Matam o banho diário

Matam o banho diário

Tomar banho todos os dias é cringe?

Celebridades matam o banho diário

 

    O que há em comum entre Mila Kunis, Ashton Kutcher, Kristen Bell, Jake Gyllenhaal, Julia Roberts, Brad Pitt, Johnny Deep, Charlize Teron, Dwayne Johnson, Jason Momoa, Anthony Mackie e o brasileiro Cartalouco? Não, caro leitor, que talvez nem tenha intimidade com todos eles, não é o fato de que são famosos em graus diferentes. É que eles não tomam banho todos os dias. Um cronista do contemporâneo não poderia ignorar essa variação cultural. O banho diário está sendo contestado. Um pilar da cultura ocidental, herança dos povos tropicais originários, passou a ser lavado sem água e sabão. Por que mesmo?

Uns alegam que faz mal para a pele. Outros, que não seria um hábito natural. A coisa já tomou proporções estatísticas e invade os jornais. Já li três reportagens sobre o assunto. Entre os britânicos, 17% não tomariam mais banhos diários. Entre os franceses, que sempre buscam dobrar o que os ingleses fazem, seriam 34% a fugir da água. Especula-se que os dados estariam, nos dois casos, amplamente subestimados. Para um francês tomar banho significa banho de banheira. Restaria a ducha diária. Mesmo assim, questões metodológicas e semânticas à parte, a cultura antibanho diário estaria em alta. Haveria até uma nova categoria política, a dos que negam o banho.

Cientistas contestam. Mas há divisões. Paulo Criado, Coordenador do Departamento de Dermatologia e Medicina Interna da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), em matéria do jornal “O Globo”, garante que “até que alguém prove o contrário, isso vai contra a natureza humana”. Segundo ele, “a gente tem uma microbiota na pele formada por bactérias que vivem em harmonia. A partir de algum tempo, bactérias que são danosas podem crescer e colonizar a pele, como acontece na dermatite atópica, e estimular inflamações e enfisemas”. Mas o médico americano James Hamblin, que dá cursos na Universidade de Yale, autor do livro “Clean: The new science of skin”, sustenta o contrário. Para ele, desperdiçamos mais de anos de vida tomando banho.

Um artigo canadense trata a questão como fake news: “Se laver tous les jours, mauvais pour la santé? Faux”. Dispensa tradução. De onde vem subitamente esse horror ao banho? Alguns ativistas antibanho afirmam que se trata de desconstruir uma imposição cultural datada. Já se teria até forjado um slogan: o banho diário é uma invenção recente. Há previsões categóricas: o banho diário não tem futuro. Nem presente. Até recentemente a divisão era outra: entre os que tomam banho ao levantar e os que tomam banho ao deitar. A terceira via é formada pelos que fazem as duas coisas. Há quem assegure que se pode compreender tudo de uma pessoa a partir dessa divisão estrutural. Para quem possa querer traçar o meu perfil, tomo banho ao saltar da cama.

Tomar banhon todos os dias seria cringe.

Numa cultura interativa, não posso deixar de fazer uma enquete: o leitor que me acompanha nesta crônica de cunho sociológico toma banho: a) todo dia, b) duas ou três vezes por semana, c) aos sábados, d) no verão? As respostas serão mantidas em sigilo por cem anos.

 

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