Protesto por reposição salarial e melhorias IPE

Protesto por reposição salarial e melhorias IPE

Professores estaduais protestam por reposição salarial e melhorias no IPE Saúde: ‘Faz 10 anos que não recebo reajuste’

Categoria denuncia o arrocho salarial imposto pelo governo Leite e reivindica reposição salarial de 15,2% para trabalhadores da ativa e aposentados.

Bettina Gehm  11/11/2025

 

Ato estadual do Cpers em Porto Alegre, 11 de novembro de 2025.
Foto: Caco Argemi/ CPERS Sindicato

 

Centenas de trabalhadores da rede estadual de ensino se mobilizaram na manhã desta terça-feira (11), reivindicando reposição salarial de 15,2% para professores e funcionários da ativa e aposentados. Convocado pelo Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers), o ato reuniu centenas de pessoas que caminharam da sede do IPE Saúde até o Palácio Piratini aos gritos de “Fora, Leite”. O sindicato reivindica ainda a aprovação das emendas do Cpers à Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2026, garantindo recursos para a valorização salarial e melhores condições de trabalho.

A professora aposentada Maria da Graça Souza relata que o salário atual, tanto dos docentes na ativa quanto dos aposentados, torna “difícil de sobreviver, de ter dignidade, de adquirir a compra básica para uma família”. Isso porque os aumentos concedidos ao longo dos últimos anos foram descontados da parcela de irredutibilidade, parte do plano de carreira dos educadores. “Faz mais de 10 anos que eu não recebo absolutamente nenhum aumento salarial por conta desse roubo na nossa parcela, roubo daquilo que a gente construiu ao longo da nossa vida”, lamenta Maria da Graça.

Ao longo dos últimos anos, o governo do Leite promoveu reajustes para adequar o Estado ao Piso Nacional do Magistério e promoveu a reestruturação da remuneração da categoria. Contudo,  Cpers critica o fato de que nem todos os professores receberão esse reajuste. Uma reforma da previdência feita em 2020 acabou com triênios e outras gratificações, mas, como não podia reduzir os benefícios dos aposentados, o governo faz com que eles tenham que absorver essas correções dentro do que ganham com as gratificações que já tinham conquistado, criando assim a chamada parcela de irredutibilidade. Na prática, isso significa que professores com vencimentos acima do piso recebem o reajuste no salário base, mas não tem aumento salarial real.

Para o Cpers, o governo Eduardo Leite (PSD) insiste em tratar o funcionalismo público com descaso “enquanto investe em marketing e propaganda para mascarar a falta de valorização real”.

A precarização do IPE Saúde, instituto que atende os trabalhadores da rede estadual, também é motivo de protesto dos professores e funcionários. O Cpers denuncia que há um “desmonte dos serviços” oferecidos aos segurados.

Secretária de escola em Salto do Jacuí, Elenice da Rosa relata dificuldades para marcar consultas médicas no município onde mora e trabalha. “Nós temos apenas um médico credenciado pelo IPE. Não temos pediatra, não temos ginecologista. Cirurgia, então, nem se fala”, afirma.

Outras duas mudanças recentes na educação estadual são motivo de protesto da categoria. Uma delas é a aprovação do projeto de lei que trata do Programa de Reconhecimento da Educação Gaúcha, apresentado pelo Executivo. A proposta estabelece mecanismos de incentivo, através de bônus, vinculados ao cumprimento de metas de desempenho, mensuradas por meio de indicadores oficiais, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o Índice de Desenvolvimento da Educação do Rio Grande do Sul (Iders) e a frequência escolar.

O sindicato argumenta que Leite e sua base aliada tentam vender o projeto como uma política de valorização e incentivo à qualidade, mas que, na prática, o texto reforça a lógica meritocrática e excludente, premiando algumas escolas e profissionais enquanto ignora as desigualdades estruturais da rede estadual.

Além disso, está em curso a municipalização do Ensino Fundamental em Porto Alegre. As turmas de 1º ano sob responsabilidade de instituições do Estado serão transferidas para as escolas da rede municipal; já as turmas de 6º ano que hoje são municipais passarão a ser oferecidas por escolas estaduais.

A presidente do Cpers, Rosane Zan, alerta que a ação pode impactar diretamente os professores da rede estadual com a perda de locais de trabalho, pois 60% dos profissionais possuem contratos emergenciais. “Quando ofertam para a rede municipal existe um período de manutenção de dois anos. E, nesse período, os professores que são efetivos e os funcionários de escola ficam, mas e depois? Porque já vai estar com a rede municipal. Como é que ficam esses postos de trabalho? Então, são inúmeras questões que a gente precisa discutir”, aponta.

 




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