Pela revogação do Novo Ensino Médio
Pela REVOGAÇÃO DO NOVO ENSINO MÉDIO
No episódio “Oportunidades de carreira” da Família Dinossauro, Bob, o dinossauro adolescente de 15 anos, que tinha o desejo de ser um astro do rock, voltou para casa desapontado depois da visita ao mago do trabalho. Esse, por sua vez, era um frustrado, tendo em vista que gostaria de ser dançarino, mas terminou como alguém que deveria definir a profissão futura de toda a comunidade de dinossauros. Na vez de definir a profissão de Bob, não perguntou a ele o que gostaria de ser ou para o que ele havia se preparado. Apenas indagou qual era a profissão do pai. Dino era “derrubador de árvores”. Assim, considerando a profissão como hereditária, emitiu um certificado de trabalho para Bob como “derrubador de árvores”.
Há muito tempo, tem sido atribuído ao ensino médio o sentido propedêutico. Quando consideramos as escolas técnicas e institutos federais atuais, percebemos outra formatação, associando ao caráter propedêutico, apresenta-se o caráter profissional, quando habilita estudantes secundaristas para o mercado profissional.
As reformas da educação da Era Vargas (1930-1945) para o ensino secundário lidaram com a ampliação da demanda escolar, tendo em vista o crescimento populacional e a urbanização, contudo, não avançaram no sentido de ofertar uma educação universalizante. Na verdade, estas reformas mantiveram a educação de forma segmentada: uma para os grupos economicamente privilegiados, e outra, para os demais. Enquanto a educação dos primeiros buscava a ilustração do espírito, munindo os estudantes com os saberes clássicos, aos segundos era destinada uma educação cujo objetivo era habilitá-los para o mercado de trabalho. Se a LDB de 1961 possibilitou, provisoriamente, pequenas modificações nesse cenário, a condição anterior foi recuperada e instituída como norma legal de educação a partir de 1971. A ditadura civil militar, visando diminuir a pressão por vagas universitárias e por mais verbas, além de preparar mão de obra qualificada “mais barata” para o mercado do “milagre brasileiro”, instituiu o ensino de primeiro e segundo graus, tornando o segundo grau obrigatoriamente profissionalizante.
Esse projeto não conseguiu atingir plenamente os interesses de seus criadores por deficiências do próprio modelo e pelo desgaste econômico do “milagre”. Tal contexto levou à retomada do ensino médio propedêutico e, em tempos de democracia, mudanças, não somente na nomenclatura, estabeleceram nova orientação para essa fase, instituindo o Ensino Médio.
É importante frisar que essa fase do ensino, independentemente da nomenclatura, gera muita discussão com relação aos seus objetivos em outros países, e também no Brasil. Em meio a essas discussões, propostas de reforma acabaram resultando numa das grandes polêmicas do tempo atual: o NEM (Novo Ensino Médio).
A proposta, como tem sido apresentada, remete ao episódio da Família Dinossauro relatado no início deste texto. Com a pretensão de formar pessoas habilitadas para o mercado de trabalho na condição de trabalhadores ou empreendedores, o NEM propõe um esvaziamento de conteúdos disciplinares. Tais conteúdos, muito mais do que lustrar o espírito, são portadores de múltiplas habilidades e competências que qualificam os estudantes para estar nesse mundo amplo, rico em possibilidades e diverso. Dessa forma, esse esvaziamento, em favor de mal definidos itinerários formativos, que dependem da capacidade física e econômica de cada escola, pode comprometer a formação de futuras gerações em vários sentidos: NEM habilitando a estar nesse mundo contemporâneo; NEM preparando para atuar nesse mercado altamente competitivo.
Nesse sentido, para concluir, retornando à Família Dinossauro, no episódio em questão, o sempre subserviente Dino enfrentou seu chefe para dizer que o filho Bob não seria um “derrubador de árvores”. Dino foi com o filho até o mago das profissões exigir um novo certificado. A história encerra com o mago das profissões tomando aulas de dança com Dino.
Dessa forma, a discussão sobre o papel do ensino médio na formação da juventude brasileira indica que não há, nesse momento, solução mais pertinente do que a REVOGAÇÃO DO NOVO ENSINO MÉDIO.
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