Investimento por aluno
Investimento por aluno no Brasil está abaixo da média dos países desenvolvidos, diz estudo da OCDE
Relatório mostra que professores ganham menos do que os colegas do exterior e, também, do que outros brasileiros com ensino superior.
Por G1
O Brasil investe mais em educação e menos por aluno do que a média dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de acordo com o estudo Education at a Glance ("Educação em revista", na tradução livre do inglês), divulgado nesta terça-feira (10).
O documento de 2019 analisa os sistema de educação de 36 países membros da organização, além de dez outros parceiros, como o Brasil, a Argentina, a China, a Rússia e a África do Sul, entre outros.
Os dados mostram que, em 2016, o Brasil investiu 4,2% do Produto Interno Bruto (PIB) na área de educação, do ensino fundamental ao médio e técnico.
O percentual está acima da média dos países da OCDE (3,2%) para o mesmo ano, mas o investimento proporcional por aluno é inferior à média dos países desenvolvidos. Confira os números no gráfico e abaixo, em texto.
Confira abaixo o gasto por aluno e nível de ensino:
- US$ 3.800 por estudante do ensino fundamental 1 (média OCDE: US$ 8.600)
- US$ 3.700 por estudante do ensino fundamental 2 (média OCDE: US$ 10.200)
- US$ 4.100 por estudante do ensino médio e técnico (média OCDE US$ 10.000)
Os valores levam em conta o poder de compra de cada moeda, e não a taxa cambial.
Baixos salários
De acordo com Camila de Moraes, analista de educação da OCDE, o baixo custo por aluno no Brasil está relacionado aos baixos salários pagos a estes profissionais no país.
O estudo aponta que o salário médio dos professores no Brasil é menor do que na maioria dos países da OCDE, e que também é ao menos 13% menor do que o salário médio dos trabalhadores brasileiros com ensino superior.
Confira os números no gráfico e abaixo, em texto.
Fonte: OCDE
Confira abaixo a média de salário dos professores, por nível de ensino:
- Professores de ensino fundamental ganham US$ 22.500 anuais (média OCDE US$ 36.200)
- Professores de ensino médio ganham US$ 23.900 anuais (média OCDE US$ 45.800)
Os valores levam em conta o poder de compra de cada moeda, e não a taxa cambial.
Ensino superior
Apenas 18% dos adultos no Brasil (entre 25 e 64 anos) têm ensino superior completo, menos da metade da média da OCDE (39%). Segundo este relatório, o país está próximo ao perfil mexicano, mas muito abaixo de outros países da América Latina. A taxa de adultos com ensino superior na Argentina é de 36%, no Chile é de 25%, e na Colômbia é de 23%.
A OCDE ressalta, entretanto, que durante a última década houve um aumento no acesso ao ensino superior para as gerações mais jovens (25 a 34 anos) que saltou de 11% em 2008 para 21% em 2018. Mas ainda segue muito abaixo da média dos países da OCDE, que é de 44%.
Apenas um terço (33%) dos estudantes de ensino superior concluem a graduação no tempo ideal. A média da OCDE é 39%. O estudo diz que 50% dos estudantes tendem a concluir a graduação após três anos do período ideal. Abaixo da média da OCDE, de 67%.
Graduação
Quase 3/4 dos estudantes de ensino superior brasileiro estão matriculados em entidades privadas, um contraste com outros níveis de ensino.
Gastos públicos com ensino superior aumentaram 19% entre 2010 e 2016. Entretanto, gastos por estudantes de instituições públicas esteve abaixo da média em 2016, com US$ 14.200,10 em comparação com a média da OCDE de US$ 16.100.
O ensino superior brasileiro é um dos menos internacionalizados dos países da OCDE e parceiros. Apenas 0,2% dos estudantes brasileiros são intercambistas. A média lá fora é de 6% dos estudantes em mobilidade. 0,6% dos estudantes brasileiros estão matriculados no exterior, menos da metade da OCDE (1,6%).
Brasil investe por aluno menos da metade da média dos países desenvolvidos
Pós-graduação
Entre os jovens (25 a 34 anos) que concluíram o ensino superior, a maioria tem apenas o bacharelado. Apenas 0,84% desta população tem mestrado, contra 14,33% da OCDE e para o nível de doutorado, 0,11% dos jovens entre 25 e 34 anos, contra 0,84% da OCDE.
Apenas 0,8% dos adultos entre 25 e 64 no Brasil têm um título de pós-graduação do tipo mestrado. A média da OCDE é de 13%. Já no nível de doutorado, apenas 0,2% dos adultos concluíram esta formação, enquanto a média entre os países ricos é de 1,1%.
A analista de educação da OCDE no Brasil, Camila de Moraes, afirmou que não são consideradas hipóteses neste relatório e que as explicações para as variações nas taxas dependem do contexto do país.
Equidade
O estudo ainda mostra que as mulheres brasileiras entre 25 e 64 têm maior probabilidade (34%) de se matricular em um curso superior do que os homens, uma das diferenças entre gêneros mais destacadas entre os países membros da OCDE e parceiros.
