Passar sem aprender

Passar sem aprender

"Se é para passar de qualquer jeito, então que passe", desabafa presidente do Cpers sobre flexibilização de aprovação de alunos

Programa Conversas Cruzadas debateu as regras de reprovação e progressão parcial na rede estadual de ensino

Léo Saballa Jr.

 

 

O Conversas Cruzadas desta quarta-feira (22) discutiu a decisão do governo gaúcho de manter, em 2026, a orientação de aprovação de alunos mesmo com até quatro reprovações, desde que as disciplinas estejam dentro de, no máximo, duas áreas do conhecimento.

A regra, conhecida como progressão parcial, foi criada em 2024 e seguirá valendo nos próximos anos. Pela norma, o estudante avança de etapa e realiza estudos complementares nas matérias em que não alcançou a média. Outra medida mantida é a possibilidade de aprovação mesmo com mais de 25% de faltas, desde que haja compensação por meio de trabalhos extras.

Participaram do debate Fátima Ehlert, presidente do Conselho Estadual de Educação, e Rosane Zan, presidente do Cpers, sindicato que representa os profissionais da rede estadual de educação. A Secretaria Estadual da Educação (Seduc) foi convidada, mas não enviou representante.

Em tom de desabafo, a presidente do Cpers disse:

— Desculpa dizer aqui, mas tem que dizer de uma forma até mais clara: daqui a pouco, os professores, se sentindo sobrecarregados, eles vão dizer 'se esse é o problema, passar de ano, vamos passar os alunos sem aprender' — afirmou Rosane.

Já a presidente do Conselho Estadual de Educação, discordou da atitude.

— É um compromisso do professor, é seu compromisso com a aprendizagem e não podemos duvidar disso — afirmou Fátima.

Rosane ainda destacou o descontentamento com defasagem salarial dos professores, alterações no plano de carreira, sobrecarga de trabalho e adoecimento dos profissionais. Ao final do programa, ela reforçou a opinião sobre facilitar aprovações de alunos:

— Eu poderia dizer a mesma coisa. Eu, professora Rosane: se é para passar de qualquer jeito, então que passe o aluno.

O programa colocou em pauta se essas regras ajudam a reduzir a desigualdade educacional ou se acabam disfarçando os problemas de aprendizado na rede pública.

No vídeo acima, você assiste a este trecho do debate.

FONTE:

https://gauchazh.clicrbs.com.br/colunistas/leo-saballa-jr/noticia/2025/10/se-e-para-passar-de-qualquer-jeito-entao-que-passe-desabafa-presidente-do-cpers-sobre-flexibilizacao-de-aprovacao-de-alunos-cmh2j1hwn019t015gq16gboqu.html

 

 

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Conversas Cruzadas: até onde vai a tolerância com reprovação escolar no Rio Grande do Sul?

O programa é transmitido no streaming, de segunda a sexta-feira, às 17h30min

GZH

 

No episódio do Conversas Cruzadas desta quarta-feira, às 17h30min, o apresentador Léo Saballa Jr. recebe a presidente do Conselho Estadual de Educação Fátima Ehlert e a presidente do Sindicato dos Professores e Funcionários de Escola do RS Rosane Zan, para debater os limites da tolerância com a reprovação escolar no Rio Grande do Sul.

O Conversas Cruzadas vai ao ar de segunda a sexta-feira, no streaming, com os assuntos que mais impactam o público. O espaço discute economia, cidades, política, educação e saúde. O programa é transmitido ao vivo no canal do Youtube de GZH e também pelo site e pelo aplicativo.

 FONTE:

https://gauchazh.clicrbs.com.br/educacao/noticia/2025/10/conversas-cruzadas-ate-onde-vai-a-tolerancia-com-reprovacao-escolar-no-rio-grande-do-sul-cmh29wp1w013k015g3vhmp3tx.html

 

 

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 "Nosso grande desafio é que a escola se torne atrativa": o que dizem especialistas sobre a política de progressão parcial na rede estadual

Ex-diretora global de Educação do Banco Mundial e professor da UPF falaram à Rádio Gaúcha sobre a portaria do governo do RS que permite que alunos passem de ano mesmo reprovando em até quatro disciplinas

Zero Hora

Jeff Botega / Agencia RBS
Especialistas defendem que é preciso reconhecer a importância da presença do
jovem na escola.  
Jeff Botega / Agencia RBS

 

 

Especialistas da área da Educação entendem que a portaria da Secretaria Estadual de Educação (Seduc) que permite que alunos da rede passem de ano mesmo reprovando em até quatro disciplinas pode ser uma boa estratégia para evitar a evasão escolar. Mas, reforçam que, para isso, a regra precisa estar alinhada ao debate com a comunidade e a iniciativas que busquem tornar a escola mais atrativa. 

