também não é o único gasto público no evento que acontece nos Armazéns do Cais do Porto, espaço também cedido aos organizadores. Governo do Estado, Prefeitura de Porto Alegre e Assembleia Legislativa do RS apoiam financeiramente o SSB. Juntos somam mais R$ 27,6 milhões em apoio institucional, patrocínio, financiamento de estrutura física, organização e gestão do evento, entre outras ações.
O valor é resultado de um levantamento exclusivo feito pela reportagem a partir de uma pesquisa nos registros dos últimos doze meses dos diários oficiais da Prefeitura, Governo do Estado e Assembleia. Entre os contratos, o de maior cifra foi firmado entre o executivo estadual e a empresa DMDL LTDA, de São Paulo, pela montagem do evento: R$ 13,5 milhões. O Departamento de Trânsito do RS (Detran/RS), uma autarquia ligada ao executivo estadual, também tem contrato com o SSB. No caso, um patrocínio de R$ 1 milhão para a realização de ações educativas, um estande e participação na programação do evento a fim de “favorecer o diálogo da instituição com a sociedade”, informou em nota.
Vale lembrar que o South Summit Brazil é um evento privado que cobra ingresso dos participantes, sendo o mais barato, hoje, R$ 1.090, na categoria “participante”. O mais caro, chamado “executivo”, é vendido por R$ 5.499 e garante, além da entrada, acesso a áreas exclusivas, filas prioritárias e eventos somente para esse público considerado “VIP” (termo que remete à expressão do inglês “very important person” e designa indivíduos de grande prestígio, poder ou capital).
Viva Boat, o barco do governo no South Summit. Foto: Maurício Tonetto/Secom
O Viva RS Boat é exemplo de uma das experiências exclusivas oferecidas ao público VIP. A embarcação de dois andares, reservada aos convidados com pulseirinha executiva, prometia uma jornada pelos sabores do Rio Grande do Sul, com degustação permanente de queijos e vinhos gaúchos, além de um cardápio que envolvia charque de cordeiro, abóbora defumada e camarão rosa preparados por premiados chefs de cozinha. Cerca de 1,7 mil pessoas, entre autoridades e empresários, principalmente, passaram pelo barco nos três dias de evento, sempre embalados ao som de dj’s ao vivo. O custo aos cofres do Governo do Estado foi de R$ 800 mil.
O Governo do Estado é o responsável, aliás, por 86% dos R$ 27,6 milhões públicos investidos no evento. A Prefeitura de Porto Alegre destinou R$ 3,2 milhões e a Assembleia Legislativa, outros R$ 400 mil. Os dois contratos somam os 14% restantes e justificam as verbas como apoio institucional e patrocínio ao South Summit Brazil.
Leite em jantar do South Summit Brazil. Foto: Vitor Rosa / Palácio Piratini
Professor de Administração Pública da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Líder do Grupo de Pesquisa em Estado, Democracia e Administração Pública (GEDAP), Dr. Aragon Erico Dasso Junior admite que o SSB gere tributos para Estado e Município, porém questiona o papel desempenhado pelo setor público no evento. “Quando Melo e Leite aderem e aceitam ser co-financiadores de um evento privado que cobra ingressos altíssimos, estão dizendo: ‘inovação é um espaço do setor privado, é um domínio da lógica do privado sobre o público e é um espaço de elite’. Qualquer outra coisa é figura de linguagem, eufemismo, é doutrina política com roupagem de ciência, de inovação científica”, conclui.
Aragon defende que o poder público seja protagonista das inovações e não se limite a uma condição de financiador ou de futuro cliente das empresas que lucram com os avanços conquistados. Dessa forma, diz ele, a população poderia também ser beneficiada pelas inovações, que poderiam, por exemplo, impactar na qualidade dos serviços públicos prestados pelo Estado. “No modelo atual, não há qualquer legado para a sociedade do Rio Grande do Sul”.
Melo em jantar do South Summit Brazil. Foto: Vitor Rosa / Palácio Piratini
O Governo do Estado do Rio Grande do Sul preferiu se manifestar através de uma nota oficial. Abaixo, o texto enviado pela assessoria de imprensa:
O South Summit Brazil está consolidado como um evento que fomenta o empreendedorismo e a inovação. Trata-se de uma das estratégias de desenvolvimento econômico e social do RS, uma vez que o evento oportuniza conexões que geram novos negócios.
O RS Innovation Stage, palco do governo gaúcho é uma das contrapartidas, recebeu quase 400 propostas de temáticas – um crescimento de 70% em relação a 2024. O espaço é dedicado a universidades, empresas, ambientes de inovação e ao setor público para que divulguem inciativas de vanguarda e anunciem novas ações em mais de 50 painéis. As empresas gaúchas foram maioria entre as finalistas brasileiras da competição de startups, uma importante vitrine internacional. De 2.129 inscritas, apenas 50 chegaram à final. E das 28 do Brasil, 11 eram do Rio Grande do Sul”.