Essa separação aumenta ainda mais em gerações mais novas, entre 25 e 34 anos, a probabilidade de uma mulher cursar o ensino superior chega a 42%.
As mulheres também são maioria em doutorados. No Brasil, 54% das formadas são doutoras, a média da OCDE é 47%.
A OCDE aponta, entretanto, que mulheres têm menos chance de ser empregadas do que os homens em qualquer nível de escolaridade, mas ressalta que a diferença se amplifica em níveis mais baixos de educação.
Nem-nem
Mais de 25% dos jovens entre 18 e 24 anos do Brasil, Colômbia, Costa Rica, Itália, África do Sul e Turquia não estudam e nem estão empregados, são considerados "nem-nem". A média de jovens nesta situação em países da OCDE é de 14%.
Matrículas em creche e pré-escola sobem, mas Brasil gasta pouco por aluno
Dados são de novo estudo da OCDE; salário dos professores também está abaixo da média dos países ricos
SÃO PAULO Estudo internacional divulgado nesta terça-feira, 10, mostra que o número de crianças na educação infantil (alunos até os 5 anos, o que inclui creche e pré-escola) aumentou, mas que o investimento público por aluno ainda é baixo. Os dados são do relatório Education at a Glance 2019, feito pela Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), entidade que reúne os países mais ricos do mundo e alguns convidados, entre eles, o Brasil.
A quantidade de crianças menores de 3 anos matriculadas em creches no Brasil aumentou de 10% para 23% do total da população dessa idade entre 2012 e 2017. O número segue abaixo da média de 36% entre os países da OCDE. O relatório ressalta que essa fase da educação é "altamente importante para desenvolver competências, como controle emocional, sociabilidade, linguagem e conhecimento numérico".
A creche, que atende crianças de 0 a 3 anos no Brasil, é um dos grandes problemas da educação no País. Grandes cidades sofrem com a falta de vagas e não conseguem atender a população necessária. Estudos mostram, no entanto, não só a importância dos estímulos corretos para essa faixa etária como benefícios para a mulher trabalhadora, que pode voltar ao mercado.
O aumento também se repete entre crianças de 3 a 5 anos, que foi de 60% da população dessa faixa etária matriculada em 2012 para 84% em 2017, o que se aproxima da média da OCDE (87%). Pesquisas do mundo todo têm mostrando nos últimos anos que a primeira infância é a etapa mais importante do desenvolvimento de uma criança, já que 90% das conexões cerebrais são feitas até os 6 anos. A meta do Plano Nacional de Educação (PNE) é universalizar o acesso à pré-escola e ter metade dos alunos de zero a três anos matriculados na creche até 2024.
Apesar do crescimento no número de matrículas no Brasil, o relatório da OCDE mostra que o País ainda gasta menos do que as nações desenvolvidas. O grande problema do investimento aqui é o valor gasto por aluno. Na educação infantil (3 a 5 anos), por exemplo, os governos destinaram US$ 3,8 mil por estudante, enquanto o valor médio da OCDE é mais do que o dobro (US$ 8,6 mil). Para crianças abaixo dos 3 anos, foram US$ 3,7 mil, menos da metade da média (de US$ 7,8 mil).
Já para cada aluno do ensino fundamental e médio foram US$ 3,7 mil e US$ 4,1 mil, respectivamente, enquanto a média é de US$ 10,2 mil e US$ 10 mil. De 2016, os dados são fornecidos pelos governos dos próprios países e têm como base o PPP (Purchasing Power Parity, ou "paridade do poder de compra", em inglês).
Mesmo assim, o Brasil investiu 4,2% do seu PIB em educação fundamental e média em 2016, acima da média da OCDE, que é 3,2%. Essa situação tem se repetido ao longo dos anos e, para muitos educadores, não é possível olhar apenas para a porcentagem gasta com relação ao PIB para determinar se o Brasil gasta muito ou pouco em educação.
No início do mês, a Procuradoria-Geral da República, a Câmara dos Deputados e o Palácio do Planalto fecharam acordo para que R$ 1,6 bilhão do Fundo da Lava Jato seja direcionado à Educação.
Salário dos professores também fica abaixo dos países ricos
A remuneração dos docentes brasileiros da rede pública também está abaixo da média da maioria dos países analisados e é pelo menos 13% abaixo de outras profissões que exigem ensino superior. O levantamento ressalta que a maior parte do investimento em educação é destinada ao pagamento dos docentes, mas "o gasto relativamente baixo por estudante no Brasil é refletido nos salários baixos dos professores".
O relatório aponta que o salário inicial de um docente no País é de US$ 14.775 anuais, enquanto a média inicial da OCDE vai de US$ 31.276 (no fundamental) a US$ 35.859 (ensino médio). O PNE prevê que, até 2024, os professores no Brasil tenham rendimento médio igual ao dos outros profissionais de mesma escolaridade no País.