Quem tem fome, tem pressa

Quem tem fome, tem pressa

Quem tem fome, tem pressa: O direito humano à alimentação em tempos de COVID-19

Artigo de Analise da Silva, coordenadora do Comitê MG da rede da Campanha

 

Na última sexta-feira, o site da UFMG trouxe uma notícia que, embora não seja novidade para aqueles e aquelas de nós que trabalhamos junto a populações mais vulnerabilizadas como aquelas sem teto, sem escolarização, sem emprego, enfim, a maior parte dos educandos da Educação de Jovens, Adultos e Idosos, confirma que as populações que mais demandam atenção do poder público neste momento de crescimento do número de infectados são aquelas que vivem em situação de domicílios com adensamento excessivo, com coabitação familiar, sem abastecimento regular de água, sem coleta de lixo, sem coleta regular de esgoto, com acesso precarizado aos Postos de Saúde e se concentram nas periferias urbanas na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Portanto, parte bastante significativa dos 13 mil sujeitos estudantes da EJA na Rede Municipal e dos 16 mil na Rede Estadual de Ensino, na capital. Significativa para os que estão na escola. Aterrorizante se pensarmos os que não estão e que só em BH totalizam quase 1 milhão de cidadãos privados do direito à escolarização.

Sabemos que é função do Poder Público adotar medidas estruturais e emergenciais que contemplem ações focalizadas nas populações mais carentes. Entretanto, ocorre que a ausência de políticas públicas efetivas de moradia, saúde, educação e trabalho, articuladas à situação da atual pandemia do Coronavirus vulnerabiliza mais ainda estas pessoas e faz com que saiam do distanciamento social à procura de recursos que lhes garanta alimentação e, como sabemos a circulação entre as pessoas na Região Metropolitana fará com que os contaminados de um município circulem largamente em outros.

Diante disso, avalio que o Estado deve assumir seu papel e, na perspectiva da construção de medidas que contribuam com a priorização da vida de todos nós. Os educandos da EJA  e as famílias das crianças e dos adolescentes estudantes precisam ser incluídos imediatamente na Política de Segurança Alimentar para que, tendo seu direito humano e constitucional à alimentação garantido, não saiam às ruas buscando trabalho, buscando auxílio, buscando “bicos”, enfim, buscando condições de sobrevivência e rompendo, assim, com o distanciamento social.

Eu avalio que garantir que alimentação, saúde e bem estar mínimo de jovens, adultos e idosos mais vulneráveis significa garantir-lhes acesso a alimentos, produtos de higiene pessoal, produtos de limpeza e gás de cozinha. E isto precisa ser uma prioridade, pois é fator decisivo no combate ao Coronavirus, porque estes cidadãos belo-horizontinos trabalham como ambulantes, domésticas, diaristas, lavadores e tomadores de conta de carros, pedreiros e já começam a romper o isolamento e a sair para buscar algum alimento. Muitos são idosos. Muitos estão desempregados. Portanto, são os trabalhadores e as trabalhadoras informais, autônomos e desempregados, pessoas que não terão o que comer nesse período.

Só quem conhece a situação deles de adoecimento, de desemprego, de idades avançadas, de famílias numerosas, de dificuldades pela pouca ou nenhuma escolarização, entende que eles vão sair para as ruas buscando auxílio, pois as escolas estão fechadas e eles romperão com o distanciamento social. E sabemos que vocês os conhecem.

Entendendo que esta será uma das formas efetivas de contribuir, senão com a contenção, ao menos com a minimização do alastramento do vírus e, consequentemente com a segurança dos cidadãos de nossa capital, promovendo os auxílios específicos para estas populações mais frágeis e vulnerabilizadas, com a garantia de sua alimentação, contribuindo para evitar deslocamentos e sobrecarga de demanda nos hospitais em Belo Horizonte e arredores.

Eles têm feito contato conosco e informado, cada dia em maior número, que já não têm mais provimentos em suas casas. Tempo é uma coisa da qual os sujeitos da EJA não dispõe para aguardar em casa sem que suas condições objetivas de alimentação sejam supridas.

