Região do cérebro ligada à dislexia

Região do cérebro ligada à dislexia

Pesquisadores descobrem região do cérebro ligada à dislexia

Causas do distúrbio de aprendizagem que dificulta a leitura ainda são um mistério. Cientistas alemães, porém, conseguiram localizar onde a dislexia começa.

Alexander Freund   13/09/2024

 

Disléxicos não se debatem apenas com as letras, palavras e frases -
mas, sobretudo, com preconceitos
Foto: Zoonar.com/Robert Kneschke/Zoonar/picture alliance

Confundida muitas vezes com preguiça e déficit intelectual, uma pessoa pode sofrer de dislexia quando ela não consegue atribuir corretamente os sons e letras de uma palavra na hora de ler. A leitura não flui como esperado em relação à idade e outras habilidades cognitivas. O disléxico chega a omitir letras, sílabas ou palavras inteiras, trocando-as entre si ou acrescentando outras durante a leitura e a escrita. Os textos apresentam muitos erros e a caligrafia é frequentemente ilegível.

A dislexia afeta cerca de 5 a 10% das pessoas em todo o mundo. Com isso, ela é o transtorno de aprendizagem mais comum. Os sintomas costumam se manifestar na infância. Os meninos sofrem de duas a três vezes mais de dislexia do que as meninas.

Os disléxicos têm dificuldade em reproduzir o conteúdo de um texto que leram. Quando crianças, este déficit costuma se mostrar também em outras disciplinas escolares, principalmente naquelas em que a leitura e a escrita são necessárias, como em línguas estrangeira ou matemática – quando a atividade é apresentada em forma de texto.

Além da constante batalha para entender as letras, palavras e frases, pessoas com dificuldades de leitura e de ortografia lutam contra os preconceitos, uma vez que a dislexia os acompanha ao longo de uma vida toda. Primeiro na escola, depois no trabalho e na vida cotidiana.

No entanto, a fraqueza não diz nada sobre o intelecto dos afetados. Charles Darwin, Albert Einstein, Ludwig van Beethoven e Ernest Hemingway eram disléxicos.

A longa busca pelas causas

As causas da dislexia ainda não são totalmente conhecidas. No entanto, pesquisadores da cidade alemã de Dresden conseguiram provar, pela primeira vez, que a dislexia está ligada a alterações na função e na estrutura de uma parte específica do cérebro humano: o tálamo – a nossa estação de reorganização dos estímulos.

O tálamo é importante porque liga os nossos olhos ao córtex cerebral – conhecido popularmente como "massa cinzenta". A informação visual proveniente dos olhos é processada em duas partes separadas: na parte menor, são reconhecidos os movimentos e as imagens que mudam rapidamente; enquanto na parte maior, são processadas as cores.

 

Muro branco com diferentes letras coloridas pintadas nele.

Na leitura e na escrita, os disléxicos omitem, trocam ou acrescentam letras, sílabas
ou palavras inteiras.    Foto: Erwin Wodicka/+/picture alliance

 

No entanto, nem mesmo uma ressonância magnética é capaz de examinar o tálamo minuciosamente. Isso se deve ao fato de ele ser minúsculo e estar localizado bem no meio do cérebro. A menor parte do tálamo é do tamanho de um grão de pimenta.

Graças a um sistema especial de ressonância magnética do Instituto Max Planck de Neurociências Cognitivas, em Leipzig, pesquisadores conseguiram examinar o tálamo mais detalhadamente.

De acordo com o estudo publicado na revista científica Brain, o tálamo de quem tem dislexia apresenta alterações na função e na estrutura da parte que é sensível ao movimento. Isso foi observado principalmente em disléxicos homens. Para pesquisa, foram analisados os cérebros de 25 pessoas com dislexia e 24 sem o transtorno.

Os pesquisadores consideram o achado um passo extremamente importante para compreender esta região do cérebro. "Esta descoberta abre caminho para novos estudos para entender melhor os mecanismos cerebrais subjacentes à dislexia", afirma Katharina von Kriegstein, pesquisadora e professora da área de neurociência cognitiva da Universidade Técnica (TU) de Dresden.

Novos métodos terapêuticos

A cientista Christa Müller-Axt, também da TU Dresden, afirmou que esta descoberta pode possibilitar o desenvolvimento de novos métodos de tratamento. "Isto poderia abrir possibilidades para técnicas de neuroestimulação não invasivas, como um método terapêutico promissor para modular a atividade destas estruturas cerebrais e, assim, aliviar alguns sintomas de dislexia."

Porém, ainda irá levar algum tempo até que sejam desenvolvidas abordagens terapêuticas eficazes e sustentáveis, esclarece a cientista. No entanto, a descoberta da a área relevante à dislexia no cérebro foi crucial, complementa.

"Acredito que encontramos um novo alvo no cérebro, que está diretamente ligado às dificuldades de leitura na dislexia. E se mirarmos nesta área e modularmos a sua atividade, isso pode realmente ajudar estas pessoas no futuro", destaca Müller-Axt.  O que acontece quando a tireoide não funciona direito?




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