O ódio começa em casa
O ódio começa em casa
Ruy Castro
Há pouco, jovens enrolados em bandeiras do Brasil em São Miguel do Oeste (SC) puseram-se em formação e fizeram a saudação nazista. Há uma célula nazista na cidade, que produz panfletos e bandeiras com a suástica. Dias depois, alunos de uma unidade da UFSC picharam suásticas e frases contra judeus nos banheiros. E meninos de um colégio em Valinhos (SP) postaram mensagens em louvor a Adolf Hitler, propondo que se fizesse com os petistas "o que Hitler fez com os judeus."
Numa escola em Presidente Prudente (SP), um aluno de 10 anos foi fantasiado de Hitler a uma festa da instituição. Em Curitiba, estudantes vestidos com a camisa da seleção hostilizaram com violência colegas favoráveis à vitória de Lula. As alunas não foram poupadas: "Vamos encher as meninas petistas de porrada." Em várias escolas, professores também são ameaçados. Um deles teve de ouvir: "Meu pai vai f... com você."
Esses agressores são garotos em idade escolar e não nasceram assim. Foram ensinados a odiar e a discriminar — por sua cidade, pelos grupos que frequentam ou, bem provável, em casa. Quantos pais e mães, hoje no Brasil, não estarão inoculando o preconceito e o nazismo em seus filhos?
Nada disso parece estar provocando indignação nos militares. Estão mudos a respeito. Em 1942, o Brasil declarou guerra ao nazifascismo e, em 1944, mandou para a Europa uma força expedicionária de 25.000 homens. Os pracinhas, como eram chamados, enfrentaram a inexperiência, temperaturas de 15 graus abaixo de zero e soldados alemães que atiravam neles de cima para baixo. Mas os brasileiros foram bravos, heroicos e vitoriosos.
Os restos dos 467 rapazes mortos em combate descansam no Monumento aos Pracinhas, aqui no Rio. Há uma pira eternamente acesa para eles e todo ano faz-se uma bela homenagem. Mas omitir-se diante de arroubos neonazistas é o mesmo que cuspir nesta pira.
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