PNE é um espelho do Brasil
Plano Nacional de Educação é um espelho do Brasil
O PNE se organiza em metas, mas o que está em jogo é a possibilidade de resgatar um país de sua própria geografia da exclusão
23/05/2025

Por Tarcísio Motta
O novo Plano Nacional de Educação (PNE) chega à Câmara dos Deputados não como mero protocolo burocrático, mas como promessa de futuro — ou como sua negação. Dez anos são mais que uma década; são gerações inteiras que se formam (ou se perdem) entre os muros de escolas, os becos sem asfalto, as salas de aula que oscilam entre templos do saber e depósitos de desesperança. O PNE não é um documento: é um espelho. Nele, o Brasil decidirá se enxerga a educação como prioridade real ou não.
O PNE se organiza em metas, mas o que está em jogo é a possibilidade de resgatar um país de sua própria geografia da exclusão. Um plano que não se limite a números — sejam de matrículas ou de verbas —, mas que desenhe rotas para além do abismo que separa o aluno da periferia do estudante do colégio de ponta.
Um plano que garanta acesso, permanência e aprendizagem com qualidade para todas e todos, independentemente do lugar onde vivem, da cor da pele ou da condição social. Um PNE que fortaleça a educação no campo, nas periferias, nas comunidades indígenas e quilombolas. Que promova inclusão, equidade e justiça social.
O Brasil precisa de metas que venham acompanhadas de financiamento público adequado e transparência. Mas há um risco: reduzir tudo à aritmética do possível. O perigo de um PNE que fale em “equidade” sem nomear as desigualdades estruturais, que mencione “inclusão” sem desmantelar a lógica que trata a escola pública como depósito de corpos indesejados.
Outro ponto essencial é a valorização dos profissionais de educação. Sem eles valorizados, respeitados e bem remunerados, não há avanço possível. O novo PNE deve conter políticas que enfrentem a desvalorização crônica da carreira docente e ofereçam condições dignas de trabalho em todas as etapas e modalidades do ensino, bem como para todos os demais profissionais de educação.
O financiamento será um dos maiores desafios. De que adianta falar em “prioridade” se o orçamento da educação continuar sendo atacado? O Brasil gasta menos por aluno que o Chile e a Costa Rica, países com economias bem menores. Precisamos de um PNE que seja realmente um instrumento de transformação. A educação não pode esperar mais uma década para ser prioridade.
A educação não pode esperar. Nem mais uma legislatura, nem mais um ano letivo. Porque, enquanto discutimos, uma criança em Roraima deixa de ler seu primeiro livro; um jovem na Maré abandona o sonho da universidade; uma professora no interior da Bahia desiste do magistério por falta de condições. O PNE é assim tão importante e não podemos desperdiçá-lo.
*Tarcísio Motta é professor e político filiado ao Partido Socialismo e Liberdade. Atualmente é deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro
FONTE:
https://iclnoticias.com.br/pne-espelho-brasil-educacao-prioridade-ou-nao/