Leite aprova projetos da educação
Sob críticas da oposição, governo Leite aprova projetos que afetam educação no RS
Deputados destacaram ainda que governo planeja investir em educação no próximo ano menos do que é estipulado pela constituição
12/12/2023 Luciano Velleda
governo Leite. Foto: Luiza Castro/Sul21
Os deputados estaduais do Rio Grande do Sul votaram na tarde desta terça-feira (12) os projetos de educação enviados à Assembleia Legislativa em regime de urgência pelo governo de Eduardo Leite (PSDB). O primeiro deles a ser apreciado e aprovado, por 38 votos a 14, foi o Projeto de Lei Complementar 517, que busca instituir o “Marco Legal da Educação Gaúcha” e é visto pela oposição como uma forma de agilizar o processo de municipalização do ensino fundamental, já em curso pelo governo estadual.
Para a deputada Luciana Genro (PSOL), contrária ao pacote do governo Leite, a maioria da Assembleia Legislativa não escuta os educadores do Rio Grande do Sul. Ela lembrou que o orçamento para a educação aprovado para 2024 é de 23,24% do orçamento do Estado, abaixo dos 25% que determina a Constituição. “Dizer que esses projetos vão resolver os problemas é uma falácia. O governo não reconhece os problemas.” Ela lembrou ainda outros projetos aprovados pelo governo Leite com o discurso de que iriam melhorar a situação da educação, como o piso do magistério. “A gestão democrática da educação deveria ser amparada e o que vemos é o reforço do autoritarismo.”
Leonel Radde (PT) ironizou o “perigo” representado pelos professores, impedidos de entrar na Assembleia na manhã desta terça. Para o deputado, o pacote de Leite é “um ataque à educação, aos professores e aos funcionários de escola”. Radde questionou ainda como os municípios irão se responsabilizar pelo ensino fundamental. “Esse governo tem o cacoete de terceirizar suas responsabilidades”, afirmou.
Sofia Cavedon (PT) observou que, se o novo marco legal da educação é tão importante e se o governo Leite se propõe ao diálogo, não faz sentido que tenha imposto regime de urgência, impedindo o debate do projeto nas comissões da Assembleia. “Educação não é mercadoria”, gritavam manifestantes nas galerias durante a fala da deputada, em gesto de apoio a Sofia.
Matheus Gomes (PSOL) também questionou o que o marco da educação trará de novo para o Estado. “Não adianta trazer aqui o marco legal e não tratar das questões estruturantes. Isso é só uma boa peça de propaganda”, destacou.
Votação do pacote da educação na Assembleia Legislativa. Foto: Luiza Castro/Sul21
Na sequência foi aprovado, também por 38 votos a 14, o Projeto de Lei 518, que propunha mudanças na composição do Conselho Estadual de Educação (CEEd). Atualmente, o conselho tem 22 vagas, 15 preenchidas por representantes da sociedade civil e sete pelo governo estadual. A proposta do governo era reduzir para 20 vagas, sendo 10 para o governo e 10 para a sociedade civil. Uma emenda da aposição aprovada garantiu a manutenção de 14 representações da sociedade civil no conselho. A diferença é que o governo também passa a ter 14 assentos, totalizando 28.
“Uma educação de qualidade só é possível com a participação soberana dos educadores”, destacou Sofia Cavedon ao criticar o projeto do governo Leite.
Pepe Vargas (PT) ponderou que o governo se diz do diálogo e afirma priorizar a educação, mas ao mesmo tempo reduz a representação de pais, alunos e professores no conselho e aumenta seus representantes: “O governo do diálogo reduz o diálogo no conselho da educação.” Ainda para Pepe, as escolas estão precarizadas e os professores enfrentam uma situação de arrocho salarial. “Esse projeto é a cara desse governo autoritário”, afirmou.
Para Laura Sito (PT), o pacote da educação apresentado só é possível num governo que age com autoritarismo. “Em um ambiente democrático, não seria possível aprovar propostas como essa”, defendeu a deputada. “Não é possível avançar sem o debate amplo e democrático.”
Votação do pacote da educação na Assembleia Legislativa. Foto: Luiza Castro/Sul21
Miguel Rossetto (PT) defendeu que não se discute temas tão importantes como esse em regime de urgência. Para ele, o PL 518 se resume em três pontos: a municipalização e a liberação para que o governo continue seu ajuste fiscal, reduzindo os investimentos em educação; a substituição da gestão democrática pelo controle da escola pública; e a transformação do conselho de educação num “conselho do governo Leite”. Rosseto também chamou atenção para o orçamento do próximo ano, aprovado sem a previsão de cumprir os 25% de repasse à educação, conforme previsto da constituição.
Um dos poucos integrantes da base do governo a se manifestar na tribuna, Claudio Branchieri (Podemos) defendeu a mudança no conselho dizendo que, ao ser paritário, as entidades seguem tendo representatividade. “Vamos desapegar das velhas crenças que têm trazido resultados muito ruins para o Estado”, afirmou, citando indicadores que mostram desempenho abaixo do desejado entre estudantes da rede pública estadual.
Os deputados aprovaram ainda outros dois projetos do pacote de educação proposto pelo governo estadual. O PL 519/2023 foi aprovado com 37 votos favoráveis e 14 contrários. A lei aprovada dispõe sobre a “gestão democrática” do ensino público estadual, repetindo a lei já existente, porém acrescentando que as decisões podem ser tomadas “desde que observadas as diretrizes da Secretaria de Educação”.
O projeto também inclui uma representatividade da administração no Conselho Escolar, além de um processo seletivo em cinco etapas para a escolha de diretores de escolas. O processo terá prova de conhecimento específico, apresentação de um plano de gestão, curso preparatório de 60 horas e votação direta na comunidade escolar, para que candidatos possam estar habilitados à eleição para a direção.
Por fim, a Assembleia também aprovou o PL 520/2023, que trata sobre a Política Estadual de Educação Profissional e Técnica (EPT) com um plano que atenderá, preferencialmente, estudantes do ensino médio. O texto está relacionado com outros projetos da Secretaria de Educação (Seduc), como o ensino médio em tempo integral e o 5º itinerário formativo do Novo Ensino Médio. O projeto foi aprovado por 48 favoráveis e somente 2 contrários – dessa vez mostrando o amplo apoio dos deputados de oposição.
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