PL da dosimetria

PL da dosimetria

A PL DA DOSIMETRIA BUSCA REDUZIR PENAS DOS GOLPISTAS: UM GOLPE CONTRA O STF E AS MANIFESTAÇÕES DAS RUA DO POVO BRASILEIRO

Por João Guató

 

 

 

Em Brasília, um movimento silencioso, mas devastador para o equilíbrio institucional, ganhou corpo nos corredores do Congresso. Deputados liderados por Paulinho da Força (Solidariedade-SP) articulam uma proposta que, sob o pretexto de “corrigir excessos do Código Penal”, abre caminho para reduzir penas dos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

O relator fala em mexer em apenas “dois ou três artigos”, mas o efeito é devastador: tirar da cadeia centenas de condenados por crimes contra o Estado democrático de direito e, de quebra, aliviar a pena imposta ao ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos e três meses por liderar a trama golpista.

UMA AMNISTIA DISFARÇADA

A proposta surge como um arremedo da anistia ampla que parte da oposição ainda defende. Mas a essência é a mesma: reescrever a história, perdoar quem tentou derrubar as instituições e enfraquecer o papel do Supremo Tribunal Federal, que julgou, condenou e estabeleceu as penas com base na gravidade dos crimes.

O discurso é de “justiça”, mas a prática é um atalho legislativo para rasgar decisões judiciais e rebaixar a autoridade da Suprema Corte. Ao admitir mudanças que alcançam até figuras centrais da trama golpista, o Congresso não apenas afronta o Judiciário — ele pisoteia a memória de um ataque contra a democracia brasileira transmitido ao vivo para o mundo.

O JOGO DUPLO DA OPOSIÇÃO

Enquanto Paulinho tenta vender sua proposta como “pontual”, líderes do PL, como Sóstenes Cavalcante, pressionam por uma anistia mais ampla, escancarada. Deputados como Zé Trovão (PL-SC) chegaram a ameaçar “fazer do plenário um inferno” caso não consigam libertar de vez os golpistas.

O ambiente de chantagem, barganha e ameaças revela um Congresso mais preocupado em salvar os seus do que em defender a Constituição.

QUEM PERDE? O BRASIL

A redução de penas não é apenas uma manobra política: é um golpe contra a independência dos poderes. É o Legislativo dizendo ao Judiciário que sua palavra final pode ser reescrita ao sabor de conveniências partidárias.

Se aprovado, o projeto abrirá precedente perigoso: bastará pressão parlamentar para que qualquer decisão da Suprema Corte seja relativizada. O STF deixa de ser guardião da Constituição para virar refém de maiorias momentâneas.

O VEREDITO DA HISTÓRIA

Em janeiro de 2023, a democracia brasileira foi atacada com pedras, paus e golpes contra prédios que simbolizam os três poderes. Em setembro de 2025, ela corre o risco de ser atacada novamente — desta vez de dentro do Parlamento, por meio de canetas que pretendem legalizar o perdão aos golpistas.

Reduzir as penas não é corrigir excessos. É apagar crimes. É perdoar traidores da República. É, em última instância, dar vitória póstuma ao próprio golpe.

E a pergunta que ecoa, inevitável, é: quem, afinal, está governando — a democracia ou o ressentimento golpista?

FONTE:

Pasquim Cuiabano Joao Guato 

 

 

 

PAULINHO DA FORÇA: DO ABADÁ SINDICAL À PELEGUICE PARLAMENTAR

Por João Guató

 

Paulinho da Força é daqueles personagens que parecem não mudar nunca: muda o cenário, muda o figurino, mas o papel continua o mesmo. Nos anos 1990, ele era o sindicalista popstar, criador da Força Sindical, central que nasceu como alternativa à CUT, mas logo mostrou a que vinha: menos barricada, mais camarote. Suas greves eram animadas com trios elétricos, bandeirões coloridos e shows de axé na Avenida Paulista. A luta trabalhista virou espetáculo, com direito a abadá sindical.

Enquanto a velha esquerda se esfalfava na porta de fábrica, Paulinho preferia negociar direto com o patrão — e depois brindar no churrasco. Não à toa, era chamado de pelego. Um sindicalismo “pragmático”, como ele dizia. Pragmático para quem? Para os trabalhadores, que recebiam migalhas embaladas em papel de presente? Ou para os dirigentes que transformaram protesto em show business?

DO CHÃO DE FÁBRICA AO TAPETE VERMELHO DE BRASÍLIA

Com tanto holofote, Paulinho deslizou fácil para a política institucional. Virou deputado, fundou o Partido Solidariedade e passou a circular nos corredores de Brasília com a mesma desenvoltura com que antes comandava carros de som. Sempre de fala mansa, sempre com ares de negociador, sempre pronto a “ajeitar” aqui e ali.

No sindicato, flexibilizava direitos em nome da “modernidade”. No Congresso, agora articula redução de penas para golpistas, um mimo legislativo para agradar a aliados e, quem sabe, aliviar a barra de Bolsonaro. O palco mudou, mas o personagem é o mesmo: um pelego com crachá parlamentar.