O governo do Estado informou que manterá a regra de aprovação, já utilizada em 2025, no próximo ano letivo. A política de progressão parcial é possível desde que as disciplinas nas quais o aluno reprovou sejam de até duas áreas de conhecimento. Conforme a Seduc, os estudantes serão acompanhados individualmente. 

Conforme a ex-diretora global de Educação do Banco Mundial Claudia Costin, iniciativas para reduzir a reprovação escolar são adotadas internacionalmente. O entendimento de que estudantes repetentes têm maior chance de abandonar os estudos. Esse cenário afeta, sobretudo, jovens em situação de vulnerabilidade.

— Quando olhamos para as profundas desigualdades sociais e educacionais que temos no nosso país, o que acontece com um aluno de uma escola particular: o professor ensina, chega em maio, entrega o boletim e constata-se que ele vai mal. Os pais contratam um professor particular. O que acontece na escola pública: o pai não tem dinheiro para professor particular, essa criança reprova, depois reprova de novo e abandona a escola — exemplificou a especialista em entrevista à Rádio Gaúcha.

Professor da Universidade de Passo Fundo (UPF), Altair Fávero é doutor em Educação e defende que o tema seja amplamente debatido pela sociedade. Mais do que ser a favor ou contra à portaria, ele destaca que é preciso que se reconheça a importância da presença do jovem na escola:

— O jovem que evade a escola é aquele que, geralmente, tem menos oportunidades de trabalho e menos oportunidades de inserção social.

 

 

Manter o jovem na escola

Para evitar a reprovação e a evasão, os especialistas citam a necessidade de se ter um plano de recomposição da aprendizagem ou de reforço escolar competente e especializado ao longo do ano para o aluno com dificuldades. Além disso, a oferta de um espaço para que ele possa falar sobre seu projeto de vida.

— Nós inventamos uma jabuticaba que é ter só cinco horas de aula para o Ensino Médio e quatro horas para o Ensino Fundamental. Nenhum país que tem um bom sistema tem só quatro horas de aula no Ensino Fundamental, espremendo o conteúdo de 13 matérias, o que obriga o aluno a aprender apenas o verniz de cada área. Ele não aprende a pensar historicamente, matematicamente. Ele decora coisas e devolve em uma prova, o que não significa dizer que o ensino é bom — diz Claudia.

Conforme Fávero, é preciso desenvolver ações que incentivem o jovem a permanecer e a querer continuar na escola. Além disso, promover diálogos para que ele compreenda o valor da educação para sua formação pessoal e profissional. 

A construção desse cenário demanda tornar a escola mais atrativa, passa por investimentos em uma boa infraestrutura, pela valorização e pelo estímulo a formação de professores.

— O nosso grande desafio, para além de criar guias para aprovar, pela progressão parcial ou mesmo pelo percentual de aula, é que a escola se torne atrativa. Não é que a escola seja um show de talentos, mas um lugar que faça sentindo para aquilo que o aluno está aprendendo.(...) É necessário que o jovem veja sentido no conhecimento que é trabalhado na escola — destaca Fávero.

Nesse contexto, um dos pontos da proposta que gera preocupação por parte dos especialistas é a regra que permite aprovar alunos que estouraram o máximo de faltas.

— Eu não acho que é um desestímulo ficar de dependência. O que me preocupa na medida do governo é essa coisa das faltas, ter menos de 75% de presença, eu não adotaria essa conduta. Mas, em relação às matérias, a escola deveria oferecer algum apoio extra pra esse aluno compensar as suas insuficiências de aprendizagem — afirma Claudia.

Chamada de "estudos compensatórios de infrequência", a prática viabiliza que os estudantes com menos que 75% de presença façam trabalhos para compensar as aulas perdidas. A medida também integra a política estadual.

FONTE:

https://gauchazh.clicrbs.com.br/educacao/educacao-basica/noticia/2025/10/nosso-grande-desafio-e-que-a-escola-se-torne-atrativa-o-que-dizem-especialistas-sobre-a-politica-de-progressao-parcial-cmh2b9uhq014r015gid9alj3i.html




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