Faço parte da multidão incauta de turistas que, de alguma forma, mesmo inconscientemente, contribuiu para o desgaste que vem danificando, ano após ano, ao longo das últimas décadas, um dos lugares mais míticos e belos do mundo: Machu Picchu, em Cusco, no Peru.
De tanta gente caminhando no complexo arqueológico, as pedras da "cidade perdida dos incas" estão deterioradas, algumas de forma irreversível. Não por menos, três setores da cidadela acabam de ser fechados pelo governo peruano na tentativa de conter os danos. É o preço do turismo de massa.
Foi inesquecível, em 2016, a sensação de ver de perto aquela obra-prima da arquitetura e da engenharia, declarada Patrimônio Histórico e Natural da Humanidade pela Unesco em 1981. Mas não sinto nenhum orgulho de ter colaborado para essa situação.
O desfecho é fruto da soma de cada passo, de cada uma das pessoas que, todos os dias circulam pelo espaço (entre 3,6 mil e 3,8 mil turistas locais e estrangeiros, diariamente). Fiz o passeio quando já havia uma série de restrições, justamente pelos riscos que as visitas impunham ao local, erguido no século 15, esquecido por décadas e redescoberto em 1911.
Havia (e há) limitações de horários e de tempo para os acessos, e o valor dos ingressos já era alto à época, inclusive como forma de compensação. Ainda assim, a decisão de fechar setores prova que tudo isso foi e continua sendo insuficiente para frear os estragos provocados pela presença humana, ainda que a maioria das pessoas não tivesse a intenção de causar problemas.