Professores estão esgotados

Professores estão esgotados

Salas superlotadas, jornadas múltiplas e plataformização: ‘Professores estão esgotados’, diz educador da Uneafro

José Henrique Lemos denuncia sobrecarga e adoecimento na rede pública e defende cursinhos populares como resistência

 

“As salas de aula estão superlotadas, os professores extremamente cansados e esgotados, tendo, muitas vezes, [que dar aula em] duas redes, ou estadual e municipal, ou municipal e privada, e várias escolas para complementar a jornada de trabalho.” A descrição é do educador José Henrique Viégas Lemos, coordenador do núcleo da Uneafro Brasil na Ocupação 9 de Julho, em São Paulo.

Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, ele denuncia a precarização das condições de trabalho na rede pública e o adoecimento dos docentes. “Metade da rede [estadual de São Paulo é formada por] professores temporários. Em São Paulo, docentes com licença médica, com atestado de saúde garantido, têm perdido aulas e deixado de ter seus contratos renovados”, relata. “Não é esse tipo de escola, de educação que nós queremos”, diz.

Para o educador, o cenário de sobrecarga e baixos salários se soma à “plataformização da educação”, quando o uso de tecnologias substitui o papel humano do professor. “A tecnologia, ao invés de ser uma ferramenta que facilitaria o processo educativo, acaba vindo substituir o professor na sua relação com o educando”, explica.

Lemos também critica às mudanças recentes no ensino médio, que, segundo ele, foram feitas sem consultar os professores, agravam as desigualdades e limitam a formação crítica. “Não tem disciplinas exigidas nos vestibulares, como Biologia, Química e Física, no terceiro ano. Filosofia e Sociologia foram, na melhor das hipóteses, colocadas como não obrigatórias”, destaca. “Há uma preocupação dos governos em formar uma mão de obra acrítica”, analisa.

Ele aponta ainda que a falta de investimento público e o fechamento de turmas do ensino noturno e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) comprometem o direito à educação, especialmente para estudantes trabalhadores. “São inúmeras as situações que dificultam o ensino e o aprendizado”, lamenta.

Cursinhos populares como resistência

Na contramão da exclusão, os cursinhos populares mantidos por professores e coordenadores voluntários, como os da Uneafro, seguem como espaços de resistência e transformação. “Os cursinhos pré-vestibulares populares têm a função de permitir que a juventude tenha acesso a uma educação popular e possa ingressar na universidade, já que os tradicionais têm um custo bastante elevado”, indica Lemos.

Mesmo crítico ao vestibular como filtro meritocrático, o professor defende que a mobilização é parte da luta por inclusão. “Nós queremos que a juventude pobre, preta e periférica ingresse na universidade. Essa é a mesma luta das cotas raciais e sociais que o movimento negro e popular sempre travou”, afirma.

“Nós acreditamos que somos parte dessa luta, parte dessa transformação, e queremos ser protagonistas, não coadjuvantes”, conclui.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.




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