Proibição de celulares nas escolas
MERA PROIBIÇÃO DE CELULAR NAS ESCOLAS TENDE AO FRACASSO
Folha de S.Paulo*
Por Daniel Cara, Monique Rufino Silva Pessoa e Pedro Augusto Bertolini BezerraEm termos pedagógicos, e considerando nossa experiência no magistério público (ensino fundamental, ensino médio e educação superior), os celulares prejudicam o aprendizado, mas a mera proibição tende ao fracasso.
Como boa prática, acordos devem ser realizados entre alunos, familiares e professores, segundo diretrizes estabelecidas pelo conselho escolar e pela direção, mediante uma reflexão crítica sobre o uso responsável das tecnologias.
Inclusive, quando couber, os celulares podem ser utilizados como instrumentos pedagógicos —desde que não promovam desigualdades nas salas de aula.
Se é fato que a posse dos aparelhos é inevitável, também é verdade que o uso indiscriminado e desregulado prejudica a saúde, a segurança e o aprendizado dos estudantes. O caminho é o uso racional, acordado.
*Leia o artigo publicado na Folha de S.Paulo desta sexta (28/06)*:
https://www1.folha.uol.com.br/.../mera-proibicao-de...
*Autores*
_Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da USP, é coordenador honorário da Campanha Nacional pelo Direito à Educação._
_Monique Rufino Silva Pessoa é professora de ensino médio e técnico da Etec Guaracy Silveira, doutoranda em educação (USP) e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Direito à Educação, Economia e Políticas
Educacionais (DEEP-USP)._
_Pedro Augusto Bertolini Bezerra é professor de ensino fundamental da rede municipal de São Paulo, doutorando em educação (USP) e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Direito à Educação, Economia e Políticas Educacionais (DEEP-USP).
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Mera proibição de celular nas escolas tende ao fracasso
Melhor caminho é o uso racional, acordado entre professores e alunos
A tecnologia sempre foi parte inerente à vida humana. Benjamin Franklin nos caracterizava como "toolmaking animals", ou seja, animais que fabricam ferramentas.
Os celulares representam um novo capítulo da história entre nós, seres humanos, e nossas criações. Da primeira chamada móvel, realizada em 3 de abril de 1973, aos dias de hoje, os aparelhos evoluíram para smartphones e a previsão é que se consolidem como extensão do nosso próprio corpo.
Proibir ou frear a tecnologia é contraproducente: significa contrariar a própria jornada humana. Contudo, qualquer instrumento tecnológico deve ser utilizado de forma a estabelecer uma experiência profícua. Esse é o dilema no qual está inserido, entre outros, o uso de celulares nas salas de aula.
No livro "Celular: ensaios estatísticos no ensino fundamental", publicado em 2023, os professores Jonatas Póvoa e Leonardo Mota estudam o caso de uma escola pública da rede municipal de São Paulo. Nesse universo, mais da metade dos alunos ganham seus aparelhos antes dos 10 anos, sem supervisão sobre o uso. Muitos estudantes relatam sintomas como cansaço, vista cansada e dores no pescoço devido ao uso excessivo.
Segundo o relatório "Pisa 2022 Results (Volume 2)", publicado pela OCDE em 2023, 45% dos estudantes relataram se distrair com o uso de dispositivos digitais durante as aulas no Brasil, enquanto a média da OCDE é de 30%. Além disso, 40% dos alunos brasileiros se distraem com colegas que estão utilizando seus aparelhos, comparado à média de 25% na OCDE. Ou seja, a presença do celular prejudica o aprendizado.
No mesmo sentido, o relatório "A tecnologia na educação: uma ferramenta a serviço de quem?", publicado pela Unesco em 2023, aponta que há poucas evidências que comprovem a contribuição das tecnologias para a aprendizagem.
Na pesquisa "Proibição do uso de celulares nas escolas: argumentos e orientações de nove países", do Centro de Inovação para Excelência das Políticas Públicas, de 2024, é afirmado que a exposição em excesso dos estudantes às telas prejudica a concentração, causa dependência e afeta o desempenho escolar. Por isso, em alguns países, os celulares ficam longe do alcance dos estudantes durante o período de aula.
Já a nota técnica "Programa Escolas Conectadas: pela segurança, responsabilidade e princípios de direitos humanos", publicada em 2024 pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, o uso de tecnologias nas instituições educacionais precisa garantir uma conectividade significativa, incentivando o uso de uma ampla gama de recursos, levando em consideração a questão pedagógica, a independência tecnológica e a proteção de dados dos estudantes.
Portanto, em termos pedagógicos, e considerando nossa experiência no magistério público (ensino fundamental, ensino médio e educação superior), os celulares prejudicam o aprendizado, mas a mera proibição tende ao fracasso.
Como boa prática, acordos devem ser realizados entre alunos, familiares e professores, segundo diretrizes estabelecidas pelo conselho escolar e pela direção, mediante uma reflexão crítica sobre o uso responsável das tecnologias.
Inclusive, quando couber, os celulares podem ser utilizados como instrumentos pedagógicos —desde que não promovam desigualdades nas salas de aula.
Se é fato que a posse dos aparelhos é inevitável, também é verdade que o uso indiscriminado e desregulado prejudica a saúde, a segurança e o aprendizado dos estudantes. O caminho é o uso racional, acordado.
FONTE: