Oferta de duas trilhas
Secretaria da Educação estuda parcerias para ofertar ao menos duas trilhas a todos os alunos do Novo Ensino Médio
Levantamento de pesquisadores da UFRGS indica que 156 escolas oferecem apenas uma opção, o que está abaixo do mínimo exigido
27/6/23 - VINICIUS COIMBRA
Acordos com instituições do Sistema S e instituições privadas são analisados pela pasta
para suprir a necessidade das trilhas de aprendizagem.
Bruno Todeschini / Agencia RBS
A Secretaria Estadual da Educação (Seduc) informou que trabalha para fechar parcerias como meio de oferecer ao menos duas trilhas de aprendizagem para todos os alunos do Novo Ensino Médio no Rio Grande do Sul. Nesta terça-feira (27), um trabalho feito por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) indicou que quase 15% das 1.073 escolas estaduais analisadas no levantamento oferecem apenas uma opção aos estudantes.
A prática desrespeita o mínimo descrito (duas opções) na resolução número 365 do Conselho Estadual de Educação do Rio Grande do Sul (CEE-RS), que institui as normas complementares para esta etapa do ensino. O resultado da pesquisa, porém, não é tratado como negativo pelo governo estadual, segundo Marcelo Jerônimo, subsecretário de Desenvolvimento da Educação da Seduc.
— Para a Secretaria de Educação, (o resultado do estudo) é uma sinalização positiva em relação ao processo de implementação, porque 85% das escolas estaduais já estão oferecendo mais de um itinerário. Observarmos que, no antigo Ensino Médio, não se falava de itinerários, ou seja, 100% dos alunos tinham que fazer um único itinerário — afirma.
As mudanças no currículo do Ensino Médio ampliaram o mínimo de horas de 2,4 mil para 3 mil, com o limite de 1,8 mil horas para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), nas disciplinas "tradicionais", como Matemática e Língua Portuguesa.
O restante – 1,2 mil horas –, é destinado para os chamados Itinerários Formativos, que são descritos pelo governo estadual como “aprofundamentos das áreas de conhecimento, organizados em 24 trilhas, que enfatizam uma área focal e outra complementar, entre as quais os estudantes poderão fazer suas escolhas com foco na realização de seu projeto de vida”.
A análise da etapa no Estado indica que 156 escolas (14,6%) ofertam uma trilha e 744 (69,3%) têm duas. Apenas 173 instituições (16,1%) constam com três opções aos alunos. O subsecretário diz que a Seduc pode firmar parcerias para que seja possível o oferecimento de ao menos duas trilhas nas 156 escolas que oferecem apenas uma opção atualmente.
Isso, segundo ele, poderá ser feito com acordos com instituições do Sistema S (Senai, Sesi, Senac e Sesc). Essa medida é vista como um modo de beneficiar instituições de ensino que são as únicas estaduais dos municípios. Acordos com escolas privadas também são analisados pela pasta para suprir a necessidade das trilhas de aprendizagem. Marcelo Jerônimo diz que não há um prazo para isso.
— São escolas muito pequenas que não têm a possibilidade viável, neste momento, de oferecer (trilhas) para duas turmas. Seriam pouquíssimos alunos para um custo elevadíssimo para oferta. O processo de implementação serve pra isso: a gente vai percebendo os problemas, vai promovendo ajustes, é o que as secretarias de educação no Brasil inteiro estão fazendo. Ou seja, à medida que a gente vai implementando o Novo Ensino Médio, vamos vendo os pontos que precisam ser corrigidos — acrescenta Marcelo Jerônimo.
O subsecretário de Desenvolvimento da Educação da Seduc esclarece que as instituições de ensino não são obrigadas a oferecer as 24 opções descritas no Novo Ensino Médio no RS.
— Em nenhum Estado, em nenhuma normativa, exige que sejam oferecidas todas as trilhas em todas as escolas. Isso não faz sentido. O que faz sentido é a gente garantir aos estudantes a possibilidade de participarem do processo de escolha — acrescenta.
FONTE:
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Quase 15% das escolas estaduais do RS oferecem apenas uma trilha de aprendizagem no Novo Ensino Médio, mostra estudo
Dado foi apresentado em uma audiência pública nesta terça-feira (27) na Assembleia Legislativa
27/6/23 - Vinícios Coimbra
Um levantamento inédito feito por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) indica que mais de 150 escolas estaduais do RS (14,6%) oferecem apenas uma trilha de aprendizagem no Novo Ensino Médio. A prática desrespeita o mínimo descrito na resolução número 365 do Conselho Estadual de Educação do Rio Grande do Sul (CEE-RS), que institui as normas complementares para esta etapa do ensino.
