Política e enchentes

Política e enchentes

Política em torno das enchentes

   por Juremir Machado

 

Política em torno das enchentes

A Prefeitura de Porto Alegre ficou cercada pelas águas do Guaíba. |
Foto: Giulian Serafim / PMPA

 

Há coisas que são repetidas pelo benefício que trazem a quem as repete. Uma delas é a de que a imparcialidade é impossível. Trata-se de uma astúcia para empurrar todo mundo para algum tipo de militância. Outra é a de que tudo é político. Não passa de mais um artifício para politizar imediatamente o que surgir pela frente. Os estragos de uma tempestade têm certamente um lado político, pois, para além do que tem feito o tempo mudar, a ação do homem pode diminuir ou aumentar os estragos causados. Construir em áreas chamadas de “planícies de inundação” ou em encostas de morro com certeza potencializa o perigo. Esquecer a manutenção de comportas e outros mecanismos de proteção contra a subida das águas de rios também tem um lado político claro.

Na triste da hora do caos, quando unir forças parece indiscutivelmente a atitude fundamental, fazer discursos para acumular capital eleitoral soa estranho, pega mal mesmo. A esquerda adora aproveitar situações desse tipo para dizer que é perfeita, que sempre fez tudo certo, que se tudo estivesse na mão dela seria diferente. A direita, especialmente quando não fez o dever de casa, escolhe o caminho da condenação pura e simples da politização da catástrofe. No quesito proteção ao meio ambiente esquerda e direita mais vacilaram do que acertaram ao longo do tempo que lhes coube no latifúndio do poder. A Amazônia que o diga. Melhora um pouco aqui, piora um pouco ali, surge o projeto de explorar, com risco para áreas sensíveis, petróleo e já aparecem os defensores da ideia, de direita e esquerda, pelas mesmas razões, que sempre se mostram “sensatas, pragmáticas e sérias”.

Nos desastrosos episódios das enchentes dos últimos dias no Rio Grande do Sul, com destaque em Porto Alegre, o que se tem visto é o começo da campanha eleitoral para a prefeitura e até para o governo do Estado. Muita gente querendo se cacifar para largar na frente ou recuperar terreno perdido. Nas redes sociais foi um festival de dedos apontados. Parte do eleitorado se afasta ainda mais de quem age assim. Fica com raiva. Tem a impressão de estar diante do dono da verdade. Outra leitura de tudo isso, porém, é esta: os responsáveis pela imprevidência que paguem pelo que não fizeram e não reclamem.

Pode ser. Ainda assim, mesmo na tragédia, pode ressurgir algo que incomoda muita gente, a tal polarização: eles fizeram errado, nós fazíamos tudo certo. Parte do Rio Grande do Sul foi arrasada pelos temporais. O que fazer para se prevenir a partir de agora? Afinal, outros virão. O que já poderia ter sido feito? Como minorar os riscos? Inaceitável, contudo, é político eleito pelo Estado sumir do mapa, não aparecer para ajudar. O presidente da república desta vez não dormiu no ponto. Veio duas vezes ao Estado. Cumpriu seu dever. O Rio Grande do Sul chora 66 mortos e precisa de muita ajuda. O governador Eduardo Leite tem razão: o Estado necessita de um plano poderoso de investimento federal para se recuperar da devastação sofrida.

FONTE:

https://www.matinaljornalismo.com.br/matinal/colunistas-matinal/juremir-machado/politica-em-torno-das-enchentes/?fbclid=IwZXh0bgNhZW0CMTEAAR3RQ5_Vouiqn8zSt_5jpEP0XMkqIWBplzAK5DAGFqzerd7kdr5FOz3k6qc_aem_AbVHvdPMoUw
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