Irredutível

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IRREDUTÍVEL

AÇÃO DE ALCOLUMBRE SINALIZA QUE NÃO TERÁ REDUÇÃO DE PENA ALGUMA PARA BOLSONARO

Presidente do Senado assumiu um comportamento que já está sendo lido como o fim da linha para o famigerado PL da “dosimetria”. Entenda os movimentos dele

Revista Fórum

Por Henrique Rodrigues, 26/9/2025

Desde o primeiro momento, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), sempre deixou claro ser totalmente contrário a qualquer tipo de anistia ou redução de pena para os líderes da tentativa de golpe de Estado que se desenrolou entre o final de 2022 e o começo de 2023, e que quase sepultou a democracia brasileira.

Alinhado aos setores do centrão que julgam ser inadmissível essa “colher de chá” para os criminosos sublevados, especialmente para Jair Bolsonaro (PL), o senador tem jogado o jogo, mas de forma alguma abandonou essa convicção. Agora, suas atitudes têm revelado como ele deve agir para barrar o famigerado PL da “dosimetria”, costurado a seis mãos pelo relator Paulinho da Força (Solidariedade-SP), pelo ex-presidente golpista Michel Temer (MDB) e por Aécio Neves (PSDB-MG), o cadáver político que saiu das catacumbas de um passado próximo direto para as manchetes dos jornais como “articulador”.

Contrariado com o clima de cinismo que expôs o Congresso Nacional como um inimigo do povo por suas prioridades inconfessáveis, como a PEC da Bandidagem, que levou milhões às ruas de mais de 60 cidades do país, e acabou enterrada justamente pelo Senado, Alcolumbre passou a adotar uma postura que fala por si só: zero manifestação de simpatia com o tal PL da “dosimetria”, cancelamento de reuniões referentes ao tema e, sobretudo, não dar muita trela para Paulinho da Força. A atitude, inclusive, piorou ainda mais seu relacionamento já eivado de rusgas com a Câmara e seu presidente, Hugo Motta (Republicanos-PB).

Na quinta (25), uma reunião entre Alcolumbre, Motta e Paulinho foi cancelada em cima da hora pelo presidente do Senado, em que pese o fato de os veículos da imprensa corporativa terem noticiado que a decisão foi em conjunto com o presidente da Câmara. Não, não foi. Alcolumbre não quer tratar de anistia, tampouco de “dosimetria”. Como o relacionamento com os deputados anda abalado, com acusações de que os senadores desrespeitaram a Câmara enterrando sumariamente a PEC da Blindagem, o que ainda colocou o Senado como “a casa do respeito ao cidadão” e a Câmara como “a casa da picaretagem”, a ordem no gabinete do amapaense é não dar atenção ou confiança para quem vem com iniciativas que podem gerar desgastes e ataques à classe política do Legislativo.

Motta, por sua vez, parece sentir o peso da cobrança do bolsonarismo, com quem resolveu assinar notas promissórias quando se candidatou para presidir a Câmara. Ele tenta de todas as formas construir um diálogo, ainda que morno e em voz baixa, com o Senado, em especial com Alcolumbre, para que a ideia de perdoar ou premiar Bolsonaro seja debatida pelos senadores, só que o mantra é um só: não. Pelo menos não agora e, possivelmente, nunca.

A explicação para a postura peremptória de Alcolumbre e de outros caciques de peso do Senado, como o presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Casa, Otto Alencar (PSD-BA), é simples. O PL da “dosimetria” tem tudo para criar o mesmo clima de desgaste, que quase virou guerra, da PEC da Bandidagem. Várias pesquisas de opinião, de diferentes institutos, já mostraram que mobilizar o Congresso para ficar priorizar ajuda a Bolsonaro é uma furada. Uma maioria expressiva do povo não aprova a ideia e frontalmente contrário a isso ou a qualquer coisa semelhante.

Para terminar de incendiar o cenário, o Senado aprovou na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), o projeto de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, a pauta apontada pela população como a mais urgente segundo o interesse da cidadania. Essa aprovação na CAE colocou uma pressão gigantesca na Câmara para que a medida seja votada e aprovada lá, até porque é uma das principais, senão a principal, bandeira do governo Lula (PT), uma contagiante promessa de campanha. Como se não bastasse, Paulinho da Força, sem nenhum poder para fazer tal afirmação, teve a desfaçatez de dizer aos jornalistas que “seria bom analisar e votar logo a “dosimetria”, caso contrário não terá tramitação da isenção do IR”, o que deixou Motta furiosíssimo, sendo obrigado a desautorizá-lo em público sob o argumento de que uma coisa não tem qualquer relação com a outra.

Para várias fontes, Alcolumbre deve manter-se nessa posição irredutível por tempo indeterminado. Só haveria algum tipo de mudança de comportamento se, em algum momento, uma pauta de redução de pena para golpistas passe a parecer palatável à população. Até lá, ele não se mete nessa história e dificulta no que pode. Se cair no Senado de forma inevitável, fará de tudo para que a ideia tenha o mesmo fim que o da PEC da Bandidagem: derrubada sumária, sem choro, nem vela.

FONTE:

Ronaldo Almeida Bezerra




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