O governo gaúcho ainda cedeu 30 estandes no marketplace a empresas, ambientes de inovação e organizações de todas as regiões do Estado, por meio do Programa Inova RS, da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia (Sict). Este espaço também é uma contrapartida do evento, bem como as ações sociais organizadas pela Sict e pela Secretaria Extraordinária de Inclusão Digital e Apoio às Políticas de Equidade (Seidape), buscando promover acesso amplo ao ecossistema de inovação e empreendedorismo.
Estas ações aconteceram antes, durante e seguirão depois do evento, tanto na capital quanto no interior, e são focadas em diferentes grupos – como alunos de escolas públicas, comunidades em situação de risco e mulheres empreendedoras. As atividades incluem envolvimento de palestrantes, economia circular, dinâmicas artísticas, iniciação empreendedora, capacitação em inovação e tecnologia, entre outras iniciativas. Todas estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas.
Uma das ações que destacamos é a Supporting Communities Affected by Floods (Apoiando Comunidades Afetadas por Inundações), liderada pelo Comitê Científico de Adaptação e Resiliência Climática nas cidades de Canoas, Alvorada e Eldorado do Sul, três das mais atingidas pela enchente de maio de 2024. A atividade consistiu em ouvir a população e debater soluções para os obstáculos enfrentados durante e após as cheias.
Por todo este potencial de impulsionamento econômico e social, o Governo do Estado é correalizador do South Summit Brazil e promove, a cada ano, uma licitação para escolha da empresa que realiza a montagem do evento. Neste ano, a vencedora foi a DMDL LTDA, que apresentou a melhor proposta – R$ 13.500.000,00.
O valor estimado da licitação era de R$ 19.733.906,95, o que representou uma economia de aproximadamente 31,6% para os cofres públicos. No total, dez empresas participaram do certame, que foi homologado em 11 de fevereiro.
Leite e Jorge Gerdau em evento do South Summit . Crédito: Mauricio Tonetto / Secom
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No South Summit Brazil 2025, Secretaria da Fazenda anuncia primeiro edital da história do governo para contratação de startups
Iniciativa do Tesouro do Estado busca encontrar soluções para o atendimento de demandas envolvendo pensões alimentícias
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A iniciativa teve origem no Programa de Inovação do Tesouro, que promove integração entre entidades e setores da sociedade - Foto: Robson Nunes/Ascom Sefaz
Um dos últimos painéis realizados no South Summit Brazil (SSB) 2025, nesta quinta-feira (10/4), trouxe ao conhecimento do público uma novidade: o governo do Estado lançará, em julho, o primeiro edital para a contratação de startups da sua história, absorvendo o modelo previsto pelo Marco Legal das Startups. O processo será conduzido pela Secretaria da Fazenda (Sefaz), por meio do Tesouro do Estado (TE). O objetivo é encontrar soluções para demandas envolvendo pensões alimentícias, que representam 3,6 mil atendimentos por ano.
O anúncio foi feito durante o painel Desafios de Inovação do Tesouro do RS, realizado no RS Innovation Stage, o palco oficial do Executivo gaúcho no SSB, evento internacional de inovação e empreendedorismo correalizado pelo Governo do RS. Durante as discussões, as startups foram convidadas a participar do desafio proposto pela subsecretaria fazendária.
“Não estamos só falando de inovação aberta, mas sim, de fato, fazendo inovação aberta. Se a inovação não gera valor público para a sociedade, é só uma modernidade. E nós trabalhamos demais para gerar valor. Precisamos que a agilidade das startups ajude a mudar a mentalidade do poder público, para fazer as coisas mais rápidas. E hoje temos condições de transformar esse sonho em realidade”, salientou o subsecretário do TE, Eduardo Lacher, na abertura do painel.
A iniciativa teve origem no Programa de Inovação do Tesouro (PIT), que busca promover a integração entre diferentes entidades e setores da sociedade. Cocriação com ecossistema de inovação, cultura de experimentação, conexão com a academia e acordos de cooperação técnica estão entre os conceitos-chave da proposta.

“Valorizamos o conceito de quádrupla hélice, que engloba governo, iniciativa privada, academia e sociedade civil organizada. Nós crescemos muito usando o conhecimento das universidades, não só para as respostas mas também para as perguntas. Temos que ter a humildade para fazer as perguntas certas”, reconheceu Lacher.
A contratação será feita no formato Compra Pública de Solução Inovadora (CPSI). O Edital de Inovação Aberta, previsto para 17 de julho, está sendo planejado desde o final do ano passado. Além de atender ao Marco Legal das Startups (Lei Complementar 182/2021), ele também está de acordo com a Lei de Licitações e Contratos (Lei 14.133/2021), ambos regramentos federais.
