Sobre setor ‘fascista’ do agronegócio
Posts distorcem fala de Lula ao JN sobre setor ‘fascista’ do agronegócio
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não chamou todo o agronegócio de “direitista” e “fascista” durante entrevista ao Jornal Nacional na quinta-feira (25), como tem sido dito nas redes sociais (veja aqui). As publicações omitem que o petista se referia a apenas parte do agronegócio, segundo ele empresários que não protegem o meio ambiente. O trecho compartilhado exclui a parte em que o candidato comenta que há pessoas “sérias” no setor que querem a preservação dos recursos naturais.
A declaração distorcida conta com ao menos 21 mil curtidas no Instagram, 170 mil interações no TikTok, 21 mil retuítes no Twitter e 10 mil compartilhamentos no Facebook nesta sexta (26). No Telegram, a desinformação foi compartilhada no canal do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), no qual contabiliza 12 mil visualizações.
Postagens nas redes sociais distorcem uma declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o agronegócio feita durante a entrevista de quinta-feira (25) ao Jornal Nacional para fazer crer que ele disse que todo o setor é “fascista e direitista”. O candidato à Presidência fazia referência a uma parcela dos empresários do campo, como é possível conferir no trecho completo.
Por volta de 35 minutos e 49 segundos, a apresentadora Renata Vasconcellos diz que a maneira como Lula fala do agronegócio faz parecer que o setor é contra o meio ambiente sustentável. O petista, então, discorda e diz que essa oposição é feita por um setor “fascista e direitista” do agronegócio. Na sequência, ele afirma que empresários “sérios” que exportam para o exterior não querem desmatar. Esse trecho não aparece nas peças.
Confira a transcrição na íntegra:
Renata: “Agora, antes da gente abordar um pouquinho mais sobre os sem-terra, é preciso fazer esse esclarecimento, porque, como o senhor colocou, parece que o setor do agronegócio, é, não tem a ver, é contrário, faz oposição ao meio ambiente, ao meio ambiente sustentável, que não é verdade.”
Lula: “Não faz não. Faz não. Você acabou de ver”
Renata: “Não deve fazer”
Lula: “Você…é…veja. O agronegócio fascista, sabe, que é fascista e direitista, porque os empresários sérios que trabalham no agronegócio, que têm comércio com o exterior, que exportam para a Europa, para a China, esses não querem desmatar, esses querem preservar os nossos rios, querem preservar as nossas águas, querem preservar as nossas faunas. Esses não. Mas você tem um monte que quer”
O áudio e a transcrição da entrevista de Lula estão disponíveis no Banco de Discursos do Aos Fatos.
O senador Flávio Bolsonaro compartilhou a desinformação em seu canal no Telegram. O Aos Fatos entrou em contato com o parlamentar, mas não obteve resposta.
Referências:
1. Aos Fatos (Fontes 1 e 2)
2. G1
3. Metrópoles
Redes de vídeos curtos permitem edições que desinformam a partir de conteúdo verdadeiro
Logo após a entrevista ao Jornal Nacional do candidato do PT à Presidência, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na noite de quinta-feira (25), um trecho cortado e tirado de contexto viralizou nas redes de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), atual presidente e candidato à reeleição.
Na íntegra, Lula responde a um questionamento sobre se ele considera que o agronegócio como um todo faz oposição ao meio ambiente. “Não faz, não. Você veja o agronegócio, sabe, que é fascista e direitista. Porque os empresários sérios, que trabalham no agronegócio, que têm comércio com o exterior, que exporta pra Europa, pra China, esses não querem desmatar”, disse o candidato.
Nas redes, contudo, circulam editados apenas os segundos em que ele diz que parte do setor é “fascista”, dando a entender que o petista se referia ao agronegócio como um todo. Uma dessas versões foi vista mais de 20 mil vezes no TikTok e replicada centenas de vezes no Twitter. Outra foi postada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em seu canal no Telegram, do qual se espalhou para outros grupos e canais.
Vídeos cortados como esse ou com outras edições para desinformar têm se tornado cada vez mais frequentes. Desde junho, o Aos Fatos desmentiu 53 vídeos editados que circularam nas redes sociais — média de quatro por semana —, que somaram milhões de visualizações em todas as plataformas.
As manipulações mais comuns foram edições simples, como a inserção de texto que descontextualiza as gravações. Esse recurso foi utilizado em 30 (56%) das postagens checadas por Aos Fatos desde junho.
- Em uma delas, que circulou durante a sabatina de Bolsonaro ao Jornal Nacional, bolsonaristas recuperaram um vídeo de 2018 em que o então candidato rezava com apoiadores e inseriram a legenda “antes da entrada do JN”, tirando as imagens de contexto.
Esse tipo de manipulação predomina em postagens de Facebook, uma vez que a inserção de texto é um dos únicos recursos de edição de vídeo disponíveis na plataforma, além de filtros de imagens.
Edições com níveis maiores de complexidade, como cortes (presentes em dez das checagens publicadas pelo Aos Fatos) e mudanças de áudio (desmentidos oito vezes), por sua vez, são mais comuns no TikTok e no Kwai. As duas redes de vídeos curtos chinesas permitem mixagens de conteúdo como junção de vídeos consecutivos, mudanças de áudio, alteração na velocidade das imagens e do som, filtros e textos, entre outras ferramentas.
- Na semana passada, um trecho de vídeo de comício de Lula em que a professora Marilena Chauí tira uma garrafa da mão do ex-presidente viralizou com uma legenda que diz que o petista estaria bêbado. A postagem, originada no TikTok, cortou trecho em que Chauí devolve a garrafa para o petista, depois de abri-la.
- No final de julho, circulou no Kwai vídeo de torcedores do Liverpool, time de futebol da Inglaterra que usa uniforme vermelho, sobreposto com uma música favorável a Lula. Na mesma semana, um áudio com xingamentos ao ex-presidente foi inserido em vídeo de bloco de Carnaval em São Paulo no TikTok.
O Radar Aos Fatos ainda identificou cinco checagens de vídeos que passaram por edições mais sofisticadas, como múltiplos cortes de áudio e alteração de imagem que exigem uso de programas de edição externos às plataformas. Entre elas, está vídeo com imagens do Jornal Nacional mostrando Jair Bolsonaro à frente das pesquisas.
Na publicação falsa, que foi uma das mais compartilhadas naquela semana, foram alteradas a voz da jornalista Renata Vasconcellos e a imagem exibida na tela. Apesar de a peça de desinformação apresentar um nível de sofisticação maior que a média, não se trata de um deepfake, versão que circulou em algumas explicações sobre o conteúdo. A voz da apresentadora é verdadeira, mas foi cortada e recortada para mudar o sentido das palavras ditas.
METODOLOGIA
O Radar Aos Fatos levantou todas as checagens que envolviam edição de vídeo feitas pelo Aos Fatos entre 1º de junho e 26 de agosto de 2022. Depois, analisou que tipo de manipulação foi feita, qual o tema da peça desinformativa e qual foi a principal rede em que o conteúdo circulou.
Referências: