Pepe Mujica morre aos 89 anos
Pepe Mujica morre aos 89 anos: legado do “presidente mais humilde do mundo” ecoa na América Latina
Por REDAÇÃO*
O ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, faleceu nesta terça-feira (13), aos 89 anos, vítima de um câncer de esôfago em estágio terminal. Internado sob cuidados paliativos, Mujica morreu em sua casa, cercado pela esposa Lucía Topolansky e companheiros de trajetória. A confirmação foi feita pelo atual presidente uruguaio, Yamandú Orsi, afilhado político de Mujica e recém-eleito com apoio decisivo do ex-mandatário.
Diagnóstico e últimos meses
O diagnóstico de câncer de esôfago foi revelado em abril de 2024. Mesmo enfrentando a doença, Mujica seguiu participando ativamente da vida política uruguaia, inclusive na campanha eleitoral de 2024. Em seus últimos meses, foi submetido a radioterapia, cirurgias e usou sonda gástrica para se alimentar, mas, com a evolução do tumor para o fígado, optou por não seguir com novos tratamentos.
Sua esposa declarou no dia 12 de maio que os médicos estavam focados em proporcionar conforto e dignidade ao líder em seus últimos momentos.
Um passado de luta e prisão
Nascido em Montevidéu em 20 de maio de 1935, José Alberto Mujica Cordano teve uma trajetória marcada pela resistência à ditadura militar uruguaia. Nos anos 1960, ingressou no Movimento de Liberação Nacional – Tupamaros, grupo guerrilheiro que combatia o regime. Foi preso em 1972 e passou 14 anos em condições subumanas, incluindo longos períodos de confinamento solitário.
Com a redemocratização do país em 1985, Mujica foi libertado por anistia. Participou da fundação da Frente Ampla e tornou-se uma das figuras mais populares da política uruguaia.
Ascensão política
Mujica foi eleito deputado em 1994, senador em 1999 e, posteriormente, nomeado ministro da Agricultura em 2005, no governo de Tabaré Vázquez. Em 2009, venceu as eleições presidenciais e assumiu a presidência do Uruguai entre 2010 e 2015.
Seu mandato foi marcado por reformas progressistas, como a legalização da maconha, do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Ganhou notoriedade mundial por seu estilo de vida simples — morava numa chácara, dirigia um Fusca e doava grande parte de seu salário —, o que lhe rendeu o apelido de “presidente mais pobre do mundo”.
Reconhecimento internacional
Pepe Mujica tornou-se um símbolo da esquerda latino-americana e um ícone da política ética. Recebeu diversas homenagens ao longo da vida. Em dezembro de 2024, foi condecorado por Luiz Inácio Lula da Silva com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a mais alta honraria concedida pelo Brasil a estrangeiros.
Na ocasião, Lula declarou: “Essa medalha que estou entregando ao Pepe Mujica não é pelo fato de ele ter sido presidente do Uruguai. É pelo fato de ele ser quem é.”
Um símbolo de coerência e paz
Mesmo após se retirar do Senado em 2020, Mujica seguiu atuando nos bastidores da política, sendo presença ativa na Frente Ampla. Sua influência foi crucial na vitória de Orsi em 2024, marcando o retorno da esquerda ao poder no Uruguai.
Fora das fronteiras uruguaias, Mujica era admirado por sua defesa da democracia, seu passado de resistência à repressão e seu envolvimento em iniciativas de paz na América Latina, como sua colaboração no processo de paz na Colômbia. Seu nome chegou a ser cogitado para o Prêmio Nobel da Paz.
Legado
Pepe Mujica deixa um legado de coerência política, compromisso com os mais pobres e resistência contra a opressão. Sua morte encerra um ciclo histórico na política do Uruguai e da América Latina, mas sua figura continuará inspirando lideranças, militantes e cidadãos em busca de um mundo mais justo.
“Se tivesse que resumir a vida numa frase, diria que vale a pena viver lutando por uma causa”, disse certa vez. E foi exatamente assim que viveu — até o fim.
Foto de capa: Fernando Frazão/Agência Brasil
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