O que muda
O processo é diferente de uma licitação tradicional, em que o órgão contratante determina requisitos e entregas necessários e as empresas se colocam na disputa. Na CPSI, o governo propõe um desafio, um problema cuja solução não é conhecida. As startups interessadas podem se candidatar, e as que forem selecionadas – no caso deste edital, serão duas – trabalham em conjunto com a Sefaz, buscando analisar a dificuldade e propor soluções. Ao final, a secretaria analisa os resultados e pode optar pelo não seguimento ou pela contratação de uma ou das duas startups para implantar a novidade.
O lançamento do edital funcionará como um projeto-piloto do Laboratório de Inovação Aberta do Estado (Lab Piá), que tem foco em compras públicas pela inovação. A criação do Lab Piá havia sido anunciada momentos antes pela Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia (Sict). Assim como a Sict, a Subsecretaria da Administração Central de Licitações (Celic), vinculada à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), ajudou no desenho da proposta, que também contou com a colaboração da Escola Nacional de Administração Pública.

“Lançar o primeiro Edital de Inovação Aberta não é uma tarefa fácil. Foi muito trabalho envolvido. Mas temos certeza de que, abrindo essa porta, outras iniciativas virão. E quem está aqui no South Summit vai poder nos ajudar a solucionar as centenas de desafios que o poder público tem”, convidou o assessor de Inovação do TE, Jeferson Padilha.
O desafio das pensões alimentícias
A Divisão de Gestão da Folha (DGF) do TE foi escolhida para o projeto-piloto por ser a maior área organizacional da subsecretaria. A estrutura é responsável por planejar, executar e controlar as atividades relativas ao pagamento de pessoal da administração direta, cujo número de vínculos (ativos, aposentados e pensionistas) supera 300 mil.
Os servidores utilizam diversos sistemas diferentes e necessitam fazer trabalhos manuais repetidos para o atendimento aos diferentes pedidos dentro de sua área de competência. Somado à falta de tempo e ao grande número de legislações que precisam ser observadas de uma única vez, esse problema sobrecarrega as equipes e aumenta as chances de erros. As tentativas de automatizar processos feitas até agora esbarraram na necessidade de contratação de diferentes soluções tecnológicas que não seriam resolutivas, pois precisariam ser integradas aos sistemas estaduais.
Considerando que há muitos serviços com naturezas diferentes, a temática das pensões alimentícias foi selecionada por representar grande volume de ocorrências e por possuir um conjunto de regras de negócio que pode ser mapeado. O TE entende que melhorias nesse setor gerarão um impacto significativo para a sociedade e para os servidores.
O trabalho da área consiste na inclusão, alteração ou cancelamento de pensões. O edital que será publicado detalhará cada uma das etapas feitas pelas equipes e os sistemas utilizados, convocando as startups a pensarem em uma solução tecnológica que faça o aprimoramento do atendimento, cumprindo tarefas pré-determinadas. O resultado esperado é a redução significativa de atividades manuais e a diminuição de tempo, de erros e de retrabalhos. O modelo desenvolvido também deverá atender a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
“É o desafio de fazer mais com menos pessoas. Dando certo com as pensões alimentícias e melhorando nossos processos, a ideia é expandir. Não é um desafio para o futuro, é para o presente, para agora”, disse o servidor da DGF, Ricardo Bonilha, da DGF.
Merenda escolar
Outra ideia que figura no horizonte do TE envolve a compra de merenda escolar e a prestação de contas do processo – o que exige aquisições constantes e atividades manuais. Dessa forma, a expectativa é que o tema também possa, no futuro, gerar uma contratação no modelo CPSI, em parceria com a Secretaria de Educação (Seduc). Considerando que são 740 mil estudantes de 2,3 mil escolas em 497 municípios, a questão da merenda envolve, na prática, 880 mil refeições por dia, 4,5 mil fornecedores e 5 mil editais públicos.
“Se conseguirmos encontrar uma solução personalizada para a compra pública de alimentação escolar, temos potencial de estender essa ideia para todos os municípios de todos os Estados”, projetou o servidor Júlio Neves, da Divisão de Estudos Econômicos e Fiscais e Qualidade do Gasto (DEQG).
Programação no RS Innovation Stage
O South Summit Brazil segue até sexta-feira (11/4) no Cais Mauá, em Porto Alegre. Os visitantes podem conferir os painéis previstos para o RS Innovation Stage, que tem a sustentabilidade, a inovação e a tecnologia como os temas principais das discussões.
A programação completa do palco oficial do Executivo gaúcho pode ser conferida neste link. Os painéis ocorrem entre 9h e 16h, com duração entre 15 e 30 minutos cada. O conteúdo apresentado no palco é transmitido ao vivo pelo canal do governo no YouTube.
Texto: Bibiana Dihl/Ascom Sefaz
Edição: Rodrigo Toledo França/Secom
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