Política de Estado ou política nacional

Política de Estado ou política nacional

Gaza é política de Estado ou política nacional?

As atrocidades destes dois anos foram planejadas e executadas com plena consciência do que se iria passar

O momento mais significativo da flotilha foi aquele em que pudemos ver o ministro israelita a falar aos jornalistas enquanto os ativistas, detidos e sentados diante dele, o escutavam dizendo: “estes são os terroristas do momento”. Mais tarde, ainda na prisão, o ministro afirmaria que a deportação é errada e que os ativistas “deviam ficar aqui por uns meses, para que pudessem sentir o cheiro da ala terrorista”. Estas imagens e estas palavras mostram no que Israel se tornou — um país capaz destas barbaridades: aquelas imagens farão história.

Mas deixem-me ir um pouco atrás, à questão do genocídio. Durante muitos meses eu próprio hesitei no uso da palavra — primeiro, porque o termo é tão sério e horrível que sempre duvidamos; segundo porque, juridicamente, o seu emprego exige que se prove a intenção de eliminação de um povo (ou grupo étnico, racial ou religioso), e a intenção, como bem sabemos, é muito difícil de provar. A questão é, portanto, a seguinte: a limpeza étnica que se seguiu ao sete de outubro de 2023 foi planeada, foi intencional, ou resultou apenas das contingências da violência próprias da guerra?

Aqui chegados, recomento a leitura do relatório da comissão independente de inquérito das Nações Unidas porque a coisa fica muito feia. Primeiro, diz o relatório, as declarações dos responsáveis israelitas feitas há dois anos são absolutamente claras: cito de memória — vamos reduzir Gaza a cinzas; não há civis em Gaza; não há fome em Gaza, e por aí fora. Segundo, o que é genuinamente perturbador é que os militares israelitas fizeram exatamente o que os seus dirigentes disseram nestes dois anos: reduziram Gaza a escombros, não distinguiram civis de combatentes e usaram a fome como arma de guerra. Este é o horror: as atrocidades destes dois anos foram planeadas e executadas com plena consciência do que se iria passar. Grande parte da simpatia pela flotilha e pelos seus ativistas deve-se a este facto — é preciso pôr cobro a isto.

Finalmente, retiremos da mesa do debate as ilusões tranquilizadoras. Leio em quase todos os jornais que é preciso não confundir Netanyahu com Israel — que uma coisa é o governo, outra coisa é o povo. Mas não é assim. Infelizmente, não é assim. A triste verdade, é que o povo israelita tem apoiado esta política de mortandade em Gaza sem nenhum problema de consciência. Quando foram perguntados se as forças armadas israelitas quando entram numa cidade em Gaza “é preciso matar toda a gente?”, 47 % disseram que sim. Quarenta e sete por cento. Uns meses depois nova sondagem: há inocentes em Gaza? Sessenta e dois por cento disseram que não, que não há inocentes em Gaza. Para sessenta e dois por cento dos israelitas nenhuma criança palestiniana que viva em Gaza é inocente. O que é horrível, sumamente horrível, é que a matança em Gaza, não é política de estado mas politica nacional. Para aqueles que se perguntam para que serviu a flotilha, podemos responder como antes fazíamos com outro genocídio – para que a verdade seja conhecida.

FONTE:

https://iclnoticias.com.br/gaza-e-politica-de-estado-ou-politica-nacional/?fbclid=IwY2xjawNSfDlleHRuA2FlbQIxMQABHmVdtOyc7qEBR1HjxYavGXNb4TzyNLQ0M-y0FTfcteMfGb6f-6csp2vZmsWa_aem_TsN5sh8V3ulx0w_3ahbBcw 




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