Salientamos, também, que os canais de cadastro e distribuição das cestas básicas devem levar em consideração que muitos estudantes da EJA estão em processo de alfabetização e por isso precisam ter à disposição um canal telefônico para acolhimento dos cadastros. Além disso, lembro que, segundo o IBGE, 32% da população mineira não tem acesso à internet.

Lembrando que, segundo nos alertam os infectologistas, a situação de distanciamento social deverá durar ainda por meses, é necessário que o poder público se ocupe agora de garantir a logística necessária para a entrega das próximas cestas-básicas, dos próximos auxílios emergenciais.

Quem tem fome, tem pressa!

*

Texto originalmente publicado pelo site Pensar a Educação.

(Imagem de destaque: A Rodoviária do Plano Piloto.Foto: Isac Nóbrega/PR)

Analise da Silva é pedagoga e historiadora. Mestre e doutora em Educação pela UFMG. Professora no programa de pós-graduação do mestrado profissional – educação e docência – PROMESTRE da FAE/UFMG. Coordenadora do Comitê Mineiro da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e Coordenadora do Fórum Mineiro de EJA.

https://campanha.org.br/noticias/2020/05/04/o-direito-humano-alimentacao-em-tempos-de-covid-19/

 

Campanha lança Guia COVID-19: Alimentação Escolar

Quinto volume da série apresenta boas práticas do Poder Público para garantir o direito à alimentação escolar

 

Em seu quinto volume, a Campanha Nacional pelo Direito à Educação dá continuação a sua série de guias sobre educação e proteção no contexto da pandemia da COVID-19 (coronavírus). 

O objetivo do Guia COVID-19: Alimentação Escolar é compilar uma série de informações, dados e links úteis disponíveis em fontes confiáveis sobre alimentação escolar no Brasil e no mundo para elaborar recomendações e orientar sobre como atuar para além da ação individual. Este momento é de ação coletiva.

Acesse o Guia COVID-19: Alimentação Escolar. O material foi produzido pela Campanha em parceria com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e o FBSSAN (Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional).

O Guia 5 é direcionado a:

- Comunidade escolar: professores, diretores e profissionais da educação;

- Família: mães, pais, responsáveis, tias, tios, primas, primos, avós, irmãs e irmãos mais velhos;

- Tomadores de decisão do Poder Público, especialmente das secretarias e conselhos de educação do país.

Encontre no volume 5:

- O que estamos fazendo no Brasil quanto à alimentação escolar;
- O que deve e o que não deve ser feito;
- Boas práticas no Brasil e no mundo;
- Atuação de movimentos como MST, Movimento dos Pequenos Agricultores, entre outros;
- Orientações específicas para tomadores de decisão do Poder Público, conselhos e comunidade e famílias;
- Um olhar específico sobre o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar);
- O amparo da legislação quanto à alimentação escolar; 
- Orientações do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação);
- O relevante papel dos Conselhos de Alimentação Escolar (CAE);

Em breve, vamos disponibilizar a versão acessível dos Guias 3, 4 e 5.

ACESSE

Guia 1 - Educação e Proteção de crianças e adolescentes - Comunidade escolar, família e profissionais da educação e proteção da criança e do adolescente. Acesse aqui. Versão acessível aqui.

Guia 2 - Educação e Proteção de crianças e adolescentes - Tomadores de decisão do poder público em todas as esferas federativas. Acesse aqui. Versão acessível aqui.

Guia 3 - Educação a Distância: Informe-se e saiba como agir, cobrar, e trabalhar pela educação de todos de maneira colaborativaAcesse aqui.

Guia 4 - COVID-19: Boas Práticas em Proteção. Acesse aqui.

Guia 5 - COVID-19: Alimentação Escolar. Acesse aqui.

 

https://campanha.org.br/noticias/2020/05/04/campanha-lanca-guia-covid-19-alimentacao-escolar/

 




ONLINE
66