Resultado vergonhoso do Brasil no IDH

Resultado vergonhoso do Brasil no IDH

Por Editorial 


Resultado vergonhoso do Brasil no IDH é responsabilidade de Bolsonaro
Atendimento no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla: a saúde é uma dimensão básica do IDH Márcia Foletto / Agência O Globo

O Relatório de Desenvolvimento Humano, divulgado nesta semana pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), recebeu um título que traduz a realidade mundial: “Tempos incertos, vidas instáveis”. Não há dúvida sobre o período de incerteza e instabilidade que vivemos. O texto traz a última leitura do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), uma medida de três dimensões básicas: renda, educação e saúde.

Pela primeira vez desde que foi criado, em 1990, o IDH global, empurrado pela pandemia, deu marcha à ré — e por dois anos consecutivos. No retrocesso planetário, o Brasil conseguiu ter um resultado ainda pior. O IDH global voltou ao nível de 2016. O brasileiro, ao de 2014. Em outras palavras, a incompetência do atual governo supera a média dos outros países.

No ranking do IDH, o país recuou uma posição para o vexaminoso 87º lugar entre 191 nações. Fomos ultrapassados pela China e continuamos atrás de vizinhos como Chile, Argentina, Uruguai, Peru e México. Melhorar a posição brasileira no indicador é um tema que deve ser prioridade na agenda do próximo presidente da República.

A área que mais contribuiu para rebaixar a avaliação do país foi a saúde. Em todo o mundo, as mortes provocadas pelo coronavírus reduziram a expectativa de vida em 1,6 ano. Por aqui a queda foi maior, de 2,5 anos. O Brasil é o segundo país com o maior número absoluto de mortes por Covid-19, oficialmente com mais de 680 mil, atrás apenas dos Estados Unidos. Em termos relativos, também passamos vergonha — com perto de 3.200 por milhão de habitantes, só ficamos atrás de 16 países numa relação de 225. Agora em 72,8 anos, nossa expectativa de vida voltou ao patamar de 2008.

A comparação internacional torna evidente o “fator Bolsonaro” no desempenho brasileiro. O presidente fez pouco-caso da pandemia, foi lento na compra de vacinas e alimentou o negacionismo. Mesmo hoje se recusa a fazer uma avaliação realista das falhas de seu governo. Continua criticando a política de isolamento que salvou milhares de vidas nos momentos mais críticos da pandemia.

O próximo governo também terá diante de si a tarefa árdua de recuperar a educação. Os dados do IDH nessa área parecem não captar a dimensão das perdas nos longos períodos em que as escolas ficaram fechadas — tristemente, o Brasil foi um dos recordistas também nesse quesito. Os programas destinados a preencher as lacunas têm apresentado desempenho irregular. É essencial a coordenação por parte do Ministério da Educação. Caso nada de vulto seja feito, poucos estados e municípios atingirão as metas, enquanto a maioria ficará para trás.

Que ninguém se iluda: se as políticas de saúde e educação não forem levadas a sério, o desempenho do Brasil no IDH continuará sendo uma vergonha, prova da precariedade dos serviços prestados pelo Estado ao cidadão.

 

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