A PELEGUICE ATUALIZADA

Diz que vai mexer em “dois ou três artigos do Código Penal”. A modéstia é quase comovente. Como o lobo que avisa à ovelha que vai só dar uma mordidinha. No fundo, é a velha receita: ajeitar para os de cima, empurrar goela abaixo para os de baixo.

O Paulinho que ontem vestia a máscara de líder sindical, hoje veste o terno de deputado. Mas a essência não mudou: continua a ser aquele que negocia sem nunca olhar para os olhos do trabalhador. Antes de costas para o operário, agora de costas para a democracia.

UM SÍMBOLO DE ÉPOCA

A trajetória de Paulinho é a síntese de um sindicalismo que perdeu rumo e se dissolveu em alianças de ocasião. A Força Sindical, que um dia acenou como novidade, virou lembrança de um tempo em que a política de massas se confundia com show de variedades.

Hoje, Paulinho não representa mais trabalhadores, se é que um dia representou. Representa, isto sim, a arte de nunca deixar de ser pelego: da fábrica ao plenário, sempre pronto a servir, nunca disposto a lutar.

O VEREDITO

Paulinho da Força pode ter mudado de palco, mas nunca de papel. Foi pelego nos anos 1990, é pelego em 2025. E o Brasil, que já teve líderes sindicais que arriscaram a pele pela classe trabalhadora, hoje assiste a esse espetáculo triste: o sindicalista que virou deputado para continuar o mesmo — servindo a quem manda, de terno, gravata e um sorriso pragmático.

Fonte:

https://www.facebook.com/joaoguato?locale=pt_BR 

 

 

 

CCJ ENTERRA PEC DA BLINDAGEM E O ECO DA DEMOCRACIA

Por João Guató

 

A cena política brasileira, que tantas vezes se deixa encantar por manobras e cortinas de fumaça, hoje conheceu um raro momento de clareza: a Comissão de Constituição e Justiça do Senado rejeitou, por unanimidade, a chamada PEC da Blindagem — uma proposta que, se aprovada, teria permitido ao Congresso suspender processos criminais contra seus próprios membros.

Foram 26 votos contra, nenhum a favor. Um resultado cristalino, sem abstenções, sem meio-termo, sem muletas retóricas. A unanimidade, palavra quase esquecida no dicionário da política, ressurgiu como ato de autodefesa da democracia contra a blindagem de privilégios. O regimento é claro: rejeitada por unanimidade, a PEC será arquivada, como uma ideia natimorta que não encontrou sequer um padrinho disposto a assumir a paternidade pública.

O VELÓRIO DA PEC

Na liturgia do poder, cada gesto importa. O projeto, enviado para a Secretaria-Geral da Mesa, será oficialmente enterrado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), assim que abrir a sessão. Nenhum senador ousou defender a proposta em plenário — talvez porque sabiam que a pressão das ruas, das redes e da imprensa faria desse ato um suicídio político.

A chamada PEC da Blindagem nasceu com a pretensão de proteger parlamentares contra o “excesso” do Judiciário, mas morreu vítima da própria desconfiança social. No imaginário popular, era uma espécie de escudo da impunidade, uma muralha erguida contra a responsabilização.

OS SUSSURROS DOS CORREDORES

Nos corredores do Senado, a notícia correu como água em laje quente. “Foi inconstitucional do começo ao fim”, murmurou um assessor. Outro, com ironia, disse que a PEC “morreu de overdose de esperteza”. Há quem veja nessa rejeição não apenas um gesto jurídico, mas um recado político: a democracia brasileira, ainda ferida por ataques recentes, tem anticorpos.

O clima, no entanto, não é de triunfo absoluto. Muitos senadores respiram aliviados não porque acreditam na ética, mas porque sentiram a força da opinião pública. Votar a favor seria expor-se nu diante de uma plateia em fúria.

UM SOPRO DE RESISTÊNCIA

No Brasil, onde a política insiste em se reinventar no fio da navalha entre o interesse público e o privado, a rejeição unânime da PEC soa como um respiro. Não resolve os problemas estruturais, não elimina o conluio de bastidores, mas envia um sinal: há limites para o cinismo institucional.

Em um tempo de narrativas polarizadas, ver 26 senadores de diferentes partidos concordarem em dizer “não” à blindagem é quase um poema de rara dissonância harmônica. Talvez amanhã voltem a se digladiar em votações menores, mas hoje, ao menos hoje, houve um consenso em favor da democracia.

EPÍLOGO DE GUATÓ

Se o Congresso tivesse aprovado a blindagem, os cidadãos estariam, mais uma vez, relegados à condição de espectadores impotentes de uma farsa. Mas não: o palco hoje assistiu ao contrário — atores que, pressionados, lembraram-se de que não são intocáveis.

A PEC da Blindagem foi ao chão antes mesmo de aprender a andar. E o Brasil, tantas vezes acostumado ao silêncio cúmplice, ouviu o som raro de uma palavra dita em coro: não.

 




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