Páscoa 2025, seis feminicídios

Páscoa 2025, seis feminicídios

Páscoa 2025, seis feminicídios em um só dia

 

Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21


Conselho Estadual dos Direitos da Mulher do RS

Na última sexta-feira Santa, 18 de abril de 2025, o Rio Grande do Sul amanheceu e anoiteceu com o luto de seis famílias marcadas por feminicídios brutais, cometidos em diferentes regiões do estado. Seis mulheres assassinadas, seis histórias interrompidas, seis vidas que escancararam, de forma devastadora, a falência do Estado gaúcho em proteger suas cidadãs. Esses crimes não são eventos isolados. São parte de uma engrenagem perversa de omissão institucional, de descaso sistemático e da falta de vontade política para enfrentar a misoginia com seriedade e urgência.

Não é por falta de aviso. O Conselho Estadual dos Direitos da Mulher do RS tem, reiteradamente, tentado abrir diálogo direto com o chefe da Polícia Civil do Estado, delegado Fernando Sodré. No entanto, todas as tentativas de reunião foram frustradas. O secretário de justiça, cidadania e direitos humanos, Fabrício Peruchin, deveria ouvir o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher que por tantas vezes o procurou para levar ao seu conhecimento a situação perigosa e caótica para as mulheres do RS e lhe cobrar medidas urgentes e que, mais de uma vez, enviou ofício solicitando a ampliação do quadro técnico do CRAM Vânia Araújo . O próprio governador Eduardo Leite não pode dizer que não sabe da situação dramática em que vivem as mulheres no estado e que só se aprofundou após as enchentes, principalmente quando há necessidade de abrigamento, pauta recorrente na recém retomada Rede Lilás. Não é possível alegarem ignorância. O governo tem conhecimento das estatísticas, dos alertas dos órgãos de defesa dos direitos das mulheres, das denúncias públicas e institucionais, dos insistentes pedidos de socorro pela sociedade civil organizada. De onde se conclui que, a resposta do governo é sempre a mesma: nenhuma. Enquanto isso, as mulheres seguem morrendo e o governo permanece inerte.

A negligência é tão escancarada que o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, diante da escalada da violência e da omissão oficial, solicitou ao Ministério Público do RS e à Defensoria Pública do Estado que ingressassem com uma ação civil pública contra o governo do Rio Grande do Sul. O motivo? A total ausência de políticas públicas e equipamentos voltados à proteção e à promoção dos direitos das mulheres. Em um estado onde não há investimento consistente em casas de abrigo, centros de referência, programas de reeducação de agressores, nem em campanhas de prevenção, a violência se prolifera com a conivência do poder público. E a impunidade é crescente, estimulando agressores. A sociedade normaliza e o estado finge que não vê!

A sexta-feira Santa de 2025 entrou para a história como mais um marco da ineficiência gritante do governo gaúcho. Não há como esconder a tragédia sob discursos vazios sobre segurança pública. É claro que segurança importa – mas os feminicídios não são apenas um problema policial. São o resultado de uma cultura machista e misógina combinada com a ausência total de políticas públicas voltadas à garantia da vida das mulheres. A falta de equipamentos públicos, de acesso à justiça, de educação de gênero e de prevenção transforma o Rio Grande do Sul em um território hostil para quem é mulher. RS Seguro para quem? Não há delegacias especializadas suficientes, não há servidores treinados para o acolhimento, não há orçamento robusto para políticas de enfrentamento à violência. Sendo assim, fica evidente que o que há é descaso, improviso e, sobretudo, um governo que virou as costas para as mulheres.

O sangue das mulheres gaúchas está nas mãos de quem escolhe a omissão como estratégia de gestão. Não há mais espaço para desculpas. É hora de enfrentar a realidade com a seriedade e a urgência que ela exige – e isso começa pelo reconhecimento das carências evidentes que hoje impedem o estado de oferecer uma resposta efetiva à violência de gênero. Sem investimento, sem articulação entre os poderes, sem compromisso real, e sem responsabilidade, as mortes continuarão. E cada nova vítima será mais uma acusação irrefutável da falência do Estado em proteger suas mulheres.

Por essas razões, o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher do RS (CEDM-RS) prosseguirá firmemente na luta em defesa dos direitos das mulheres, em especial para garantir o mais fundamental deles: o direito à vida. Para isso, é urgente o retorno imediato da Secretaria de Políticas para as Mulheres do Rio Grande do Sul, com orçamento próprio, um bom quadro de profissionais, técnicas e políticas, que possam dar conta da grave situação de emergência pela vida das mulheres.

A retomada desta estrutura essencial é uma pauta central da atual gestão do CEDM-RS (2022–2025), que lançou o abaixo-assinado “Volta SPM”, movimento que já recebeu apoio formal da população e da classe política, esta por meio de moções aprovadas por Câmaras de Vereadores em diversas cidades do estado, realizadas pelo CEDM durante as Atividade de Verão: Mulheres seus Direitos Não tiram Férias. Até o presente momento as Câmaras de Vereadores que aderiram e apresentaram as moções de apoio foram: Tramandaí, Imbé, Capão da Canoa, Pinhal, Osório, Esteio, Canoas e Palmeira das Missões, além de tantos outros municípios cuja redação estão em andamento.

O Conselho conclama agora toda a sociedade gaúcha a se engajar nessa campanha, porque quando o Estado se omite, a sociedade deve, com coragem e determinação, exercendo cidadania e o controle social, cobrando do Estado que cumpra com seu dever: proteger e garantir a vida digna das mulheres. Se o governo cruzou os braços, nós não cruzaremos. A omissão do Estado não pode ser uma sentença de morte. A vida das mulheres gaúchas vale mais. E é por elas que seguiremos lutando.

 

FONTE:

https://sul21.com.br/opiniao/2025/04/pascoa-2025-seis-feminicidios-em-um-so-dia-por-conselho-estadual-dos-direitos-da-mulher-do-rs/ 




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