Se não foi motivação política?
Se não foi motivação política, como explicar o assassinato de petista em Foz do Iguaçu?
Polícia Civil do Paraná indiciou assassino por homicídio duplamente qualificado
15/07/2022 - Rosane de Oliveira
Do ponto de vista criminal e da eventual pena em caso de condenação, detalhe sobre motivação política faz diferença @gleisi / Twitter/Reprodução
Impressiona a rapidez com que a Polícia Civil do Paraná concluiu que não teve motivação política o assassinato do guarda Marcelo Arruda, na festa em que comemorava 50 anos, em Foz do Iguaçu. Se não foi motivação política, como explicar a invasão da festa pelo policial penal Jorge José da Rocha Guaranho? Do ponto de vista criminal e da eventual pena em caso de condenação, esse detalhe faz diferença. Guaranho foi indiciado por homicídio duplamente qualificado, com duas qualificadoras: motivo torpe e colocar em risco a vida de outra pessoa.
— A motivação política no homicídio, uma vez reconhecida, ainda que não altere o enquadramento em homicídio qualificado, poderá acarretar um agravamento da situação penal do réu no momento da fixação da pena — explicou à coluna o advogado Marcelo Peruchin.
E qual o “motivo torpe”? De acordo com a conclusão da polícia, baseada no depoimento da esposa do assassino, ele retornou armado à festa de aniversário de Marcelo porque sentiu-se ofendido na incursão anterior, quando os dois bateram boca por ideologia política e o petista jogou um punhado de terra (ou brita) no carro da família, uma Hyundai Creta branca.
É preciso recapitular a história para entender por que se estranha a conclusão de que não houve motivação política. De acordo com a investigação, Guaranho estava em um churrasco, bebendo com amigos, de onde se podia acompanhar as imagens das câmeras de segurança instaladas na sede da associação onde se realizava a festa de aniversário de Marcelo Arruda. Recordemos: era uma festa temática, em que o personagem principal não era da Disney nem da Marvel, mas o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Depois de ver as imagens, Guaranho, que não era convidado, foi até o local. Lá, conforme as testemunhas, chegou com uma música sobre o presidente Jair Bolsonaro tocando alto no carro e teria gritado:
— É Bolsonaro, seus filhos da puta. É o mito.
Foi depois de baterem boca, discutindo ideologia, que Marcelo jogou um punhado de terra com pedregulhos de um canteiro. A mulher de Guaranho, que estava no carro com um bebê, começou a chorar e pedir que fossem embora. O policial manobrou a camionete saiu dizendo que voltaria. Voltou depois, armado, atirou em Marcelo, que pegara a arma no carro minutos antes e revidou antes de morrer. Ferido, o atirador ainda levou pontapés de amigos do guarda municipal.
A delegada Camila Ceconello, chefe da Divisão de Homicídios, disse que é complicado falar que o crime foi premeditado:
— A primeira vez que ele vai ao local ele vai para provocar e falar da ideologia dele. Não foi com a intenção de efetuar disparos. Quando ele retorna, me parece mais movido pelo impulso do que algo premeditado.
“Me parece” soa como palpite, até porque o homem está em estado grave e não foi ouvido. Em outro trecho, a delegada repetiu:
— Parece mais uma coisa que acabou virando pessoal entre duas pessoas que discutiam por motivação política.