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Chicote e cenoura, o cardápio de Eduardo Leite para professores

16 agosto 2025   por Juremir Machado da Silva

 

A meritocracia tem uma crença, a de que as pessoas só se esforçam se forem recompensadas ao final, especialmente em dinheiro. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, acredita nessa ideologia da competição. Essa ideia também é conhecida como política do chicote e da cenoura.

Vai mal, sofre punição. Vai bem, ganha cenoura. Como estudantes gaúchos têm tido desempenhos fracos em testes de conhecimento, o governo acredita que está faltando motivação para competir por ausência de premiação. O governo então lançou o Programa de Reconhecimento da Educação Gaúcha, um pacote de mimos monetários para quem atingir certas metas.

Diretores de escolas, vice-diretores, orientadores, supervisores, secretários escolares, professores e demais servidores que baterem as metas receberão até um 14º salário. Também haverá premiação pela capacidade de manter alunos em sala de aula, diminuindo faltas e evasão.

Alunos serão premiados de acordo com a seguinte tabela:

“Premiação por desempenho no Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Rio Grande do Sul (Saers) – Alunos do 5º e 9º ano do Ensino Fundamental e da 3ª série do Ensino Médio das escolas que fazem o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

Modelo de premiação – Melhores colocados por turma no Saers (participação mínima de 80% da turma no Saeb).

1º lugar → R$ 3.000

2º lugar → R$ 2.000

3º lugar → R$ 1.000

Premiação por participação no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb)

Sorteio de um aluno por turma – R$ 2.000, condicionado à participação no Simulado e à presença mínima de 80% da turma.

Premiação por desempenho no Simulado Saeb, que ocorre entre 8 e 22 de setembro – Alunos do 5º e 9º ano do Ensino Fundamental e da 3ª série do Ensino Médio.

Modelo de premiação – Melhores colocados por turma (condicionado à participação mínima de 80% da turma):

1º lugar → R$ 2.000

2º lugar → R$ 1.000

3º lugar → R$ 500

Sorteio de um aluno por turma – R$ 1.000, condicionado à participação no Simulado e à presença mínima de 80% da turma.”

A presidente do CPERS, sindicato dos professores do Estado do Rio Grande do Sul, Rosane Terezinha Zan, alertou para os problemas dessa concepção que valoriza mais a competição do que a cooperação: “Isso é uma forma errada de fazer a educação, porque deve ser humanizada.

A educação não é uma máquina e a gente sabe que as escolas não são homogêneas. Nós temos escolas heterogêneas em diferentes pontos do Estado. Isso nos coloca de forma desumanizada, porque quando você coloca as pessoas para tentar atingir metas, isso que o governo está querendo fazer, é desumano”.

A crítica de jornalistas foi imediata. É comum no meio jornalístico acreditar que colocar para competir é natural e necessário. Se o mundo é cruel, melhor ensinar logo os métodos que regem a realidade.

Não faltaram ironias.

A competição não seria entre escolas, mas entre os alunos de uma mesma escola. Como são universos muito distintos, o fosso entre escolas se aprofundará e será explicitado com os indicadores recolhidos. A hierarquia escolar dividirá escolas quem batem metas e escolas que não chegam lá.

A base da percepção do governo é clara: está faltando esforço para professores e alunos. Como o Estado não quer admitir o seu fracasso, repassa a responsabilidade para docentes, funcionários e discentes.

Grandes mestres da educação, porém, não costumam colocar o problema dessa maneira, nem apostar nessa solução simplista ou simplória.

Edgar Morin, um dos mais celebrados pensadores da educação no mundo, em Só um instante, textos pessoais, políticos, sociológicos, filosóficos e pessoais (Sulina, 2005), sustenta que só uma “política de civilização urbana” poderá resultar em transformações concretas no cotidiano:

“Pensar o ressurgimento da responsabilidade geral requer uma tomada de consciência que passa, evidentemente, pela educação”, diz o mestre centenário.

Passar pela educação não significa educar pela competição e para a competição. É possível educar pela cooperação: “É preciso abandonar os dogmas reinantes do neoliberalismo, da competição cega e exacerbada, do desenvolvimento pelo crescimento exponencial”.

Estimular a competição entre vulneráveis é uma estratégia cínica que tira a responsabilidade do Estado e a repassa aos que deveriam receber todos os meios necessários ao desenvolvimento cooperativo e solidário. O prêmio é a cenoura. O chicote é o estigma de não ter conseguido.




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