Negligência ou incompetência
Negligência ou incompetência
Fabiano da Costa.
20/6/2025
O governo de Eduardo Leite (PSD) já pode pedir música no Fantástico: por negligencia, por interesse político ou por pura incompetência, o estado do RS vivencia a sua terceira tragédia climática em menos de 2 anos. E não foi por falta de aviso: em todas as situações, Leite não aceitou advertências da ciência e nem as reclamações da oposição. O resultado desta experiência de Estado Mínimo, empilha cascotes, escombros e também cadáveres. Ou seja: é a Necropolítica do Grande Capital aplicada no mais violento laboratório do Neoliberalismo, já que Leite e seu antecessor, José Ivo Sartori (PMDB), venderam quase tudo o que o estado tinha em ativos.
As chuvas que começaram na quarta-feira, 18 de junho, já afetaram 106 municípios, deixando ao todo, 6500 desabrigados. Ao todo, 6 dos 24 rios que abastecem o estado, estão sob cheia. O caso mais assustador é Eldorado do Sul: a cidade foi praticamente varrida nas cheias de maio de 2024, e agora, em apenas dois dias de chuva, já tem 500 pessoas sendo mantidas em 2 abrigos. Na capital, são menos de 500 desabrigados e por isto, o governo e a RBS dizem que não há motivo para pânico. De uma certa maneira, não estão mentindo: da outra vez, o negacionismo climático do PSDB e do PMDB custaram a vida de quase 300 pessoas. Agora, foram só 3 mortos.
Enquanto isto, desde que Leite anunciou que é pré-candidato a presidência, a propaganda de seu governo se confunde com a do Grupo RBS: a retransmissora da Rede Globo no estado, tem alternado em seus canais de rádio e TV uma vinheta em que afirma “Pra (sic) cima Rio Grande”. A mensagem de ufanismo supremacista branco, típica desta província desgraçada e privatizada, é seguida de imagens de gente branca europeia por toda a propaganda, antes de encerrar com 2 pessoas negras, em volta de 5 brancas sorrindo. Segundo a própria RBS, que é como uma assessoria de comunicação de Leite, “A campanha, narrada pelo ator gaúcho José Victor Castiel, busca exaltar o orgulho de ser gaúcho e a esperança em um futuro melhor, com imagens da superação e resiliência do povo gaúcho”.
O texto da Campanha afirma que “Achamos um estado maior e melhor que está em construção. Iluminado pelos fatos, guiado pela força da nossa gente. Impulsionado pela confiança de que juntos estamos avançando. Mas ainda há muito a ser feito. (...) Descobrimos do que somos capazes quando focamos naquilo que nos une. Nosso Rio Grande sempre grande, porque lado a lado estamos reescrevendo o que está por vir”. Tudo isto com imagens do cavalo caramelo e daquele Cristo de Encantado. E está tudo bem!
Curioso um canal de TV fazer uma propaganda destas? Não aqui, onde a RBS é, além do maior partido político do estado, o coração e a mente de 11 milhões de pessoas. Por exemplo: hoje durante todas as imagens da desgraça da Tragédia, Eduardo leite não foi citado pelo jornalismo da RBS. Durante todos os meses que se seguiram ao que ocorreu em maio de 2024, a RBS fechou a boca sobre a sua (ir)responsabilidade na tragédia. Mas pasmem: os apresentadores do Jornal do Almoço e dos noticiários do Grupo RBS, bem como da Rádio Gaúcha, exigem, em voz alta, que “O governo federal assuma a sua responsabilidade na reconstrução do estado”. Os privatistas da RBS adoram Estado, sobretudo quando ele serve aos seus interesses. E o que diz a propaganda oficial do governo? “Fizemos muito, mas ainda há muito o que fazer”.
Enquanto o governador desaparece quando mais precisamos dele, o governo federal mostra que há política de Estado justamente em um estado, onde a população mais deseja e vota por políticas de Estado Mínimo. Isto é curioso, mas também é típico da gauchada reacionária: “Estado mínimo não, mas sim do tamanho ideal para as minhas necessidades pessoais”. Entre as ações do governo federal, destacam-se o “Volta por Cima”, que beneficiou mais de 100 mil famílias com auxílio financeiro para aquisição de itens básicos; e o “A Casa é Sua”, que permite a construção de moradias temporárias e definitivas para os que perderam suas casas em maio de 2024. Estes programas são os responsáveis por enxertar bilhões no estado do RS, enquanto a RBS e Eduardo Leite comemoram que a economia local cresce mais do que a média nacional. Entenderam agora por que nosso estado está gerando mão de obra nos setores de serviços e construção civil?
O vice-governador Gabriel Souza (PMDB), por outro lado, sonha que Leite dispute a presidência, para que ele se torne o cabeça da serpente PSD-PSDB, comandada pelo PMDB. Gabriel era deputado estadual, junto do ex-prefeito de Rio Grande, Fabio Branco, e do prefeito da capital, Sebastião Melo, quando os três votaram pela destruição do Código ambiental gaúcho. Ecologistas são unânimes: a destruição do Código ambiental, através de votação na Assembleia Legislativa, e sob completo silêncio dos veículos da RBS, foi determinante para as desgraças de setembro de 2023 e maio de 2024. Gabriel ainda reapareceria nas notícias, porque a família de sua esposa, Talise Tiecher Souza, segundo a PF, financiou o transporte de terroristas para a tentativa de Golpe do 8 de janeiro.
Gabriel, que quer chegar ao governo com o beneplácito da gauchada, da FARSUL, e da RBS, teve a displicência de gravar um vídeo cobrando o governo federal. Vamos colocar na ponta do lápis: dos 111,6 bilhões de reais destinados ao Estado, 89 bi já estão ingressos na economia estadual. Ou seja: 80% do que foi previsto para dois anos, já ingressou em apenas 12 meses, através de ações de infraestrutura das cidades, estímulo da economia, repasse direto às famílias e aquisição de bens. Com uma população de 11,2 milhões de habitantes e 5,3 milhões de moradias distribuídas em 497 municípios, o Governo estadual e as prefeituras receberam, nos 10 primeiros meses de 2024, R$ 29,2 bilhões de reais do Governo Federal, já que a primeira onda de desastres ambientais começou em setembro de 2023.
Importante, entretanto, também reconhecer que o governo estadual entrou com o aporte de 7 bilhões de reais até agora, mas o estado, que vendeu suas maiores companhias e não tem mais quaisquer ativos, não tem mais capacidade alguma de investimento. É neste momento que a gauchada bombachuda e reacionária, que detesta a presença do Estado na hora de pagar impostos, deveria perceber que o Deus Mercado está se fudendo para o Pampa.
Por fim, é preciso afirmar aqui o que o país não sabe, porque a RBS não deixa que ninguém saiba: Leite é um dos governadores que menos investe em educação e por isto, nenhum gaúcho figura entre as maiores notas do ENEM. O salário de um professor da rede estadual é o mais baixo entre todos os 27 entes federativos do Brasil. No ENEM, dos 279 mil inscritos no estado, quase a metade não compareceu às provas, e nenhum chegou à nota 1000 na redação. Além disto, Leite liquidou a CEEE (Companhia Estadual de Energia Elétrica) por apenas 150 mil reais e entregou, baratinho, também a CORSAN, a Companhia de Saneamento do estado.
Quer saber mais sobre Leite? Um estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) mostrou que dos 11 milhões de gaúchos, quase metade (aproximadamente 5,4 milhões de pessoas) tem dificuldade para se alimentar e 14% (cerca de 1.540.000 gaúchos) passam fome. A rede de Banco de Alimentos vai mais longe e afirma que 1,7 milhão não comem. Mas tudo bem: “A Gaúcha é a minha voz”.
E o que restou do estado, após as passagens dos furacões Sartori e Leite? Pouco, muito pouco ou quase nada. Quando o Gabriel chegar, restará nada para ele entregar à iniciativa privada. Por agora só temos uns 5 biguás, uma meia dúzia de preás, umas 10 capivaras e umas prendas bonitas, que a gauchada logo logo entregará ao primeiro gringo que quiser adquiri-las. Sabe como é privatista não? É machão, misógino e ufanista até que cheguem os gringos.