Contatada por GZH, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) informou que trabalha para fechar parcerias como meio de oferecer ao menos duas trilhas de aprendizagem para todos os alunos do Novo Ensino Médio no RS.
Segundo a resolução, “as instituições de ensino devem ofertar, ao menos, duas trilhas nos itinerários formativos, de modo a garantir que o estudante possa exercer a escolha da trilha que irá cursar”, diz o material que pode ser acessado aqui. “Caso a instituição de ensino oferte apenas uma trilha, pode estabelecer parcerias com instituições para o estudante ter mais opções de escolha.”
O trabalho dos pesquisadores analisa 1.073 escolas estaduais: 156 delas (14,6%) ofertam uma trilha e 744 (69,3%) têm duas. Apenas 173 instituições (16,1%) constam com três opções aos alunos. A Escola Estadual de Ensino Médio Thomas Fortes, de Santiago, é a que tem mais trilhas: seis.
O resultado foi apresentado em uma audiência pública na manhã desta terça-feira (27) na Assembleia Legislativa. O estudo foi feito pelos pesquisadores Ângela Chagas, Maria Beatriz Luce e Mateus Saraiva, do Núcleo de Estudos de Política e Gestão da Educação da Faculdade de Educação UFRGS. Os dados são da Secretaria Estadual da Educação (Seduc) e foram obtidos pelo trio por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) em abril e maio deste ano.
— Qual é a liberdade de escolha de um estudante que só tem uma trilha? Há muitos municípios pequenos no Rio Grande do Sul: 72% deles têm apenas uma escola estadual, e dessas, 83 têm apenas uma trilha. Então, o estudante não pode nem ir para outra escola, porque, para isso, ele teria de ir para outro município. Então, nessas localidades, é ainda mais grave a situação — analisa Ângela Chagas, doutoranda em Educação na UFRGS.
A mudança na última etapa do Ensino Básico entrou em vigor em 2022, com o objetivo de dar mais autonomia às escolhas dos alunos. A alteração, porém, tem sido alvo de reclamações de entidades e especialistas. O desacordo fez o governo federal sinalizar a suspensão da implementação do Novo Ensino Médio neste ano, o que ainda está em debate.
— Quando foi apresentada essa alteração no Ensino Médio, o discurso dos defensores das mudanças dava destaque a essa liberdade de o estudante poder escolher no que ele quer aprofundar o conhecimento. Mas, na prática, estamos vendo que isso não acontece — acrescenta Ângela Chagas.
As mudanças no currículo do Ensino Médio ampliaram o mínimo de horas de 2,4 mil para 3 mil, com o limite de 1,8 mil horas para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), as "tradicionais", como e Matemática e Língua Portuguesa.
O restante – 1,2 mil horas –, é destinado para os chamados Itinerários Formativos, que são descritos pelo governo estadual como “aprofundamentos das áreas de conhecimento, organizados em 24 trilhas, que enfatizam uma área focal e outra complementar, entre as quais os estudantes poderão fazer suas escolhas com foco na realização de seu projeto de vida”.
Redução no número de períodos
O levantamento dos pesquisadores da UFRGS afirma que foi verificada redução no número de períodos “em praticamente todas as unidades curriculares tradicionais” na comparação com os horários anteriores à reforma, o que levou à “diminuição do número total de períodos nas diferentes áreas do conhecimento”. Eles citam dois dados que atestam o novo formato: Língua Portuguesa passou de 15 para nove períodos semanais nas três séries da etapa e Matemática teve redução de 18 para 10 encontros por semana.
O trabalho também alerta para a desigualdade entre o diurno e os demais turnos. Foi identificado que mais de 40% das escolas oferecem apenas uma trilha no período da noite, no qual se concentra a maioria das matrículas dos alunos trabalhadores, conforme os pesquisadores.
— O estudo é importante para mostrar, a partir dos dados e evidências, que (a mudança) não está funcionando, que os alunos da rede estadual têm uma limitadíssima liberdade de escolha e enxugamento da formação geral. Era falado que o Novo Ensino Médio combateria a evasão. Pelo contrário: os estudantes estão se sentindo desmotivados, porque têm um monte de coisas diferentes que não estão conectadas e que não fazem sentido para eles — pontua Ângela.
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