Pandemia: como fica a educação?

Pandemia: como fica a educação?

Pessoa Com Computador E Smartphone – Steinar Engeland Unsplash

 

Pandemia: como fica a educação?

Tiago Tristão Artero

As alunas e os alunos mais pobres, certamente, serão as/os mais prejudicadas(os). Por quê?

As instituições de ensino, que não eram EAD, buscam atender à distância, ora dizendo que não são EAD, ora cometendo ato falho e dizendo que estão praticando um ensino a distância.

Ao dispor de plataformas de ensino não presencial, nem mesmo aqueles indivíduos que são denominados “autodidatas” receberão o contato humano necessário para o processo de ensino-aprendizagem. Professoras e professores serão (estão sendo) facilitadores, não exercerão, de fato, a atividade docente, especialmente porque as turmas (ensino infantil, fundamental, ensino médio, graduação e pós-graduação) não foram formatadas para este tipo de ensino.

Muitas escolas adotaram o Whatsapp como ferramenta oficial e estão enviando para pais e mães conteúdos que serão trabalhados via ensino domiciliar. Pais e mães atuam agora como professoras e professores, e para os maiores de 18 anos os desafios estão atrelados ao ensino a distância e todas as particularidades que isso envolve. Numa sociedade que se diz meritocrática, o termo “novos desafios” soa bem. Em uma análise material, é um desastre do ponto de vista social.

Novamente, está sendo criado mais um mecanismo social que beneficia os que possuem melhores condições financeiras. Falo das(os) discentes que possuem sala de estudo em casa, diversos cômodos, um ambiente silencioso e climatizado, com boa internet, com um notebook que suporta os vídeos e arquivos, biblioteca física e virtual, apoio dos adultos (responsáveis) que dispõem de uma cultura escolar capaz de entender e orientar as atividades que as(os) docentes estão enviando.

A exclusão escolar assume seu aspecto mais intenso e agudiza a divisão de classes, colocando em risco a permanência e êxito das/dos discentes. Muitos daqueles excluídos desde o ventre poderão pensar “isto não é para mim”. Diante da necessidade de que as famílias tenham smartphones com tecnologia suficiente para desenvolver atividades não presenciais, notebook, espaço e internet adequados, a reflexão vem ao encontro de saber como viabilizar isso, com ou sem pandemia.

A perspectiva é de que esta necessidade não será atendida neste momento… não com este governo. Portanto, como oficializar a exclusão? O discurso de que “é só se esforçar” não poderá ser usado, nem pelo liberal mais ferrenho.

Cancelar o ano letivo poderia ser uma solução. Capacitar as/os docentes e garantir todas estas tecnologias e estrutura física na residência das/dos discentes também seria uma solução momentânea, a curto e a longo prazo, respectivamente.

Compartilhar saberes via whatsapp (aos que possuem), leituras, reflexões, desenvolver a capacidade crítica, disponibilizar livros físicos para serem entregues por equipes devidamente protegidas com seus EPI’s podem ser ações viáveis neste momento em que o conhecimento e a forma de avaliá-lo está nitidamente em pauta (ou deveria estar). Toda esta mobilização, mesmo que não seja “ensino formal”, estaria justificada porque o tema educação é tão importante (certamente, mais) quanto a área da saúde.

Além de entender o aspecto agressivo da exclusão em andamento, pelo governo e pelas instituições que insistem em um processo pedagógico que não é para todas e todos, devemos observar a perspectiva de sociedade que é considerada válida pelos que detém o poder e dizem o que é legítimo ou não.

Outras formas de enxergar o mundo são necessárias. Isto já ocorre com outras culturas que são entendidas, muita das vezes, como inferiores, mas que têm na sua forma de viver e se organizar aspectos distintos e menos excludentes.

O fato é que o capitalismo não responde às questões sociais, humanas e naturais. Se por um lado, ao priorizar o lucro, desconsidera a importância da vida humana e de todos os tipos de vida e de recursos na Terra, por outro, delega ao Estado (que outrora desejou que fosse mínimo) uma grandeza capaz de salvar os consumidores (mantenedores do capital).

É importante que fique claro que a educação, mais do que se adaptar a uma pandemia, está se adaptando, a passos largos, “às necessidades do capital diante da pandemia”.

 

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