Leite investiu metade na Educação
Governo Leite investiu cerca de metade do que deveria na educação em 2022, aponta observatório
Parte da receita foi aplicada pela Secretaria de Educação em pagamento de inativos, o que seria vedado por lei
na Assembleia Legislativa. Foto: Luiza Castro/Sul21
Durante o ano de 2022, a Secretaria Estadual de Educação investiu 13,95% da Receita Líquida de Impostos e Transferências (RLIT) em manutenção e desenvolvimento do ensino, enquanto a emenda constitucional 108/2020 estabelece o percentual de 25%. Isso porque, do valor total de R$ 12 bi investidos (que representam 27,9% da RLIT), R$ 3,7 bi foram aplicados no pagamento de servidores aposentados e outros R$ 2,5 bilhões foram transferidos para os municípios a partir do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Sobram R$ 5,8 bi para a rede estadual.
As informações são do Observatório da Educação Pública, documento apresentado nesta terça-feira (6) pela Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa.
“Esse é um dos dados mais graves, porque ele evidencia o que é que falta. Alguns dizem que tem dinheiro [na educação], mas não tem”, afirma a deputada Sofia Cavedon (PT), presidente da comissão. “O governo indica que, em 2022, aplicou 27,9% RLIT. Só que uma parte foi utilizada para pagar inativos. É ilegal, é proibido. No quesito manutenção, tem que gastar 25% [da Receita] na ativa das escolas”, alega a parlamentar.
O Tribunal de Contas do Estado (TCE) já havia alertado o governo do estado pelo não cumprimento dos percentuais previstos em lei, mas apresentou o percentual de 17,45% investidos em educação. Procurada pela reportagem na tarde desta terça-feira, a Secretaria de Educação ainda não se manifestou.
O investimento reduzido nas escolas estaduais pode explicar o restante dos dados apresentados pelo Observatório, que indica maus resultados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e uma marca histórica de evasão escolar.
Desempenho abaixo da média
Dados do Ideb, consolidados em 2021, mostram que o desempenho dos alunos gaúchos está abaixo da média desde os anos iniciais do ensino fundamental, mas principalmente no ensino médio. No ano de publicação dos dados, a meta a ser atingida era a nota 5 no Ideb para a última etapa da educação básica, mas a nota alcançada foi 4,1. Mesmo assim, o RS ficou no 7º lugar entre as redes estaduais do Brasil e o índice teve crescimento em relação às aplicações anteriores da avaliação, realizadas em 2017 e 2019.
Faz tempo que o estado não atinge a meta do Ideb, apesar de todas as etapas da educação gaúcha apresentarem crescimento no índice. Os melhores resultados foram nos anos iniciais do ensino fundamental: em 2013 a meta era atingir 5,3 e o índice ficou em 5,5, número que se manteve em 2015.
“A evasão escolar no ensino médio chama atenção. Temos 11% de abandono em 2022, uma marca histórica”, aponta Cavedon. O percentual é reflexo, segundo a deputada, da necessidade de trabalho e da falta de aprendizagem nos anos de pandemia, marcados pelo ensino remoto, muitas vezes dificultado pela falta de acesso à internet.
No ensino médio, a taxa de abandono escolar havia sido de 10% em 2013 e vinha crescendo na última década, até atingir 11,1% em 2021 e ficar praticamente estagnada em 2022. O índice de reprovação ficou em 8,9%, o menor desde 2013, considerando que durante a pandemia algumas redes de ensino adotaram a política de não reprovar ninguém – em 2020 e 2021, a reprovação é praticamente nula em todas as etapas de ensino.
Cavedon pontua que, além de coincidir com a pandemia, a taxa de evasão escolar cresceu junto com a implantação do Novo Ensino Médio. “A Conferência Nacional de Educação (Conae) já votou pela revogação dessa nova base curricular”
Menos matrículas em menos escolas
Dados consolidados em janeiro de 2023 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) mostram que as matrículas na rede estadual de ensino vêm caindo nas últimas décadas. Eram mais de um milhão em 2013 e passaram a ser 749 mil em 2021. Houve um crescimento de 3,7% em 2022, totalizando 777 mil alunos matriculados. A prévia do Censo Escolar realizado em 2023 indica que, dentre as etapas de ensino, apenas creche e pré-escola apresentaram crescimento nas matrículas. A soma de novos alunos nessas etapas é de 5,4 mil crianças.
Também diminuiu o número de escolas da rede estadual – em uma década, 227 foram fechadas. Dessas, 140 eram escolas do campo, que já existiam em menor quantidade. “Existe, definitivamente, uma retirada da educação no campo. Isso tem a ver com evasão escolar, em especial a partir do 5º ano. Tem a ver com estudantes que passam horas no transporte escolar”, alega Cavedon.
Jovens trabalhadores deixam de estudar enquanto EJA é enxugado
Mais da metade (51,4%) da população do RS com 25 anos ou mais concluiu, no mínimo, o ensino médio. O dado é de 2022, consolidado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) contínua. Mesmo assim, o estado ficou abaixo da média brasileira de 53,2%. Ao mesmo tempo, vem caindo desde 2017 o número de matrículas na Educação de Jovens e Adultos (EJA). São 53,9 mil alunos a menos em cinco anos – período que abrange a pandemia de covid-19. De 2021 para 2022, houve aumento de 8,4 mil matrículas.
“Quase metade da nossa juventude está trabalhando ao invés de estudar”, reforça a deputada. Ela se refere ao dado de que 42,2% dos jovens de 15 a 29 anos trabalham e não estudam. “O EJA é muito importante para essas pessoas. Para eles, o currículo normal, diurno, não serve. Mas o EJA tem sofrido uma queda profunda de atendimento”, afirma. Cavedon relata que, nos últimos anos, a Comissão tem atendido escolas lutando para manter aberta a educação de jovens e adultos.
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