Prefeitos confirmam corrupção
Um quilo de ouro: No Senado, prefeitos confirmam corrupção no MEC
Em audiência pública, prefeitos deram detalhes do escândalo de corrupção envolvendo pastores no Ministério da Educação do governo Bolsonaro
O prefeito Gilberto Braga em depoimento ao Senado. Créditos: Geraldo Magela/Agência Senado
Por Lucas Rocha
Prefeitos ouvidos pela Comissão de Educação (CE) do Senado Federal confirmaram a existência de um esquema de corrupção dentro do Ministério da Educação (MEC) envolvendo os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos. Eles teriam montado um "gabinete paralelo" que controlava a distribuição de recursos da pasta. O escândalo derrubou o ministro da Educação, o reverendo Milton Ribeiro.
Os prefeitos Gilberto Braga (PSDB), de Luís Domingues (MA); José Manoel de Souza (PP), de Boa Esperança do Sul (SP); e Kelton Pinheiro (Cidadania), de Bonfinópolis (GO) confirmaram à comissão de Educação os pedidos de propina dos pastores. Áudio vazado do ex-ministro Milton Ribeiro indica que eles teriam o aval de Bolsonaro para atuar.
Outros dois gestores locais, Calvet Filho, prefeito de Rosário (MA), e Hélder Aragão, de Anajatuba (MA), negaram terem recebido pedidos da dupla. Rosário e Anajatuba receberam recursos do MEC.
Braga foi quem ouviu o pedido de propina em barras de ouro durante um almoço com mais de 20 prefeitos em um restaurante de Brasília. "O pastor Arilton me disse: 'Você vai me arrumar R$ 15 mil para protocolar suas demandas; depois que o recurso já estiver empenhado, como a sua região é de mineração, vai me trazer um quilo de ouro'. Eu não disse nem que sim nem que não, me afastei da mesa", relatou ao Senado.
Kelton Pinheiro afirmou ter ficado "com ânsia de vômito, sem chão" quando Arilton, que é assessor de Gilmar, fez o pedido de propina. "Ele disse: "Vi que seu ofício está pedindo a escola. Deve custar uns R$ 7 milhões. Mas eu preciso de R$ 15 mil na minha mão hoje, porque esse negócio de 'para depois' não cola comigo, não. E é R$ 15 mil porque você está com o pastor Gilmar, porque dos outros cobrei R$ 30 mil, R$ 40 mil", relatou Pinheiro
Foi para Pinheiro que Arilton sugeriu o escandaloso esquema de propinas através da compra de Bíblias.
Souza também relatou uma situação bem parecida, confirmando o modus operandi dos pastores.
Os outros dois prefeitos ouvidos negaram ter tido contato com a dupla de pastores.
"Todos os prefeitos que disseram que não aceitaram dar propina não tiveram nenhum recurso público empenhado. Todos os que tiveram recurso empenhado negam que tenham dado propina", apontou o presidente da comissão, senador Marcelo Castro (MDB-PI).
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor do requerimento que convidou os prefeitos, celebrou a coragem dos gestores em denunciar o escândalo e qualificou o esquema de corrupção como "chinfrim", "cínico", "nojento" e "vulgar".
Com informações da Agência Senado