Por que nos omitimos?
Por que nos omitimos?
Precisamos nos lembrar de que viver em sociedade é um exercício que requer presença e participação
20 de março de 2025
Por Janaina Collar e João Beccon (*)
“(…) Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantado e seguindo a canção
Então, vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora e não espera acontecer. (…)”
“(…) Porque a está hora exatamente há uma criança nas ruas
Há milhões de crianças que nascem e que crescem que como folhas secas batidas pelo outono…
Essas crianças que são nossas crianças também desaparecem
É honra dos homens proteger o cresce
cuidar que não exista infância dispersa pelas ruas
Evitar que naufrague este coração de barco
Essa inocente aventura de pão, brinquedo e chocolate
Não pode um andar um recém gestado, com uma caixa de engraxate ou fardo de jornal nas madrugadas com fome e frio
porque então nossos braços são inúteis disfarces e o coração renina criança não vale mesmo uma má palavra
porque ela está hora exatamente, há uma criança nas ruas.(…)”
Esse é um trecho de uma apresentação realizada pelo cantor nativista argentino Dante Ramon Ledesma, em Santa Maria/RS, em 2004, a parir da música “Para não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré. O contexto desses versos, para além do momento histórico em que vivíamos no Brasil ou para o chamado pela “honra dos homens” que reproduz a misoginia de nossa linguagem, é muito importante em nossos dias, pois precisamos nos lembrar de que viver em sociedade é um exercício que requer presença e participação.
Mas qual a sensação que tu tens ao ler isso?
O que é? ou melhor, em quais temas/momentos podemos nos omitir?
Por que temos tanta hesitação em assumir uma posição?
É necessário manifestar uma posição em que momento?
E este movimento é só como reação a algo ou algum acontecimento?
Ao sair da inanição precisa ser com elaboração e conflito?
A emoção pode ser um gatilho para cessar/combater/resgatar o sujeito da inanição?
Em seminário temático sobre abstenção das eleições de 2024, realizado no TRE-RS, discutiram as hipóteses das razões que levaram aos altos índices do último pleito. A subprocuradora-geral da Justiça Isabel Guarise Barrios sustentou como hipóteses o desinteresse e a descrença da população.
Na esteira de que tudo que é bom é meu/ merecido, e tudo que é ruim é do outro, pode ser um dos endereços de nascimento e defesa “de e para a distribuição” do ódio, da agressão, desqualificação e humilhações, pela posição diferente? Por que acontece? Para além dos ditos populares “precisamos rebaixar o outro para nos elevar” e suas variações, o laço social, onde todos partimos de trajetória distintas, mas (pelo menos deveríamos) ter uma base comum como objetivo a ser alcançado, uma sociedade mais plurimoral e e transmoral, cujos termos surgem e tomam corpo em especial ao longo do século XX e que neste século devem servir de bússola para nossas atitudes.
Muito se diz que o oposto do amor é o ódio ou ainda o poder, mas talvez seja a indiferença. E neste esteio do agir, colocar-se em movimento, onde você não é o protagonista, especial dos especiais, alecrim dourado brilhante e não compõe todos os predicados de perfeições do dicionário, mas um ser vivente que compõem a sociedade, com suas questões pessoais como todos – que hora melhora em um aspecto da vida, mas que hora precisa tomar fôlego e se deparar com suas limitações. O ideal de perfeição, pode servir para camuflar, muita coisa:
– Se não for para fazer perfeito, eu nem faço;
– Eu sou assim, só faço com perfeição;
– Todos são corruptos, ninguém merece o meu voto (de confiança);
– Estou cansado de fazer e ser perfeito e o resto (da sociedade) não se importar;
– Eu sou diferente, sou muito bom, sou especial, ninguém é assim, não entendo por que não são ou levam a vida como eu.
Nesta toada ficcional de tentar justificar sua ausência, do sinônimo se esconder atrás de uma justificativa que possa vir a te deixar confortável na inanição, como um telespectador pronto para tecer criticas, embrulhadas em papel de presente (perfumado e enlaçado) “como é só a minha opinião”, ou aquelas que o único objetivo é direcionar frustração pessoal, e aí o sujeito performa com a sua posição de detentor da prerrogativa de verdade para distribui nominalmente humilhação e agressão para seus alvos. E aí a cena que produzimos é a inanição, o não se importar, a indiferença que não é o contraponto dos promotores do ódio, mas engrossam o lado na oposição dos agentes (públicos ou civis) que trilham cenários diários de possíveis transformações políticas, econômicas, culturais, ambientais…
E neste objetivo de produzirmos reflexões conjuntas, sem a prerrogativa de concordarmos em todas os setores da vida (pública e/ou privada), convidamos a todas e a todos a participarem das etapas das conferências municipais de saúde que acontecem até o mês abril. Nós aqui da fronteira, campanha gaúcha, da cidade de Santana do Livramento, auxiliamos na composição deste importante espaço para qualificar e promover informação e potência de transformação, o evento acontecerá na Unipampa, campus Santana do Livramento, no dia 20 de março, a partir das 8h30, no turno da manhã e a tarde a partir das 14h, que muito embora seja uma conferências temáticas, que vai abordar a saúde do trabalhador e da trabalhadora em saúde, como público-alvo, devem ser para todos e todas nós.
(*) Janaina Collar é psicanalista e mestre em Saúde Coletiva; João Beccon é advogado e coordenador acadêmico do campus Santana do Livramento/Unipampa.