Felix Zucco / Agencia RBS
Linha tradicional, também chamada de conteudista, é predominante no Brasil   
Felix Zucco / Agencia RBS

Quando se pensa na possibilidade de ter filhos, uma das principais questões que aparecem na cabeça dos pais é a educação. Uma das surpresas é a necessidade de ir além do nome, localização ou até mesmo valor do colégio. Ao ouvir os termos tradicional, construtivista, sócio-construtivista, Waldorf, Montessori ou Freinet, os responsáveis pela educação de uma criança podem ficar confusos. Cada linha pedagógica trata o ensino de maneira diferente e, por isso, o conhecimento delas é essencial antes de realizar a matrícula.

Com o slogan “Mais laboratório, menos auditório”, o professor titular de Psicologia da Educação na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Fernando Becker, acredita que, para ensinar, o educador precisa compreender o estudante, pois não basta apenas educar como se este fosse um repositório:

— A palavra que define a pedagogia é a interação — explica.

Para o docente, a relação pode ser compreendida como dois polos que se encontram e que se provocam — como propôs Paulo Freire, pelo conceito de diálogo. A escola ativa, que escuta e interage com a opinião dos alunos, professores e funcionários, tem o objetivo de desenvolver o trabalho de forma cognitiva e afetiva, fazendo do estudante um cidadão autônomo, um elemento positivo dentro da sociedade. 

Doutor em Psicologia Escolar pela Universidade de São Paulo (USP), Becker identifica a visita ao colégio como fundamental antes de fazer a matrícula.

— É preciso ver se os pais concordam com determinadas questões. Se informar sobre como são as aulas, se há laboratório, se a criança ou adolescente tem lugar para agir e se reunir com os colegas. Tem biblioteca? Tem laboratório? Se informe sobre como são as relações e regras de convivência. Os alunos têm lugar para se manifestar e sugerir? Ou está tudo pronto e acabado? — questiona.

Da mesma forma que Becker, a professora da Escola de Humanidades da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Bettina Steren, julga crucial conhecer a escola. No contexto de uma boa aprendizagem, o bem-estar e os lados afetivo e emocional devem ser considerados, pois o estudante precisa estar em um contexto adequado, que favoreça seu desenvolvimento cognitivo. Bettina indica que os pais visitem o local quando houver alunos. 

— Os pais podem observar desde a entrada, no acolhimento da portaria. Ver como a pessoa é recebida diz muito sobre a instituição — enfatiza a professora.

Aposta na ideia construtivista

Com uma das unidades localizada de frente para o Parque Farroupilha, na Capital, a escola Projeto trabalha com seus alunos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental na perspectiva do construtivismo. Segundo Deborah Vier Fischer, doutora em educação e coordenadora geral do colégio, a Projeto entende que a criança se desenvolve em contato com adultos e com seus pares, avançando em seus conhecimentos, com atenção às questões do mundo e suas mudanças. Para isto, são utilizados diversos recursos didáticos e propostas como desafios “na medida”, para que não sejam tão difíceis que não possam ser atingidos nem tão fáceis que se tornem desanimadores. Conforme a coordenadora, o construtivismo é um modo de pensar e de entender o conhecimento como algo dinâmico, sempre em processo e transformação.

— A escolha pela proposta construtivista tem a ver com o momento em que a Projeto nasce, no final dos anos 1980, quando se tinha um cenário de educação mais voltado ao ensino tradicional, além da necessidade de se pensar em modos de aprender e ensinar mais voltados à ideia de colocar o pensamento em relação (a um tema), algo mais próximo do nosso tempo — explica. 

O grupo de educação Bertoni Med é originário do Paraná e chega a Porto Alegre com o intuito de oferecer uma educação ativa, que prepara os alunos para as mobilidades profissional e acadêmica internacional. Apresenta a proposta de formar cidadãos mais críticos e responsáveis, e o presidente da instituição, Fred Ganem, vê uma mudança no cenário mundial da educação. 

— Nós temos uma tradição na área de performance, porque sempre criamos um propósito de vida para o aluno e buscamos ver onde a educação se enquadra, oferecendo o que o aluno quer — justifica, para complementar: 

— Temos visto um resultado muito legal, de alunos hiper motivados e com currículo que conseguimos mandar com bolsas para diversas universidades dos Estados Unidos e da China.

Confira a definição de cada linha pedagógica, segundo o professor Fernando Becker

Tradicional

Predominante no Brasil, a proposta também é chamada de conteudista, em que o aluno é avaliado em provas e de forma uniformizada e sistematizada. A figura central é o professor e há uma rigidez na disciplina dos estudantes.

Construtivista

Com base na autonomia, essa teoria acredita que o aluno é capaz de construir o próprio conhecimento. O estudante age e pensa para realizar projetos, considerado um sujeito com posição simétrica ao professor. Ou seja, o docente tem mais conhecimento. Mas, como sujeito, ele é igual ao aluno.

Socioconstrutivista

Nesta linha, a aprendizagem funciona com base nas interações sociais, com o aluno voltado para os problemas sociais e com o que está acontecendo na sociedade. Por meio de discussões, o estudante adquire novos pontos de vista. A proposta acredita que os erros são uma forma de aprendizado.

Waldorf

A metodologia tem uma proposta parecida com a escola ativa em sua origem. Entretanto, a interpretação brasileira propõe um colégio restringindo, por exemplo, que a criança assista à televisão. A linha exige um grande engajamento por parte dos pais. 

Montessori

Proposta baseada no aprendizado por meio da experiência prática e da observação. O professor tem o papel de guiar e orientar o aluno em atividades motoras e sensoriais, que respeitam o tempo de cada um.


Freinet

A metodologia de Freinet funciona junto à natureza, realizando um trabalho de campo para, depois, escrever a teoria. O pedagogo criou a linha ao lidar com crianças moradoras de rua que tinham seus estudos divulgados para a população local.

 

https://gauchazh.clicrbs.com.br/educacao-e-emprego/noticia/2021/09/tradicional-construtivista-socioconstrutivista-waldorf-montessori-freinet-o-que-significa-cada-linha-de-educacao-ckt1kxs3k003b013bh21iz3z4.html