Para driblar as dificuldades do ensino remoto na educação pública, diversas ações servem de bons exemplos. A quase 3 mil quilômetros de Porto Alegre, em Colorado do Oeste, município rondoniense com cerca de 15 mil habitantes e distante mais de 700 quilômetros da capital, Porto Velho, uma conversa virtual com os alunos do 8º ano da Escola Paulo de Assis Ribeiro acendeu o sinal de alerta na professora de Língua Portuguesa Clezilaine de Souza Chaves, 31 anos e 10 dedicados ao magistério. 

Ao ouvir relatos dos estudantes contando que gostam de ler, porém, não têm livros em casa, a docente percebeu que era preciso agir. Foi para a internet pesquisar como poderia disponibilizar algumas obras e, hoje, é uma disseminadora do projeto Biblioteca Virtual, no qual oferece obras em PDF para leitura em computadores, tablets ou celulares. Atualmente, o acervo conta com 24 livros, que serão renovados a cada dois meses.

— Mesmo com o ensino remoto, nós temos feito o possível para manter esse vínculo tão importante com os alunos. Para isso, temos buscado diversas formas de envolvê-los e, apesar das dificuldades, acredito estar dando certo. O professor é um ser destemido, que busca, que está sempre procurando uma forma de ir além. Isso nos permite, muitas vezes, fazer grandes descobertas e trazer benefícios para os nossos alunos —avalia a docente.

Ainda assim, mesmo com todo o esforço empreendido, os desafios ainda são enormes. Os maiores, conta, são a internet de baixa qualidade e poucos recursos tecnológicos para alunos e professores.

— Seria injusto dizer que estamos todos no mesmo barco, mas continuamos remando na mesma direção — conclui Clezilaine.

Meios de educação

Tradicionalmente conhecidos por meios de comunicação, rádios e televisões passaram, em 2020, a ser usados também como meios de educação em alguns Estados brasileiros. Em Goiás, no Centro-Oeste, o governo estadual usou as redes de rádio e de televisão estatal para divulgar conteúdos. Durante a manhã, as aulas são voltadas para o Ensino Fundamental, e à tarde, para o Médio. Com isso, garante Fátima Gavioli, secretária de Educação de Goiás, as lições conseguiram chegar até mesmo nas áreas mais distantes.

— Quer aula pela televisão? Está aqui. Por apostila? Tem. Pelo rádio? Também. Demos para eles todas as opções, de forma que, para onde ele virar, tem aula.

Aliada a essa estratégia, a pasta goiana manteve o repasse aos municípios referente ao transporte escolar para que eles fizessem o trabalho de distribuição da merenda escolar e dos materiais didáticos para regiões menos acessíveis. Assim, comemora Fátima, o Estado conseguiu atingir, no Ensino Médio, 63% da aprendizagem prevista para o ano letivo.

— Não vai chegar a 100%, mas confesso que ter essa avaliação me deixa satisfeita — diz.

Para 2021, a secretaria investiu na compra de equipamentos como notebooks e deve disponibilizar um valor de R$ 100 para que eles contratem um serviço de internet.

Diversas frentes

Considerado um modelo na educação durante a pandemia, o Estado do Paraná agiu em diversas frentes para garantir que o ensino chegasse aos mais de 1 milhão de alunos da rede estadual pública. Inicialmente, como medida emergencial, antecipou o recesso do meio do ano para março, ganhando duas semanas para fazer o planejamento, que resultou em uma oferta de videoaulas disponíveis em diversas plataformas.

Para tornar as videoaulas viáveis, a Secretaria de Educação e Esporte paranaense selecionou professores da própria rede para gravar os conteúdos, transmitidos em três canais de televisão, das 8h às 20h, e com reprise em outros horários. Esse mesmo material foi reproduzido no YouTube no aplicativo Aula Paraná — esse último contou com uma parceria do Google, que isenta o uso de dados móveis para os domínios de professores e alunos cadastrados.

— Foi a forma de inclusão que encontramos. Tem crianças e adolescentes que só têm smartphones e a família não consegue bancar os créditos. Para alunos e professores cadastrados, há isenção desses dados. Assim, conseguimos contemplar as quatro operadoras, com cobertura de quase 100%. Só não chegou onde não chega 3G e 4G — explica Roni Miranda Vieira, diretor de Educação da Secretaria de Educação e Esporte (SEED) do Paraná.  

Outra ferramenta fundamental de acompanhamento dos estudantes foi a adesão ao Google Classroom, ambiente no qual a SEED criou salas de aulas para esclarecimento de dúvidas, realização de tarefas e monitoramento dos alunos — caso algum não preenchesse as atividades propostas, a rede era mobilizada para entender os motivos e trazer o estudante de volta. Por fim, como medida paliativa, o governo ainda disponibilizou materiais impressos.

Enquanto tudo isso acontecia em 2020, a SEED se mobilizou para qualificar os professores, criando o grupo Formadores em Ação, que teve como objetivo formar e preparar os docentes para usar melhor as tecnologias. Com essa preparação, em 2021 o Paraná "virou a chave", diz Vieira. Agora, os professores da rede dão aulas síncronas respeitando as turmas de cada escola e, para quem não consegue acompanhar esses conteúdos, a oferta via TV, aplicativo e YouTube continua.

No Litoral Norte, planejamento

Mais perto de nós, em Tramandaí, no Litoral Norte, vem outro bom exemplo. Por lá, prefeitura e Promotoria Regional de Educação sentaram juntas para discutir como tratar da melhor forma possível o ensino remoto. Desse debate, nasceu um plano estratégico para fazer a transição do ensino presencial para o à distância, que incluiu, entre outras ações, investimento na qualificação de professores e demais profissionais da rede escolar, criação de ambientes digitais para alunos e docentes e repactuação do currículo.

— Não poderíamos transpor a aula presencial para a remota. Sabemos da distância entre uma e outra. Então, reajustamos o currículo, estabelecendo quais conteúdos eram essenciais e aqueles que poderíamos deixar para o momento da retomada presencial — explica Andrios Bemfica dos Santos, chefe do Departamento Pedagógico da Secretaria de Educação de Tramandaí.

Muito embora tenha conseguido se organizar para atender melhor os estudantes da rede, Tramandaí ainda enfrenta os mesmos desafios que grande parte dos municípios brasileiros: oferecer internet para garantir o acesso às atividades. Para minimizar as desigualdades locais, a prefeitura manteve contato próximo com as escolas para identificar aquelas com maior dificuldade e disponibilizou guias de aprendizagem e materiais impressos.

— Nossas escolas nunca estiveram fechadas. Sempre ficaram abertas com atendimento em plantões para as equipes oferecerem esses recursos. Às vezes a família tem internet, mas não tem impressora. Então, a escola faz esse trabalho. Os professores ficam à disposição dos pais e responsáveis para tirar dúvidas.

Os bons frutos do trabalho refletem nos números da evasão que, nos últimos quatro anos, nunca subiram. No final de 2016, 148 alunos evadiram, o equivalente a 3,09%. Em 2020, foram 101, com percentual de 1,94%, ilustra Santos.

— É um trabalho muito intenso no combate à evasão. Temos o Projeto Ostra, que é importante no combate à evasão e mitigação da distorção série-idade. Ele visa atender alunos com 15 anos ou mais que, historicamente eram encaminhados ao ensino noturno. Nós os trouxemos para o diurno em uma classe multiseriada, onde há uma proposta curricular diferenciada — fala Santos.

 

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