Planejamento dentro da jornada de trabalho
Gestão escolar: como garantir tempo para o planejamento dentro da jornada de trabalho dos professores
Diante de condições que não são as ideais, cabe aos gestores criarem estratégias de mitigação do problema
Por José Marcos Couto Júnior - 29/06/2022
Esses questionamentos geraram um belo debate entre os vencedores. Havia quem concordasse e quem discordasse. Assim como pensava há quase quatro anos, reafirmo o meu entendimento: não somos heróis. Embora acredite que sem amor e empatia o processo de aprendizagem nunca será completo e satisfatório, somos profissionais da Educação. Por isso, necessitamos de boas condições de trabalho e de valorização profissional.
Dentro destas necessidades não pode faltar o direito ao tempo de planejamento do docente. Estamos em junho de 2022, catorze anos após a aprovação da Lei 11.738/2008, a qual garante 1/3 da carga horária do professor dedicada às atividades realizadas fora de sala de aula. No entanto, infelizmente, ela ainda é uma realidade distante para muitos educadores.
Não há como falarmos sobre valorização da profissão sem viabilizar momentos para o planejamento, e sem compreendermos que este faz parte da rotina escolar. Do contrário, perdemos qualidade nas aulas por um lado, ao mesmo tempo em que passamos a exigir que o professor estenda sua jornada de trabalho por outro lado.
Faltam quadros docentes que viabilizem essa organização da rotina. No entanto, esse problema não pode “ficar na conta” do professor, muito menos prejudicar as aprendizagens dos alunos. Além disso, esta deve ser uma demanda primordial de gestores, mas à princípio não de gestores escolares. Cabe ao executivo federal, estadual e municipal, bem como aos seus respectivos ministros/secretários, garantirem a contratação de docentes, além de desenvolverem grades curriculares que permitam a dedicação para as atividades fora de sala de aula dentro da jornada de trabalho.
Enquanto isso não acontece, quem está na ponta é afetado. E mesmo sem sermos àqueles que poderão sanar o problema em definitivo, precisamos agir. Neste sentido, passa-se a exigir que os gestores escolares busquem estratégias provisórias para mitigar o problema.
Parcerias e estratégias para minimizar o problema
Desde já reafirmo que o termo melhor empregado neste caso é “mitigação”. Gestores escolares não darão conta de garantir um tempo de planejamento adequado em unidades escolares sem professores. É o velho ditado que afirma não ser possível “fazer omeletes sem ovos”.
Muitas vezes a própria equipe gestora acaba atuando em sala de aula como solução emergencial. Evidentemente, este é o pior dos cenários, pois como a minha avó dizia, de novo apelando para o conhecimento popular, “cobre-se um santo para descobrir outro”. No fim, terminamos exercendo mal as duas funções.
No início de 2021, na EM Prof. Ivone Nunes Ferreira, no Rio de Janeiro (RJ), escola que dirijo, a nossa coordenadora pedagógica assumiu, por quase um semestre, uma sala por falta de professor. Durante esse período, lutamos para sobreviver como escola, pois o rombo foi enorme.
Assim, para garantirmos o direito dos alunos a aulas de qualidade e do docente planejar dentro de sua jornada de trabalho, faz-se urgente encontrar soluções com apoio de parceiros da escola. Precisamos pedir ajuda, pois não conseguiremos isto sozinhos. Quatro ações simples podem auxiliar neste processo.
1. Comunicar e solicitar auxílio ao Conselho Escolar. As decisões deste órgão garantem a legitimidade de intervenções que necessitarão ser colocadas em prática. Isso diminui drasticamente nossa fragilidade diante da tomada de decisões difíceis.
2. Se pretendemos que a Educação dos nossos alunos seja integral, precisamos compreender que esta pode (e deve) contemplar aspectos artísticos, esportivos e culturais. Se aprovado pelo Conselho, podemos desenvolver oficinas com parceiros durante o turno escolar. Este pode ser um caminho para viabilizar momentos de planejamento para a sua equipe docente.
3. Alguns municípios adotam horários diferenciados em um determinado dia da semana para que o professor tenha momentos sem interação com os alunos. Novamente, se este não é o caso de sua rede, esta estratégia poderia ser empregada – desde que legitimada pela comunidade e pela secretaria.
4. Montar grades de horários que permitam a interdisciplinaridade. Assim, geram-se momentos qualificados de troca entre a coordenação pedagógica e a equipe docente, potencializando as ações ao longo do ano.
Estas medidas podem não resolver o problema, mas são caminhos para diminuir os estragos, ao mesmo tempo em que apoiamos a nossa equipe docente – já que deixar de planejar não é uma opção.
A consciência da importância do planejamento em uma escola e a inquietação do seu gestor para que a unidade escolar é um caminho potente para abrir portas onde antes só víamos muros.
Então, amigo gestor e amiga gestora, inquiete-se e até o próximo mês.
José Couto Júnior é licenciado em História, tem Mestrado em Educação pela Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e é doutorando em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Em 2018, foi eleito Educador do Ano no Prêmio Educador Nota 10. Servidor da Prefeitura do Rio de Janeiro há 10 anos, atua desde 2019 como diretor na Escola Municipal Professora Ivone Nunes Ferreira, no Rio de Janeiro (RJ).