Sobre editorial do Estadão

Sobre editorial do Estadão

Jean Wyllys detona editorial do Estadão: “Pérola do cinismo e do complexo de vira-lata”

Jornal usou artigo de cientista social dos EUA para criticar "populismo" de Bolsonaro durante a pandemia. "Estadão é como Sergio Moro: finge não ser responsável pelo mal", escreveu Jean Wyllys

Por Plinio Teodoro    29 dez 2020 

Jean Wyllys, doutorando em Ciências Políticas e ex-deputado federal pelo PSOL, classificou o editorial do jornal O Estado de S.Paulo desta terça-feira (29) como “pérola do cinismo e do complexo de vira-lata” em publicação nas redes sociais.

No texto, que tem como título “Populismo e democracia na pandemia”, o jornal paulistano usa um artigo de Amy Erica Smith, professora de ciência política da Universidade Estadual de Iowa, para tecer críticas e dizer que, durante a pandemia, Jair Bolsonaro “fez o oposto do que lhe cabia fazer”. “E essa reação, mesmo com todas as limitações, é sempre um óbice aos populismos e autoritarismos”, diz o editorial.

“Recorrer ao artigo de Smith – para dizer o que deveria ser óbvio para qualquer jornal com alguma honestidade intelectual em relação a Bolsonaro e seu governo – faz, deste editorial, uma pérola do cinismo e do complexo de vira-lata”, escreveu Wyllys em seu Twitter.

Segundo o ex-parlamentar, que protagonizou embates históricos com o atual presidente, diagnósticos muito mais agudos e precisos da deriva fascista do governo Bolsonaro durante a pandemia foram feitos antes do dela por cientistas políticos brasileiros, e Estadão os ignorou solenemente.

Plinio Teodoro

Jornalista, editor de Política da Fórum, especialista em comunicação e relações humanas. 

https://revistaforum.com.br/midia/jean-wyllys-detona-editorial-do-estadao-perola-do-cinismo-e-do-complexo-de-vira-lata/ 

 

Populismo e democracia na pandemia

Na pandemia, o presidente Jair Bolsonaro fez o oposto do que lhe cabia fazer. Esse modo de agir suscitou a reação da sociedade

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

A edição brasileira de novembro do Journal of Democracy publica o artigo A cartilha populista brasileira, de Amy Erica Smith. Ao analisar os efeitos da pandemia e a reação do governo Bolsonaro sobre o funcionamento das instituições democráticas, a professora de ciência política da Universidade Estadual de Iowa apresenta reflexões pertinentes. A resposta do presidente Jair Bolsonaro à crise sanitária deixou muito a desejar, mas suas evidentes deficiências parecem ter contribuído para uma maior resistência de outras lideranças e para uma reação da sociedade civil.

“Apesar das consequências humanas trágicas e incomensuráveis da covid-19 no Brasil, a doença está provocando um impacto mais ambíguo na saúde da democracia do País”, diz Amy Erica Smith. “Ao evidenciar as fraquezas de Bolsonaro, a pandemia parece ter favorecido um movimento de resistência por parte de outros representantes eleitos.”

Segundo o artigo, “não é simplesmente que a incapacidade de Bolsonaro de conter o coronavírus fortalece o sistema de freios e contrapesos. Os acontecimentos dos últimos meses parecem ter revelado que algumas das ameaças de Bolsonaro eram vazias. (…) À luz desses não acontecimentos, o golpismo de Bolsonaro – ou seja, seu apoio ideológico aberto à intervenção militar – parece cada vez mais ser apenas jogo de cena, uma ameaça que ele faz como aceno a parte de sua base e intimidação da oposição”.

A respeito do comportamento de Bolsonaro na pandemia, a professora de Iowa diz: “Em vez de repressão autoritária, Bolsonaro escolheu uma estratégia mediada que acentua a polarização política e a ‘guerra cultural’ nas redes sociais. Seus objetivos são controlar a informação e promover uma narrativa alternativa da pandemia”.

Como exemplo, Amy Erica Smith cita a defesa que Jair Bolsonaro fez da hidroxicloroquina. “O objetivo de sua gestão ao promover o remédio não parece ser melhorar a saúde pública, mas encorajar os cidadãos a associar suas lealdades afetivas e identidades políticas ao processamento de informações, transformando o julgamento de fatos em questão de intuições e desejos subjetivos.”

Em vez de informar e oferecer orientações seguras para a população, o presidente Bolsonaro optou pela desinformação, politizando as questões. Até mesmo a competência constitucional relativa à saúde pública, compartilhada entre os entes da Federação, foi transformada por Jair Bolsonaro em embate de forças políticas. “Bolsonaro tratou a pandemia menos como uma crise de saúde pública e mais como um desafio de relações públicas”, diz o artigo.

Ao comentar a hostilidade presidencial às medidas de prevenção, que levou a um “tipo peculiar de crise de governança”, a professora de Iowa recorre ao conceito “carências do Executivo”, de David Pozen e Kim Lane Scheppele, em contraste com os “excessos do Executivo”, quando o presidente excede os limites legais às atribuições de seu cargo. Segundo o artigo, “no longo prazo, essa tendência poderá não prejudicar as eleições democráticas, mas afetará a capacidade dos cidadãos de monitorar e responsabilizar seus representantes eleitos”.

Entre os efeitos da pandemia, Amy Erica Smith destaca a reação da sociedade civil. “Sem apoio governamental efetivo, grupos locais em comunidades pobres tiveram que desenvolver redes de auxílio mútuo e regras informais sobre máscaras e isolamento social. A imprensa registrou um florescimento desse tipo de atividade entre associações de bairro, movimentos sociais, igrejas e até mesmo gangues”, diz. Mesmo rejeitando a ideia de uma idealização das instituições comunitárias, a professora de Iowa reconhece que “tais movimentos podem servir de apoio a uma forma de democracia local, participativa e não oficial”.

Na pandemia, Jair Bolsonaro fez o oposto do que lhe cabia fazer. Esse modo de agir suscitou a reação da sociedade. Melhor seria que o governo cumprisse seu papel, mas isso não impede de reconhecer que a sociedade reagiu. E essa reação, mesmo com todas as limitações, é sempre um óbice aos populismos e autoritarismos.

https://valeonnoticias.com.br/2020/12/29/populismo-e-democracia-na-pandemia/ 




ONLINE
42