Reabertura das escolas em Manaus
Manaus completa 1 mês de reabertura de escolas públicas com bons exemplos, temor e desafios
Capital foi a primeira do país a retomar aulas na rede estadual. G1 visitou unidades e encontrou pias com sabão, álcool e medição de temperatura, mas professores relatam sobrecarga de trabalho; pais temem transporte coletivo; alunos dizem que regras nem sempre são cumpridas fora dos portões.
Por Matheus Castro, G1 AM
No retorno, alunos e professores precisam se adaptar ao "novo normal". — Foto: Matheus Castro/G1 AM
Manaus completa, nesta quinta-feira (10), um mês do retorno das aulas presenciais na rede estadual de ensino. A cidade foi a primeira capital do país a retomar as atividades, quase cinco meses após o início da pandemia do coronavírus. Voltaram apenas alunos do ensino médio e do programa de Educação para Jovens Adultos (EJA) – cerca de 110 mil estudantes. O ensino fundamental e o básico não têm data para o regresso, e a transmissão de aulas ocorre pela internet e pela TV aberta.
Dentro das 123 escolas da rede estadual em Manaus, foram adotadas medidas de segurança, como sabão nas pias, álcool gel e medição de temperatura, por exemplo. Mas há também problemas e desafios. Professores relatam sobrecarga de trabalho, pais temem o transporte coletivo lotado e alunos dizem que regras nem sempre são cumpridas.
O cronograma de retomada das atividades estabelece alternância entre aulas presenciais e à distância (leia mais abaixo). A ocupação das salas foi reduzida a 50% da capacidade.
De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil está entre os países que fecharam as escolas por mais tempo em razão da pandemia de Covid-19 – 16 semanas até o fim de junho. A média das nações do grupo é de 14 semanas.
Além do Amazonas, apenas outros cinco estados têm previsão de retomar atividades na rede estadual neste ano. São eles:
- Pará – outubro, mas sem dia definido (nos primeiros 15 dias, apenas os alunos do 3ª ano do ensino médio)
- Rio de Janeiro – 5 de outubro (no início, deve ser priorizado o retorno às aulas no 9°ano do ensino fundamental e no 3°ano do ensino médio para que os estudantes possam se formar)
- Rio Grande do Sul – 13 de outubro (começando pelo ensino médio)
- Santa Catarina – 13 de outubro (começando pelo 3º ano do ensino médio e por alunos com dificuldades de acompanhar atividades remotas; a retomada será gradual, uma série por semana, até que se chegue ao 7º ano – do 6º para baixo, é possível que a volta não ocorra neste ano)
- São Paulo – 7 de outubro (na primeira fase, somente 35% dos alunos de cada classe poderão frequentar as escolas a cada dia. Ou seja, em um dia vai um grupo, em outro dia vai outro)
Desde o dia 18 de agosto, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) do Amazonas, por meio da Fundação de Vigilância e Saúde (FVS), tem testado profissionais da rede pública em Manaus. Até 1º de setembro, foram aplicados 3.140 testes rápidos, com 922 resultados positivos para Covid-19 – desses, 229 estavam com infecção recente. Para a Seduc, o dado não indica que os profissionais tenham se contaminado após o retorno das aulas.
Até a última atualização desta reportagem, não havia registro de alunos que morreram por causa do coronavírus ou de contaminação entre estudantes. Em todo o estado do Amazonas, mais de 120 mil pessoas foram infectadas pelo novo coronavírus, e o número de mortos passa de 3 mil.
O G1 visitou duas escolas localizadas na Zona Norte da capital para verificar o funcionamento dessas unidades um mês após a retomada das atividades presenciais (veja, abaixo, a lista pontos positivos e negativos).
Em ambos, o distanciamento entre as carteiras não chegava a 1,5 metro. Em algumas das salas, havia pouca participação dos alunos, além de horários vagos – eles seriam ocupados por aulas de professores que estão afastados porque têm Covid-19.
Nas escolas visitadas, todos os estudantes e professores estavam de máscara – não é permitido entrar nas unidades sem a proteção. Todas as pias estavam funcionando, havia água e sabão para lavar as mãos – mas nem sempre tinha papel. Alunos e professores disseram ao G1 que na merenda estão sendo distribuídos alimentos que não precisam de preparo, como bolachas, sucos e frutas.
Pontos positivos:
- Pias com sabão, dispensador de álcool, medição de temperatura na entrada, distribuição e obrigatoriedade do uso de máscara.
- Alunos dizem que as aulas presenciais permitem melhor assimilação do conteúdo.
- Consciência coletiva: os próprios alunos "fiscalizam" se os colegas estão cumprindo as regras.
- Merenda "seca", com biscoito e suco em caixinha.
Pias e cartazes informativos também foram instalados ao longo de toda escola. — Foto: Matheus Castro/G1 AM
Pontos negativos:
- Relatos de descumprimento do distanciamento na escolas.
- Estudantes cumprem as regras melhor dentro das escolas, mas relaxam do portão para fora
- Risco de contágio no transporte coletivo.
- Professores faltam com mais frequência, e aqueles afastados por Covid-19 não são substituídos de imediado – além disso, alunos são informados apenas quando já estão na escola.
- Professores dizem estar sobrecarregados, porque, com o rodízio de alunos, precisam dar tanto aulas presenciais quanto on-line.
O que mudou nas escolas
Assentos estão marcados, mas distância é inferior a 1,5m. — Foto: Matheus Castro/G1 AM
Para o retorno das aulas, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) montou um plano de ação, a partir das recomendações da Fundação de Vigilância e Saúde. Algumas iniciativas adotadas foram:
- distribuição de 1 milhão de máscaras a todos os professores, estudantes e demais profissionais das escolas (o uso da proteção é obrigatório);
- reforço nas práticas de higiene pessoal, como lavagem correta das mãos nas pias instaladas nos ambientes comuns;
- distanciamento de pelo menos 1,5 metro entre as pessoas, tanto na sala de aula como nos corredores e refeitórios;
- e limpeza constante das superfícies para evitar a proliferação do vírus.
Em áreas comuns, adesivos sinalizam espaços que podem ser utilizados — Foto: Matheus Castro/G1 AM
A entrega de máscaras para os estudantes foi um dos pontos que gerou polêmica. O equipamento de proteção entregue pelo governo era grande demais para os alunos e cobria todo o rosto, não apenas boca e nariz . O governo admitiu o erro e anunciou a distribuição de novas máscaras foram distribuídas.
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