Síndrome de Dona Florinda
Classe média tem “Síndrome de Dona Florinda” e o problema não é de comunicação, diz jornalista
A Síndrome de Dona Florinda explica os pobres de direita, como os eleitores de Milei.
Fotomontagem
O jornalista Rogério Tomaz Jr. realizou críticas contra a disseminação de informações fraudulentas. Em seu texto, Tomaz expõe as “contradições” de parte da sociedade política da atualidade que geram pensamentos equivocados e tendenciosos. Um exemplo é o que ocorre nos EUA atualmente, que, apesar de apresentar melhora econômica, a gestão Biden ainda é fortemente criticada, servindo de palco para que Donald Trump ganhe mais força política.
Rogério Tomaz Jr.
Você já parou para refletir que todos os principais roteiristas, publicitários, escritores, atores, e intelectuais criativos argentinos de todas as áreas estavam contra Milei e mesmo assim ele ganhou com larga vantagem, inclusive na juventude.
Você sabia que o governo Biden tem o apoio deste mesmo time com o que de mais qualificado o mundo conhece de capacidade criativa, tecnologias inovadoras e ferramentas de comunicação modernas? Que a economia dos EUA está crescendo, gerando empregos e mesmo assim Trump é o favorito na eleição? Que a direita radical venceu na Holanda, na Itália, cresceu na Espanha, França e vai crescer em Portugal? Você acha mesmo que o problema deles é falta de criatividade ou não saber se comunicar?
O que está acontecendo no mundo e no Brasil é algo muito mais complexo e perigoso. Soluções fáceis tendem a minimizar os desafios e normalmente ajudam muito pouco.
Não vai ter golpe, Lula não será preso, Temer não chegará ao final do mandato, Bolsonaro não tem nenhuma chance de vencer, etc, etc. A vida provou que o furo era bem mais embaixo. Aprendemos e Lula venceu. Estamos no rumo certo e temos que aprender com os erros e trabalhar para que nosso governo se consolide e amplie o apoio na sociedade. 2023 foi o ano do plantio. A colheita começa em 2024.
Não, gente. A rejeição ao governo Lula não é “única e exclusivamente por deficiência em comunicação”, como disse um especialista em comunicação que até 2017 disseminava ódio e mentiras em escala industrial contra Lula, Dilma e o PT.
Quem dera se a dinâmica política se explicasse apenas pela disputa na comunicação. Quem fala isso, aliás, tem seríssimas limitações para compreender a realidade.
Segue um pequeno trecho de “Os engenheiros do caos”, de Giuliano da Empoli, que desmonta essa falácia:
“Qualquer um pode crer na verdade, enquanto acreditar no absurdo é uma real demonstração de lealdade – e que possui um uniforme, e um exército”.
“o jogo não consiste mais em unir as pessoas em torno de um denominador comum, mas, ao contrário, em inflamar as paixões do maior número possível de grupelhos para, em seguida, adicioná-los, mesmo à revelia. Para conquistar uma maioria, eles não vão convergir para o centro, e sim unir-se aos extremos”. (Os engenheiros do caos)
Nós vivemos no país cujas classes dominantes criaram uma a Lava Jato em plena “era da informação” e até hoje, com toneladas de evidências e provas da natureza mafiosa dessa operação, acreditam na honestidade do juiz corrupto e do procurador fanático. Como bem sintetizou Jessé Souza:
“O conluio entre Rede Globo, à frente da mídia venal, e a Operação Lava Jato conseguiu solapar as bases normativas da vida democrática, banalizando vazamentos ilegais e agredindo criminosamente a presunção de inocência. Quando se ataca o núcleo normativo da democracia e do direito, o que resta é a violência aberta. O êxito deste ataque pode ser medido na atual preferência de muitos, na massa da classe média e nas classes populares, pelo candidato fascista e antidemocrático”. (A classe média no espelho)
Nós vivemos num país onde MILHÕES de pessoas desprezam qualquer política pública que tenha por objetivo melhorar as condições de vida dos mais pobres (“bolsa família é esmola e fábrica de desocupados”). O sociólogo argentino Rafael Ton explicou isso a partir da célebre personagem Dona Florinda, do seriado Chaves. É a Síndrome da Dona Florinda (bem mais consistente do que o bordão simplista “pobre de direita”) , fenômeno particularmente comum na América Latina.
“Existe um setor de classe média que quando sobe seu padrão de vida, rapidamente, manifesta menosprezo para o resto de sua ‘vizinhança’ e fica irritada diante da possibilidade que o resto tenha oportunidades de progresso ou bem-estar”.
Vá tentar explicar a dezenas de milhares de pastores evangélicos ou padres católicos – que todos os dias contam mentiras sórdidas aos seus fiéis – que o Lula e o PT jamais defenderam o fechamento de igrejas, apenas pra citar uma das mentiras mais leves…
Vá tentar dialogar com pessoas que passam o dia sendo espalhando vídeos e “notícias” da JP, do Brasil Paralerdos, da Esgoto Oeste ou A Anta Agoniza…
Não existe comunicação que mude o caráter de gente assim, MUITO MENOS comunicação governamental e institucional. Infelizmente, essa turma tem muito dinheiro e nenhum escrúpulo. A guerra será longa. E não será com simplismos obtusos e lacradores que ela será vencida.
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